sábado, dezembro 29, 2012

Comentários Eleison: Alerta de Cultura



 
“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –

Número CCLXXXV (285) – 29 de dezembro de 2012


ALERTA DE CULTURA



Como a liderança da Fraternidade Sacerdotal São Pio X parece estar vacilante, então os católicos que amam a Fraternidade por ter recebido muito dela em anos passados poderiam estar tentados a pensar que não há muito o que eles, como simples fiéis, pudessem fazer quanto a isso. Eles estão enganados. Ao deixar que leiam estas reflexões de um amigo meu, deverão ser capazes de ler nas entrelinhas que, se Deus não resgatar a Fraternidade para eles, como é claro que Ele poderia fazer, então isto ao menos em parte depende deles. A carta do meu amigo está adaptada aqui abaixo:
“Um acordo prático poderia ser ruinoso para a causa da Tradição Católica. Basta olhar para o que aconteceu com os Redentoristas tradicionais na Escócia... As duas Missas não podem coexistir. Uma sempre excluirá a outra... Em uma Missa Novus Ordo a que eu assisti recentemente, toda a igreja estava permeada por conversas e palmas contínuas... Os dois lados são simplesmente demasiado distantes para um acordo funcionar. Nenhum consenso é possível entre modernidade e Tradição.
Ademais, há a profunda revolução que tem dominado a civilização moderna, incluindo o movimento tradicional, e que tem sido quase totalmente esquecida pela liderança da Tradição... A Tecnologia Eletrônica tem operado uma revolução cultural em nossa vida, especialmente na geração mais jovem. Se não é gerida de forma adequada, certamente enfraquece a fé, porque pode tomar a vida inteira das pessoas. Os jovens são suscetíveis de ser capturados por ela. Eles passam o dia inteiro nisso. Pessoas muito envolvidas nisso se tornam disfuncionais, incapazes de se levantar de manhã, ou de manter uma conversa ao vivo, ou de manter um emprego.
Agora, se um time de futebol não é admoestado por seu treinador, seus esquemas de jogo começam a cair. Se os católicos não são admoestados sobre questões culturais como a música, o vestuário da mulher, ou sobre assistir televisão, seus padrões culturais começam a cair, o que traz profundas implicações para a sua fé. Pais tradicionais estão sendo deixados a lutar sozinhos com sua família para manter o mundanismo da sociedade moderna fora de suas casas, porque a liderança da FSSPX ou esqueceu essa revolução cultural, ou não está dando a atenção que ela merece. Eu tive longas discussões com as famílias tradicionais que estão preocupadas com a maneira como o movimento tradicional está indo. Movimentos religiosos devem tomar uma posição sobre questões culturais para que possam florescer. A Tradição estava fortalecida quando costumava tomar uma posição sobre a televisão. Mas, se uma posição não é tomada sobre questões culturais, a posição em assuntos doutrinários logo começa a enfraquecer.
O último Capítulo da FSSPX pode ter puxado a organização de volta da beira, mas eu não fiquei muito confortável com isso. Ela deu muita atenção à definição dos parâmetros de quaisquer futuras discussões com Roma para fazer um acordo. No entanto, Roma está basicamente inalterada desde 1988. Em minha opinião, a FSSPX precisa recuperar o papel profético que desempenhava quando o Arcebispo Lefebvre ainda estava vivo. O movimento tradicional precisa fortemente denunciar o modernismo e o liberalismo que estão levando a Igreja Católica à sua destruição. Essas denúncias ultimamente têm sido silenciadas. Talvez muitos sacerdotes tradicionais estejam distraídos com os confortos que eles acham que um acordo com a Roma poderia trazer para eles.”
Quanto a vocês, caros leitores, fora com a música inútil e sem valor em casa. Livrem-se do aparelho de televisão. Reduzam o uso de eletrônicos a um mínimo. Mães, usem saias sempre que possível, o que é a maior parte do tempo. Caso contrário, não se queixem se Deus não salvar a Fraternidade. Ele não força seus dons a ninguém. Bendito seja o Seu nome para sempre.

Kyrie eleison.

sábado, dezembro 22, 2012

Comentários Eleison: Cristo nasceu



“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –
Número CCLXXXIV (284) – 22 de dezembro de 2012

CRISTO NASCEU


O apelo do bebê divino nos braços de sua Virgem Mãe ainda faz do Natal a mais popular das festas cristãs, mas como o mundo se afasta de Deus, então o coração e a alma do Presépio vêm esmaecendo, e os sentimentos natalinos” tornando-se mais e mais falsos. A Cristandade está realmente exaurida. É tempo de voltar atrás com a liturgia da Mãe Igreja para as épocas antes de Cristo, quando os homens sábios se alegravam intensamente com a expectativa da Sua vinda. Para eles só isso fazia sentido em meio à infelicidade da humanidade sendo devastada pelas consequências do pecado original. Era a sua grande esperança, e não poderia ser abalada. O Cristo viria, e com Ele as portas do Céu seriam abertas mais uma vez para as almas de boa vontade. Aqui estão as antífonas do quarto domingo do Advento, compostas a partir de textos do Antigo Testamento:

Tocai a trombeta em Sião, porque o dia do Senhor está próximo. Eis que Ele virá para nos salvar, aleluia, aleluia”. Se os homens não quiserem ser salvos, então eles dificilmente poderão compreender para quê eles nasceram, e eles deverão morrer em um maior ou menor grau de desespero. Mas, se quisermos ser felizes por toda a eternidade, e se sabemos que Jesus Cristo torna isso possível, então como devemos nos regozijar porque Ele veio!

Eis que o desejado de todas as nações virá, e a casa do Senhor será cheia de glória aleluia.” Como o pecado original é universal, então os Magos vieram de terras estranhas e distantes para adorar o Salvador em Belém, e eles poderiam ter vindo de todas as nações do mundo ansiando por Ele. Desde aquela época os cristãos têm de fato vindo de todas as nações para encontrar seu Salvador na Sua Igreja Católica, e eles têm sido preenchidos com a glória de belas cerimônias, edifícios, paramentos, arte e música, desde então.

O torto deve ser endireitado, e os caminhos ásperos suavizados: Vinde, Senhor, e não demore”. Quatro mil anos depois da Queda de Adão e Eva, o mundo tornou-se muito torto. Dois mil anos atrás, a mais surpreendente transformação da humanidade começou com o nascimento de Nosso Senhor. Durante séculos tivemos como certo que os caminhos suaves da civilização permaneceriam suaves, mas com Cristo sendo rejeitado pelos homens esses caminhos estão se tornando mais ásperos do que nunca - veja qualquer jornal de hoje. Vem, ó Senhor, volte, e não demore, porque senão nos devoraremos uns aos outros como animais selvagens.

O Senhor vai chegar, vá ao seu encontro, dizendo: “Grande nascimento, e Seu reino não terá fim: Deus, Poderoso, Senhor de todos, Príncipe da Paz, aleluia, aleluia”. Talvez os Reis Magos tenham saudado o Menino Jesus com tais palavras, quando após longas viagens, o encontraram. Convertidos de hoje, depois de longas agonias nos desertos da impiedade, ainda podem encontrar palavras semelhantes para lembrar-nos de como a criança no berço deve ser saudada. Sem Ele o mundo não pode ter paz, e está à beira de outra guerra terrível. Criança Divina, venha, não demore, ou pereceremos.

“Vossa Palavra Todo-poderosa, Senhor, vai saltar do teu trono real, aleluia. O Natal é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade descendo lá do Céu, sendo revestida de uma natureza humana e frágil nascida de uma mãe humana para comprar-nos de volta da escravidão ao Diabo e voltar a abrir as portas do Céu para as almas de boa vontade, prontas para acreditar. Criança Divina, eu acredito. Curai-me de minha incredulidade, e ajudai com graças especiais na Festa de Seu nascimento a milhões e milhões de almas descrentes.
                                                                                                                  Kyrie eleison.

domingo, dezembro 16, 2012

Comentários Eleison: Adeus, Wimbledon

 
“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –
Número CCLXXXIII (283) – 15 de dezembro de 2012

ADEUS, WIMBLEDON


Então, eu me mudei de Wimbledon, o que pelo menos corresponde à realidade da minha suposta "expulsão" da Fraternidade São Pio X. Mas a mudança não acontece sem tristeza, porque passei quase quatro anos lá depois da minha expulsão real da Argentina, e foram anos felizes, apesar de tudo. Talvez a felicidade principal tenha sido a companhia dos sacerdotes na sede da FSSPX na Inglaterra, a Saint George’s House. Eles têm sido muito boa companhia. Que Deus abençoe a cada um deles.

No entanto, uma coisa eu preciso dizer. As pessoas perguntam por que eu saí da Fraternidade. Eu não saí da Fraternidade. A Fraternidade me deixou, por ter abandonando os princípios pelos quais eu aderi a ela. Mais uma vez, o paralelo com o Concílio Vaticano II é exato. Assim como inúmeros padres católicos, religiosos e leigos foram abandonados pelos clérigos que optaram em 1960 pelo Concílio, um número de sacerdotes fiéis e leigos estão sendo abandonados na década de 2010 pelos líderes da Fraternidade, já que estes optaram por conduzi-los até a paz com seus "novos amigos em Roma" - citação do Primeiro Assistente da Fraternidade. A cegueira é chocante, para aqueles que conseguem ver. Eu acredito que esses líderes nunca tenham entendido ao visão do Arcebispo Lefebvre. Eles são frutos de sua época.

A única razão substancial dada por terem "expulsado" a mim foi a desobediência. Mas a única desobediência substancial da minha parte foi a recusa reiterada de fechar estes "Comentários Eleison". No entanto, quando eu perguntei ao Superior Geral em duas ocasiões diferentes para especificar que números precisos dos "Comentários" eram tão problemáticos, ele não me deu resposta em nenhuma das vezes, sem dúvida, porque ele teria que admitir que o problema real foi sobre o conteúdo, ou seja, a minha oposição resoluta à sua suicida aproximação da Roma Conciliar. Em vez disso, ele continua a fingir que o problema é de disciplina, desviando assim a atenção do verdadeiro problema. E eu não sou o primeiro sacerdote e não serei o último que ele trata desta maneira. Que Deus o ilumine. Ele corre o risco de perseguir a muitos de seus verdadeiros amigos, a fim de agradar a seus verdadeiros inimigos, assim como o Papa Paulo VI fez com o Arcebispo Lefebvre. Os paralelos nunca acabam. A Neo Igreja e a Neo Fraternidade são o mesmo mal de nossa época.

E agora? Eu tomei emprestado o apartamento de um amigo nas proximidades de Londres por algumas semanas, na melhor das hipóteses, ou por alguns meses, na pior das hipóteses, até que eu possa encontrar um imóvel adequado para alugar por 6 ou 12 meses. Nesse ponto, eu ainda não acredito em fazer quaisquer arranjos permanentes. Infelizmente não será fácil entrar em contato comigo porque meu amigo tem que ser discreto com seus vizinhos. Em qualquer caso, o correio tradicional vai chegar a mim através da P.O. Box 423, Deal CT14 4BF, England. (mas, por favor, não enviem cartões de Natal. Eu não envio nenhum). De 13 de dezembro a 3 de janeiro eu pretendo fazer uma visita apostólica ao Canadá e aos EUA, Deo volente, e imediatamente depois disso uma visita à França para a Festa da Epifania.

Também serão mudados alguns aspectos do modo como são publicadas as minhas palavras faladas e escritas. O formato e o método de entrega dos "Comentários Eleison" poderão mudar também, mas o que eu espero não mudar é a sua publicação todos os sábados durante o mês de dezembro e o Ano Novo. Obrigado por todas as suas contribuições para a Iniciativa St. Marcel. Em caso de vocês estarem preocupados, eu posso prometer-lhes que não foram desviadas. Feliz Natal.

Kyrie eleison

sábado, dezembro 08, 2012

Comentários Eleison: Uma Explicação?

“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –
 
Número CCLXXXII (282) – 08 de dezembro de 2012

 
UMA EXPLICAÇÃO?


Um conhecido da Fraternidade São Pio X enviou-me recentemente uma cópia distribuída aos Superiores da FSSPX pelo Quartel General da FSSPX (QG) de uma explicação oficial de cinco possíveis observações preocupantes do Superior Geral da Fraternidade São Pio X (SG), e essa pessoa pediu a minha opinião. Sinceramente, acho que os superiores da FSSPX ainda devem estar tão perturbados quanto estavam antes. Muito resumidamente, aqui está o porquê:

Em primeiro lugar, na Áustria, em maio, o SG disse que a FSSPX precisava repensar suas relações com Roma. O QG explica que isso não era uma mudança de posição da FSSPX sobre a Nova Roma, mas apenas um chamado aos membros da FSSPX para reconhecer que nem tudo o que é dito pelos Novos Romanos é um absurdo. No entanto, os padres que ouviram as palavras originais na Áustria entenderam que o SG quis dizer o mesmo que o que ele havia escrito na revista da Sociedade de março passado (Cor Unum), ou seja, que a "nova situação" na Igreja "requer que nós tomemos uma nova posição em relação à Igreja oficial", porque desde 2006 "temos assistido a um desenvolvimento na Igreja". Será que o QG tem uma explicação para estas palavras escritas pelo SG?

Em segundo lugar, na mesma ocasião foi dito que o SG disse que o potencial acordo com Roma significaria que cada capela com menos de três anos seria derrubada. O QG explica que na verdade o SG disse que onde a FSSPX tinha rezado a Missa por mais de três anos, uma capela poderia ser criada. No entanto, o SG disse também que onde quer que a FSSPX tenha ministrado por menos de três anos, poderia continuar o seu ministério em privado, o que implica que todos os edifícios públicos devem ser abandonados.

Em terceiro lugar, no Catholic News Service, também em maio, o SG falou da liberdade religiosa sendo "muito, muito limitada". O QG explica que o SG estava falando da "verdadeira liberdade religiosa", isto é, a que a Igreja sempre ensinou, a saber, o direito limitado à religião católica. No entanto as palavras originais do SG no CNS são tão claras quanto podem ser, e verificáveis por qualquer pessoa com acesso à Internet: "O Concílio estava apresentando uma liberdade religiosa, que era na verdade muito, muito limitada - muito limitada." O QG precisa fornecer aqui uma segunda explicação para provar que a sua primeira explicação não era, na melhor das hipóteses, um erro?

Em quarto lugar, em Ecône, em setembro, o SG admitiu que estava errado em suas relações com Roma. O QG explica que o erro foi apenas em um "ponto muito preciso e limitado", isto é, se o Papa iria insistir ou não para a FSSPX aceitar o Concílio. No entanto, a insistência sobre o Concílio (junto com a Missa Nova) é todo o pomo da discórdia entre a FSSPX e a Nova Roma. Esta explicação do QG não é como dizer que o corte feito pelo iceberg na lateral do Titanic foi um corte muito preciso e limitado?

Em quinto lugar, anos atrás o SG disse que os textos do Concílio são "95% aceitáveis”. O QG explica que ele estava falando da letra e não do espírito dos textos. No entanto, qual mãe vai dar aos seus filhos qualquer parte de um bolo que ela sabe estar 5% envenenado? É verdade que ela poderia, em teoria, dar-lhes qualquer parte dos 95% não envenenados, mas na prática, será que ela não teria medo do espírito do envenenamento por trás de todas as partes do bolo?

Concluindo, a crise da FSSPX desta primavera e verão me fez pensar sobre a competência e honestidade do SG e seu QG, e temo que depois desta explicação de cinco citações eu ainda permaneça pensativo. Que Deus esteja com eles, porque eles têm uma responsabilidade assustadora.

Kyrie eleison.

domingo, dezembro 02, 2012

Comentários Eleison: Várias "Igrejas"



“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson – 
Número CCLXXXI (281) – 01 de dezembro de 2012


VÁRIAS “IGREJAS”



Muita confusão reina hoje sobre a identidade da verdadeira Igreja de Nosso Senhor aqui na Terra, e sobre a variedade de nomes pelos quais ela pode ser chamada. Com certeza a maior parte da presente confusão vem do maior problema da Igreja de hoje, que é o diabólico Concílio Vaticano II (1962-1965). Vamos tentar deslindar algumas das confusões.
“Church” [Igreja] deriva do Inglês Antigo “Cirice”, derivando por sua vez da palavra grega “kuriakon”, que significa “do Senhor”. Assim, “Doma kuriakon” significava “casa do Senhor”, e do nome da construção, “church” passou a significar também as pessoas que se encontravam regularmente no edifício.
Igreja “Católica” nomeia mais que o edifício, mas, principalmente, o grupo mundial de pessoas (“katholos” em grego significa “universal”) que partilham uma só Fé, um conjunto de sacramentos e uma Hierarquia, todos três tendo sido estabelecidos pelo Deus encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua vida na Terra há dois mil anos. Mas a partir deste grupo original de crentes, ainda que estabelecido por Nosso Senhor, outros grupos têm regularmente se separado, enquanto continuam alegando ser a verdadeira Igreja de Cristo. Como então eu vou saber qual é a sua verdadeira Igreja?
A “Igreja de Cristo” tem quatro Marcas, como são chamadas. 1 Una - acima de tudo pela unidade da Fé, Nosso Senhor quis unir a sua Igreja, e não fundar muitas igrejas (cf. Jo XVII, 21-23: “Que todos sejam um”.). 2 Santa - Nosso Senhor fundou a sua Igreja para trazer os homens para o Deus Santíssimo e seu santo Céu (cf. Mt V, 48: “Sede perfeitos”.). 3 Católica - Nosso Senhor fundou a sua Igreja para todos os homens de todos os países e de todas as épocas (cf. Mt XXVIII, 19: “Ide, ensinai todas as nações”.). 4 Apostólica - Nosso Senhor fundou a Sua Igreja como uma monarquia a ser governada pelo Apóstolo Pedro e seus sucessores (cf. Mt XVI, 18: “Tu és Pedro e sobre esta pedra (em grego “petran”) eu fundarei a minha Igreja”). Onde quer que essas quatro marcas estejam, aí está a verdadeira Igreja de Cristo. Onde quer que elas faltem, não há Igreja de Cristo.
 “Igreja Conciliar” significa que a Igreja Católica centrada em Deus caiu e continua caindo sob a influência do homem centrado no Concílio Vaticano II. O Conciliarismo (o erro destilado do Vaticano II) tem a mesma relação com a verdadeira Igreja de Cristo quanto a podridão de uma maçã podre tem com a maçã que está apodrecendo. Assim como a podridão ocupa a maçã, ela depende da maçã, não pode existir sem a maçã, mas é bem diferente da maçã (como não comestível é diferente de comestível), então o Conciliarismo centrado no homem ocupa tanto a Igreja de Cristo que pouco resta da Igreja que não esteja mais ou menos podre, e o Conciliarismo é tão diferente do Catolicismo que se pode verdadeiramente dizer que a Igreja Conciliar não é a Igreja Católica. Mas a Igreja Católica é visível. A Igreja Conciliar também não é visível?
“Igreja visível”: são todos as edificações, membros oficiais e demais pessoas da Igreja que podemos ver com nossos olhos. Mas dizer que a Igreja Católica é visível, por isso a Igreja visível é a Igreja Católica, é tão tolo quanto dizer que todos os leões são animais, logo todos os animais são leões. Aquela parte da Igreja visível é Católica, a que é una, santa, universal e apostólica. O resto são vários tipos de podridão.
“Igreja oficial” significa a Igreja sendo conduzida e seguida por seus membros oficiais visíveis. Uma vez que estes hoje são predominantemente conciliares, então a “Igreja oficial” é em grande parte Conciliar e não católica, de acordo com as quatro marcas. Da mesma forma, “Igreja Mainstream” significa a Igreja oficial de hoje, em oposição à “Tradicionalista” remanescente. No entanto, ninguém pode dizer que nada há de uno, santo, universal ou apostólico restando na Igreja mainstream, e mais do que tudo na “Tradicionalista”, que permanece manifestando as quatro marcas. Trigo e joio estão sempre misturados na Igreja de Cristo (cf. Mt. XIII, 24-30).

Kyrie eleison

sábado, novembro 24, 2012

Comentários Eleison: Ditadura Iminente


“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson – 
Número CCLXXX (280) - 24 de novembro de 2012

DITADURA IMINENTE

Um maravilhoso retrato do nosso mundo contemporâneo apareceu há algumas semanas no site da Internet, 321gold. O título é atemorizante: "Declínio, Decadência, Negação, Ilusão e Desespero", mas o conteúdo certamente reflete a realidade. A partir de uma cena de rua que pode ser encontrada sem dúvida por todo o leste dos Estados Unidos, ele conclui que dentro de 15 anos uma ditadura orwelliana descerá sobre seu país como um efeito indesejado de causas desejadas. Mas o que acontece nos EUA não é típico do que acontece no mundo inteiro? O mundo inteiro está comprando o modo de vida americano. "A responsabilidade é do comprador"[1]!

Este Outono, nas ruas de Wildwood, New Jersey, o autor observou calçamentos sobrecarregados de homens tremendamente obesos e mulheres com menos de 50 anos de idade circulando pela cidade com lambretas subsidiadas pelo governo a visitar um fast-food atrás do outro, a fim de se empanturrarem com guloseimas repletas de açúcar que deveriam dar aos seus mais novos modelos de lambretas mais trabalho do que nunca. Um nome divertido para eles? – "Os deficientes desafiados pelo peso[2] em seus poderosos veículos de mobilidade aprimorada". Assim é a fuga da realidade do "politicamente correto" e sua linguagem.

O autor procura causas para esse efeito tragicômico: como pode o povo americano, que antes poupava 12% de sua renda, ter sido persuadido a assombrar as estatísticas de obesidade para além dos limites dos gráficos, com um endividamento, e com um estilo de vida saturado de açúcar, sem fazer mais economias e com uma carga insuportável de dívida sendo legada aos seus filhos e netos? É claro que há uma falta de autocontrole de suas partes, ele diz, mas deve haver algo mais sinistro, alguma mente por trás de uma cena tão estúpida. Ele diz que a massa de cidadãos está sendo manipulada por um governo invisível que tem dominado as modernas técnicas de manipulação de massas.

Ele cita um pioneiro dentre os especialistas nessas técnicas da década de 1920, Edward Bernays: "A manipulação consciente e inteligente das massas é um elemento importante na sociedade democrática... Um vasto número de seres humanos deve cooperar desta forma se eles têm de viver juntos como uma sociedade em bom funcionamento... Se na política, conduta empresarial, social ou pensamento ético, somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas... que entendem os processos mentais e os padrões sociais das massas." Eles são "o verdadeiro poder instituído do país" e eles "puxam os fios que controlam a mente do público." Por qual propósito? Para sua própria riqueza e poder.

São eles que têm organizado a crise financeira e econômica de hoje para seu próprio benefício. Eles têm "destruído a economia mundial... jogado a sua dívida inútil nas costas dos contribuintes e das gerações ainda por nascer, empurrado cidadãos idosos e poupadores na frente do ônibus ao roubar US$ 400 bilhões por ano de juros do  interesse deles, e enriquecido a si mesmos com lucros obtidos com a bolha financeira, e pagamentos de bônus." E quando a tomada tiver de ser puxada deste modo de vida insustentável, então nossos mestres invisíveis tem preparado para nós uma "ditadura de lágrimas" ao modo 1984, com a polícia militarizada com milhões de balas, câmeras de vigilância e drones em toda parte, prisões sem acusações, e assim por diante. No entanto, diz o autor, a culpa é dos próprios cidadãos que têm preferido a ignorância à verdade, a doença à saúde, as mentiras da mídia ao pensamento crítico, a segurança à liberdade.

Há apenas uma coisa que falta a essa análise admirável: poderia a nossa elite ter corrido de modo tão desenfreado, ou nossas massas terem se tornado tão burras, se tanto uma quanto a outra tivesse guardado o menor sentido de um Deus que nos julga a todos ao morrermos, de acordo com os Dez Mandamentos? Claro que não. Católicos, acordem!

Kyrie eleison.

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Notas da tradução:
[1] Original em inglês: “Let the buyer beware” – tradução da expressão latina: “caveat emptor”, utilizada quando um vendedor não assume responsabilidade pela qualidade de determinado produto que pôs à venda.
[2] Original em inglês: “weight-challenged” (termo politicamente correto para “obeso”) disabled (em possível menção à obesidade mórbida, em inglês, “fat disabled”).

sábado, novembro 17, 2012

Comentários Eleison: Problema Profundo




“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson – 
Número CCLXXIX (279) - 17 de novembro de 2012
  
PROBLEMA PROFUNDO
  
Muitos católicos não entendem a profundidade do problema provocado pela Revolução Conciliar do Vaticano II (1962-1965) na Igreja Católica. Se eles conhecessem mais a história da Igreja, poderiam ser menos tentados tanto pelo liberalismo, a pensarem que o Concílio não foi assim tão ruim; quanto pelo “sedevacantismo”, a pensarem que as autoridades da Igreja não são mais as suas autoridades. Nosso Senhor questionou a autoridade religiosa de Caifás ou a autoridade civil de Pôncio Pilatos?
O problema é profundo porque está enterrado sob séculos e séculos de história da Igreja. Quando, no início dos anos de 1400, São Vicente Ferrer (1357-1419) pregou em toda a Europa que o fim do mundo estava próximo, como nós hoje sabemos, isso se estenderia por mais de 600 anos. No entanto, Deus confirmou sua pregação concedendo milhares de milagres e milhares e milhares de conversões. Deus estava confirmando uma mentira? Nem pensar! A verdade é que o santo estava discernindo corretamente, implícita na decadência do fim da Idade Média, a corrupção explícita e quase total dos nossos próprios tempos, o ensaio geral para a corrupção total do fim do mundo.
Era apenas questão de tempo, o tempo próprio de Deus, vários séculos para que a corrupção implícita se tornasse explícita, porque Deus escolheu levantar Santos em intervalos regulares para retardar o declínio, notavelmente a safra dos Santos famosos que conduziu a Contrarreforma no século XVI. No entanto, Ele não tiraria o livre-arbítrio dos homens, de modo que se eles optaram por não ficar nas alturas da Idade Média, Ele não iria forçá-los a ficar. Em vez disso, Ele permitiu que a sua Igreja, pelo menos em certa medida, se adaptasse à época, porque ela existe para salvar almas presentes e não glórias passadas.
Dois exemplos podem ser a teologia molinista, feita necessária por causa de Lutero e Calvino para garantir a proteção do livre-arbítrio; e a Concordata de 1801, tornada necessária pelo Estado revolucionário para permitir que a Igreja funcionasse totalmente em público. Agora, tanto o molinismo quanto a Concordata foram compromissos com o mundo do seu tempo, mas ambos permitiram que muitas almas fossem salvas, enquanto a Igreja não permitiu que fossem minados os princípios que permaneceram sagrados: o de Deus como Ato Puro, e o de Cristo como o Rei da Sociedade, respectivamente. No entanto, ambos os compromissos permitiram certa humanização da Igreja divina e contribuíram para uma secularização gradual da cristandade. Compromissos têm consequências.
Assim, se um lento processo de humanização e secularização estava avançando muito nesse mundo de onde somente os homens e as mulheres são chamados por Deus para servir na sua Igreja, estes dificilmente poderiam começar seu serviço sem uma forte dose de liberalismo radioativo em seus ossos, pedindo um antídoto vigoroso em sua formação religiosa. Naturalmente eles poderiam compartilhar a convicção instintiva de quase todos os seus contemporâneos de que os princípios e os ideais revolucionários do mundo de onde vinham eram normais, enquanto que a sua formação religiosa oposta àquele mundo podia parecer piedosa, mas fundamentalmente anormal. Esses clérigos e freiras poderiam ser um desastre esperando para acontecer. Esse desastre aconteceu em meados do século XX. Uma grande parte dos 2000 bispos católicos do mundo se alegrou em vez de se revoltar quando João XXIII deixou claro que ele estava abandonando a Igreja antimoderna.
Então ninguém que quer salvar sua alma deve seguir a eles ou aos seus sucessores. Mas, por outro lado, os últimos estão tão convencidos de que eles são normais em relação aos tempos modernos que eles não são tão culpados quanto teriam sido em épocas anteriores por destruir a Igreja de Cristo. Bem-aventuradas são as almas católicas que podem abominar os seus erros, mas continua honrando o seu ofício.

Kyrie eleison.

sábado, novembro 10, 2012

Comentários Eleison: Marcellus Initiative

“Comentários Eleison” por Mons. Williamson – 
Número CCLXXVIII (278) - 10 de novembro de 2012


MARCELLUS INITIATIVE
 

Após a apresentação da semana passada dos detalhes da Marcellus Initiative que visou facilitar as doações para a causa de um bispo “expulso”, alguns leitores perguntaram razoavelmente sobre o que é essa Iniciativa. Para começar, isso vai cobrir as despesas pessoais da mudança de Wimbledon, talvez para fora de Londres, a fim de então ir viver em outro lugar. Além dessas despesas, a palavra “Iniciativa” foi escolhida deliberadamente para deixar opções em aberto. No entanto, é importante que ninguém pense que essas doações serão para em breve arranjar um substituto para a Fraternidade São Pio X ou para substituir um seminário. Há boas razões para não apressar nenhum dos dois.

Para uma alternativa à FSSPX, nós devemos aprender as lições a serem tiradas dessa severa crise. A Igreja Católica funciona na base da autoridade, do Papa para baixo, mas nosso mundo Revolucionário tem quebrado atualmente o senso natural de autoridade do homem de tal forma que poucos sabem como comandar, e a maioria dos homens obedecem ou muito pouco ou demais. Nós temos, por assim dizer, ficado sem o bom senso popular que permitiu que a autoridade Católica funcionasse. Então como somente Deus pôde estabelecer a autoridade de Moisés pelo sensacional castigo dos rebeldes (Números XVI), então em nossa época com certeza somente Deus pode restaurar a autoridade do Papa. Será através de uma “chuva de fogo”, tal como Nossa Senhora de Akita profetizou no Japão em 1973? Seja como for, oasis de Fé permanecerão como uma possibilidade imediata e prática, e eu irei fazer o melhor que puder para servi-los.

Argumentos similares podem ser aplicados para o reinício de um clássico seminário Católico. Ninguém pode fazer tijolos sem palha, diz o velho provérbio. É cada vez mais difícil produzir sacerdotes Católicos de nossos jovens homens modernos, penso eu. Qualidades sobrenaturais de fé, boa vontade e piedade percorrem um longo caminho, mas a graça constrói na natureza, e os fundamentos naturais, tais como um lar sólido e uma verdadeira educação humana, estão cada vez mais em falta. Claro que ainda existem algumas boas famílias onde os pais entenderam o que sua religião requer deles para colocar suas crianças no caminho para o Céu, e onde eles estão fazendo o seu melhor heroicamente. Mas nosso mundo pervertido é armado para destruir todo bom senso e decência natural, de gênero, família e país. Com a melhor boa vontade, as crianças do ambiente social de hoje permanecem em geral mais ou menos severamente incapacitadas quando se trata de perceber ou seguir um chamado de Deus.

Isso quer dizer que Deus desistiu de Sua Igreja, ou que Ele pretende nos deixar sem sacerdotes para amanhã? Claro que não. Mas isso significa que nenhuma organização Católica arrumada amanhã para salvar almas pode se permitir deixar de enxergar a natureza destruidora de almas da Igreja Conciliar e do mundo moderno. Isso significa que sacerdotes não poderão ser formados amanhã para adquirir um perfeito conhecimento da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino enquanto tiverem pouca ou nenhuma ideia de como ela se aplica na vida real hoje.

De qualquer forma as congregações e seminários de amanhã devem se manter agarrados na realidade, e não se perderem em sonhos sobre quão “normais” eles são ou precisam ser. Isso pode ser feito? Com a ajuda de Deus, sim. Mas Deus é Deus, e para a salvação de almas, amanhã pode ser que Ele não recorra mais aos clássicos seminários ou congregações de ontem. Por mim, eu devo tentar seguir Sua Providência na ordenação de sacerdotes ou – na consagração de bispos. Que seja feita a vontade de Deus.



Kyrie eleison.




sábado, novembro 03, 2012

Comentários Eleison: E Agora?



“Comentários Eleison” por Mons. Williamson – 
Número CCLXXVII (277) - 3 de novembro de 2012



E AGORA?

As notícias da semana passada sobre a expulsão de um dos quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X proporcionaram um grande número de e-mails de apoio e incentivo. A cada um de vocês, muito obrigado. Tal divisão grave entre os bispos da Fraternidade é uma grande vergonha, mas Deus tem seus motivos para permitir que isso aconteça. E é óbvio que muitos de vocês entendem que a Fé vem antes da unidade. Não a divisão, mas a perda da Fé é o mal supremo (I Cor., XI, 19; I Jo., II, 19). Quanto à forma como irá desdobrar-se a guerra titânica entre os amigos e inimigos da Fé, eu mesmo posso ver, nesse momento, apenas as linhas gerais. Deixem-me recorrer às três citações favoritas do Arcebispo Lefebvre, que acho que se aplicam ainda hoje.
Em primeiro lugar: “Devemos seguir a Providência, e não tentar guiá-la”. Se é verdade que “a caridade tudo espera” (I Cor., XIII, 7), então ainda pode dar-se algum tempo à Fraternidade para acertar-se antes que seja reduzida a mais um grupo tradicional que passou para o lado inimigo. É por isso que eu disse na semana passada que os padres da FSSPX podem recolher-se temporariamente e observar o modo como as coisas irão desenrolar-se, enquanto os leigos podem continuar a frequentar as Missas da Fraternidade; mas ambos devem tomar cuidado (Mt., XXVI, 41) com contradições na doutrina, com o afrouxamento da moral. A tentação será a preferência pelo conforto e pela rotina em lugar das dificuldades e da insurreição, como fizeram milhares de sacerdotes e milhões de leigos após o Vaticano II, de modo que acabaram por perder a Fé. Temos o direito de esperar que a Providência nos mostre qual é o caminho a seguir. Não temos o direito de perder a Fé.
Em segundo lugar, “O tempo não respeita nada feito sem ele”. Em outras palavras, é preciso tempo para construir algo sólido. Podemos estar com pressa, mas Deus não. O Arcebispo levou seu tempo para construir a Fraternidade. O Vaticano II concluiu sua diabrura em 1965. Somente 11 anos depois é que o primeiro grupo de sacerdotes saiu do primeiro seminário do Arcebispo. Paciência. Ele não tinha pressa.
Em terceiro lugar, “Bom não é barulhento, e barulho não é bom”. A opinião pública hoje está completamente envenenada. Tentar atingir uma ampla audiência de homens modernos é abrir-se bastante ao risco de o rabo abanar o cachorro, de a plateia distorcer a mensagem e o mensageiro deixar-se corromper. O Arcebispo raramente ia atrás da mídia, mas ela estava sempre atrás dele, porque sua mensagem era inflexível, e era a prova de que “A nossa Fé é a nossa vitória sobre o mundo” (I Jo.,V, 4), e não o nosso fazer barulho na cena pública.
 Em resumo, eu acho que a situação da Resistência Católica atual não exige nenhuma ação precipitada, mas uma avaliação cuidadosa dos homens e eventos, até a vontade de Deus tornar-se mais clara. Eu acho – posso estar enganado – que Ele quer uma rede solta de focos independentes de Resistência, reunidos em torno da Missa, entrando em contato livremente uns com os outros, mas sem uma estrutura de falsa obediência, como a que serviu para afundar o mainstream da Igreja na década de 60 e agora está afundando a Fraternidade São Pio X. Se você concordar, contribua por qualquer dos meios com a St. Marcel Iniciative porque isto certamente virá a ser útil, talvez mais cedo do que penso. Quanto a mim, assim que a minha situação se estabilizar na Inglaterra, estarei pronto para colocar os poderes do bispo à disposição de quem puder fazer sábio uso deles.
Nos EUA, cheques podem ser passados a St Marcel Initiative, enviados para St Marcel Initiative, POBox 764, Carrollton, VA 23314, EUA. Contribuições com cartão de crédito ou cartão de débito ou débito direto por transferência podem ser feitas em www.stmarcelinitiative.com. Para contribuições em cheques do Reino Unido e da Zona do Euro, os detalhes a respeito de para onde eles podem ser enviados serão fornecidos o mais breve possível.

Kyrie eleison.

sábado, outubro 27, 2012

Comentários Eleison: Grave Decisão


"Comentários Eleison" por Mons. Williamson 
Número CCLXXVI (276) - 27 de outubro de 2012


GRAVE DECISÃO



Então, a exclusão da Fraternidade Sacerdotal São Pio X de um dos quatro bispos consagrados ao seu serviço pelo Arcebispo Lefebvre em 1988 é agora oficial. É uma decisão importante por parte dos chefes da FSSPX, não por quaisquer razões pessoais, mas por causa da remoção do que muitas pessoas tomaram como sendo o maior obstáculo dentro da FSSPX a qualquer falsa reconciliação entre a Tradição Católica e a Roma Conciliar. Agora que ele se foi, a Fraternidade pode mais facilmente continuar seu deslizamento para dentro do confortável liberalismo.

Se o problema fosse apenas a sua pessoa, poderia não haver sérias consequências. Ele tem 72 anos (e está “mais ou menos gagá”), com não muitos anos ativos à sua frente. Ele poderia ser seguramente ignorado, ou ainda desacreditado, se necessário, e deixado a vociferar e delirar em seu retiro isolado. Mas, se de fato a sua exclusão significa o repúdio àquela oposição a Roma que ele representava, então a FSSPX está em apuros, e, longe de resolver suas tensões internas por ter feito dele um exemplo, é responsável agora por ser atormentada com a dissensão silenciosa ou a contradição aberta.

Isso porque o Arcebispo Lefebvre fundou a FSSPX para resistir à destruição da Fé Católica pelo Concílio pelos seus 16 documentos, e à prática da Fé pela Missa Nova acima de tudo. Resistir ao Concílio está embutido na própria natureza da Fraternidade. Agora, desfazer a natureza de uma coisa é desfazer a coisa. Segue-se que com esta exclusão a FSSPX de Dom Lefebvre está bem no caminho de ser desfeita, e será substituída por algo bem diferente. Na verdade, essa transformação tem sido observável há muitos anos. A exclusão é apenas um golpe final.

Não que o arcebispo fosse fundamentalmente, ou apenas, contra o Concílio. Primeiramente ele era católico, um bispo católico, um verdadeiro pastor de almas, como fica claro em seus escritos de antes do Concílio. Mas, uma vez que o indescritível desastre para a Igreja ocorrera, ele logo viu que a tarefa mais urgente em defesa da Fé seria resistir à Revolução do Vaticano II, que foi tomando milhões e milhões de corações e mentes católicas. Por isso ele fundou, em 1970, a Fraternidade São Pio X, que iria usar exclusivamente o rito Tridentino da Missa. Por isso sua famosa Declaração de novembro de 1974, que foi como uma carta dos princípios católicos que inspiram a resistência da FSSPX. Apenas a conversão e reversão das autoridades da Igreja para a verdadeira Fé pode justificar o abandono desses princípios. E ocorreu essa conversão ou reversão? De maneira nenhuma. Muito pelo contrário.

E o futuro? Para preencher o vácuo deixado pelo abandono dos propósitos do Arcebispo, provavelmente o mainstream da FSSPX agora se apressará para os braços de Roma, especialmente se a consciência de Bento XVI o leva a terminar o “cisma” antes de morrer. A exclusão do bispo pode ou não pode ter sido uma condição pré-definida por Roma para um acordo Roma-FSSPX, mas, em qualquer caso, certamente favorece um acordo. Os padres da FSSPX que veem claramente podem recolher-se temporariamente e esperar pelas graves consequências daquilo que vem sendo plantado. Os leigos da FSSPX podem assistir a Missas da FSSPX por enquanto, mas devem estar atentos ao momento em que a transformação mencionada acima comece a ameaçar a sua fé. Quanto ao bispo excluído, qualquer doação a ele ou à sua causa deve esperar um pouco até que os arranjos necessários sejam feitos. Mas fiquem certos de uma coisa: ele não está pensando em se aposentar. 

Fiquem todos firmes. Estamos aqui num passeio “infernal”. Vamos apenas fazer com que seja um passeio para o Céu!


Kyrie eleison. 

sábado, outubro 13, 2012

Comentários Eleison: Elmer Gantry


“Comentários Eleison” por Mons. Williamson –

Número CCLXXIV (274) - 13 de outubro de 2012





Elmer Gantry
No sistema de entretenimento nos assentos de um voo de longa distância, eu encontrei recentemente, listado como um “clássico”, um filme do qual consegui lembrar de ter visto há 50 anos - a versão feita em 1960 do romance de Sinclair Lewis, Elmer Gantry. Lembrei-me do filme porque duas observações do diálogo ficaram comigo desde então. Uma delas é de um homem velho comparando conversão religiosa com ficar bêbado. A outra é de uma jovem mulher implorando para ser enganada. Eu assisti ao filme de novo...
Elmer Gantry é um trapaceiro americano dos anos 20 que se apaixona por uma pregadora revivalista, Irmã Falconer, enquanto ela está conduzindo uma cruzada pelo país para conversões, em uma grande tenda de viagem. Sem qualquer religião real, o filme é um pouco confuso, mas retrata tanto a necessidade genuína que as almas têm de alguma religião, quanto a falsidade da “religião” fundamentalista protestante. A necessidade real e a satisfação falsa são enfatizadas juntas quando Elmer faz perguntas para um velho que está limpando a tenda: “Senhor”, ele responde, inclinando-se em sua vassoura, “Eu fui convertido cinco vezes. Por Billy Sunday, pelo reverendo Biederwolf, por Gypsy Smith e duas vezes pela Irmã Falconer. Eu fico terrivelmente bêbado, e então fico bom e salvo. Ambos têm-me feito um bem enorme: embebedar-me e me salvar”.
É claro que a observação tem seu lado cômico, mas é trágico quando se pensa em todas as pessoas para quem se tornou uma espécie de senso comum colocar a conversão religiosa no mesmo nível que a bebida. Isso é sobrevivalismo substituindo o revivalismo, bem no caminho para a religião ser totalmente ridicularizada. Quantas almas devem existir para quem o Santo Nome de “Jesus” foi praticamente queimado por sua associação com o emocionalismo de pregadores fundamentalistas! Leiam “Wise Blood” e outras histórias de Flannery O'Connor (1925-1964), uma escritora católica que choca, mas sem ser confusa, e que retrata o quanto o instinto religioso do homem pode ser desfigurado pelo protestantismo do extremo Sul da América. Deus pode fazer rosas crescerem para fora de um esgoto, mas a heresia faz um dano terrível!
A segunda observação de que me lembrei do filme surge em um contexto particular, mas a sua aplicação potencial é muito maior. Ao perseguir a irmã Falconer, Elmer chega por acaso a uma mulher que ele maltratou e abandonou anos antes. Quando essa mulher descobre seu caso com a Irmã, ela quer vingança, mas mesmo enquanto monta uma armadilha sedutora para Elmer, a fim de desacreditá-lo totalmente na mídia, ela não pode deixar de querer que ele diga que a ama. Ela diz: “Conte-me uma boa e grande mentira em que eu possa acreditar, mas abrace-me forte". Amando-o ainda como ela ama, tudo o que ela quer é ser enganada. 
Esse é o mundo que nos rodeia. Tudo o que se pede é que se seja enganado. Eis por que vivemos em um mundo de mentiras de Satanás: não queremos Deus. Ora, a vida sem Ele não pode funcionar – ver Salmo 126, v.1, e somente olhe ao seu redor –, mas nós queremos desesperadamente acreditar que a vida funciona melhor que tudo sem Ele. Na verdade, dizemos aos nossos líderes: “Nós os elegemos para que nos digam boas e fortes mentiras e nos mantenham firmes em nossa impiedade. Por favor, façam um 11 de setembro, um 7 de julho (o 11 de setembro do Reino Unido), ou qualquer coisa que vocês quiserem, contanto que nós possamos continuar a acreditar em vocês como substitutos de Deus para cuidar de nós. Quanto maior a mentira, mais acreditaremos, mas vocês devem sujeitar-nos com força. Apertem os nossos estados policiais tanto quanto vocês quiserem, mas desde que mantenham Deus de fora.

 

É de se estranhar que tenhamos o mundo satânico que temos?


Kyrie eleison.

sábado, outubro 06, 2012

Comentários Eleison: Mais Munição

“Comentários Eleison” por Mons. Williamson –

Número CCLXXIII (273) - 6 de outubro de 2012


Tradução: Mosteiro da Santa Cruz



Mais Munição

Aproveitando o privilégio de ter uma variedade de amigos atirando em mim de todas as direções, eu não posso suportar a ideia deles ficarem sem munição, então aqui está uma coleção de balas e escudos recolhidos do campo de batalha. Os comentários foram feitos por sacerdotes, leigos e irmãs, principalmente chateados por certo episódio da história moderna sendo negado na TV sueca em novembro de 2008. (E novamente... e novamente...) Como os americanos dizem: “Aproveitem!”

Esse bispo tem um temperamento forte, com muito prestígio e autoridade, por isso ele não poderia suportar não ser o número um na Fraternidade São Pio X. Desejando então ter seu nome nos livros de história, mas percebendo que com 68 anos de idade não teria mais chance de ser eleito Superior Geral, ele detonou na TV sueca a “bomba revisionista” a fim de chamar a atenção e aparecer como superior. Para ganhar influência ele estava disposto a arriscar a divisão da FSSPX.”
Ele decidiu, por meio de uma total provocação através de uma transmissão televisiva, a fim de sabotar as negociações Roma-FSSPX, que ele desaprovava. Mas estando em uma posição de subordinação, apenas por meio de um escândalo é que ele teria condições de parar o diálogo e o acordo que poderiam ter vindo delas.”
Ele adora provocar porque ele é um infiltrado, um ex-anglicano que é ainda basicamente hostil à Igreja Católica. Qualquer acordo Roma-FSSPX ele iria querer bloquear, porque seria muito favorável à FSSPX, isto é, à Igreja Católica.”
Ele é um sobrenaturalista iluminado, um maníaco da conspiração, obcecado com o perigo judaico. Ele vê o Apocalipse vindo amanhã. Nem ele e nem o Revisionismo são sérios.”
Ele tem qualidades naturais que fazem dele mundano e ambicioso. Ele estava acostumado a ter todo mundo prestando-lhe homenagens. Ele costumava ter influência sobre muitas pessoas, e era tratado como um pequeno deus no tempo em que ainda viajava bastante. No entanto, por causa de suas qualidades pessoais, ele é orgulhoso, e tem ciúme de Dom Fellay, e então foi inveja e ressentimento o que ele soltou na TV sueca.”
Na verdade, muito antes do caso sueco ele já era bastante político e muito independente do resto da FSSPX, cujo espírito não compartilhava inteiramente. Em 2004 ele atacou publicamente a liderança da FSSPX por seu espírito jansenistizante e seu sobrenaturalismo. Na realidade, ele estava apenas acertando contas pessoais, como clérigos são susceptíveis de fazer.”
“Sua originalidade anda junto com uma completa falta de senso de responsabilidade, e é por isso que ele montou em seu cavalo de batalha antissemita em público sem pensar em nenhum momento sobre o mal que ele poderia fazer à Tradição. Na verdade, ele foi manipulado por fascistas e neopagãos, ou pelo menos ele foi explorado por eles. Ele não buscava poder pessoal naquela ocasião, mas ele é imprevisível, e ele não é de confiança.”

E todas essas coisas estão sendo ditas sobre mim! Eu simplesmente adoro a atenção!

Kyrie eleison.

segunda-feira, outubro 01, 2012

Comentários Eleison: Sarto, Siri?

“Comentários Eleison” por Mons. Williamson –
Número CCLXXII (272) - 29 de setembro de 2012


SARTO, SIRI?

Em um sermão para a Festa de São Pio XI eu me vi pronunciando «quase uma heresia»: me perguntava em voz alta se Giuseppe Sarto teria desobedecido a destruição da Igreja de Paulo VI se, ao invés de morrer como o Papa Pio X em 1914, ele tivesse morrido como um cardeal em, digamos, 1974. Dentro da Fraternidade São Pio X isso deve soar como uma heresia, porque como a sabedoria do patrono celeste da FSSPX pode ser de algum modo falha? No entanto, a questão não é supérflua.
Em 1970 o Arcebispo Lefebvre fez visitas pessoais a alguns dos melhores cardeais e bispos da Igreja, na esperança de persuadir um mero punhado deles a oferecer resistência pública à revolução do Vaticano II. Ele costumava dizer que apenas meia dúzia de bispos resistindo juntos poderia ter obstruído seriamente a devastação Conciliar da Igreja. Infelizmente, nem mesmo a preferência de Pio XII por seu sucessor, o Cardeal Siri de Gênova, viria a ter promovido uma ação pública contra o Establishment da Igreja. Finalmente, o Bispo de Castro Mayer deu um passo à frente, mas só na década de 1980, quando a Revolução Conciliar já estava bem instalada no topo da Igreja.
Então, como as melhores mentes dentre aquelas com boa formação ficaram tão obscurecidas? Como então alguns dos melhores homens da Igreja naquela época não viram o que o Arcebispo estava vendo, por exemplo: que a "lei" que estabelece a Missa Novus Ordo não era lei de forma alguma, já que pertence à própria natureza da lei ser uma ordenação da razão ao bem comum? Como pôde ele ter ficado relativamente tão sozinho, não deixando que o princípio tão básico do bom senso fosse sufocado pelo respeito à autoridade, quando a própria sobrevivência da Igreja estava sendo colocada em perigo pelo Concílio Vaticano II e a Missa Nova? Como pôde a autoridade ter então assumido o controle sobre a realidade e a verdade?
Minha própria resposta é que há sete séculos a Cristandade vem deslizando em direção à apostasia. Por 700 anos, com nobres interrupções como a Contra-Reforma, a realidade do Catolicismo veio sendo lentamente corroída pela fantasia cancerosa do liberalismo, que é o homem se livrando de Deus através da natureza que se livra da graça, da mente que se livra da verdade objetiva, e da vontade que se livra do certo e errado objetivos. Por um longo tempo, 650 anos, os clérigos católicos se agarraram à realidade e a defenderam. Mas finalmente, bastante da fantasia envolvente da modernidade glamorosa penetrou até os seus ossos, fazendo a realidade perder o controle sobre suas mentes e vontades. Carentes de graça, como São Thomas More disse em sua época sobre os bispos ingleses traindo a Igreja Católica, os bispos conciliares deixaram a fantasia dos homens sobrepujar a realidade de Deus, e a autoridade tomar o lugar da verdade. Há lições práticas para o clero e os leigos.
Colegas dentro e fora da FSSPX, para servir a Deus, vamos tomar cuidado para não reagirmos como Giuseppe Siri quando precisamos reagir como Giuseppe Sarto, com suas magníficas denúncias dos erros modernos na Pascendi, na Lamentabili e na Carta sobre o Sillon. E para obtermos a graça necessária nesta que é a crise mais tremenda de toda a história da Igreja, precisamos rezar tremendamente.
Leigos, se os horrores da vida moderna fazem com que vocês tenham "fome e sede de justiça", alegrem-se, se puderem, pois os horrores os estão mantendo na realidade. E não duvidem que, se perseverarem na sua fome, vocês "serão saciados" (Mt . V, 6). Bem-aventurados os pobres de espírito, os mansos e os que choram, diz Nosso Senhor na mesma ocasião. E para proteger seguramente suas mentes e corações de serem tomados pela fantasia, rezem cinco, ou melhor, quinze Mistérios do Santo Rosário de Nossa Senhora por dia.  

                                                                                                                                                                        Kyrie eleison.