sábado, janeiro 26, 2013

Comentários Eleison: O Liberalismo - Blasfêmia


“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –

Número CCLXCIX (289) - 27 de janeiro de 2013
 
 
O LIBERALISMO - BLASFÊMIA

 
O liberalismo é realmente tão horrível como parece ser? Essa ou aquela pessoa é acusada de ser “liberal”, mas uma grande quantidade de acusados nega vigorosamente que o rótulo se atribua a ela. Quem está certo? Acusadores ou acusados? Como “liberalismo” é um nome para o erro abrangente dos tempos modernos, responsável por lançar um sem-número de almas no fogo do Inferno, ele certamente merece mais uma abordagem.

A liberdade tanto se relaciona com aquilo de que estou livre, ou seja, de uma ou outra restrição, como se relaciona com aquilo para o que estou livre, ou seja, para um ou outro propósito. Destes dois tipos de liberdade, a liberdade negativa da restrição vem antes do propósito positivo no tempo, mas depois dele em importância. Vem antes no tempo porque, se estou impedido de alcançar um objetivo, o alcançar o meu objetivo está fora de questão. Por outro lado, vem depois em importância porque o valor da não restrição dependerá do valor do objetivo para o qual ela é utilizada. Assim, segurar uma faca liberta-me de estar desarmado, mas, se eu usar essa “liberdade de” para cortar o pão para comer, a “liberdade de” é boa, enquanto, se eu usá-la para esculpir minha avó, a “liberdade de” se torna assassina.

Agora, o que o liberalismo faz é tornar a “liberdade de” um – ou o – valor supremo em si mesmo, independentemente da “liberdade de”, ou o propósito bom ou mau para o qual ela vai ser usada. Assim, a liberdade ou a “liberdade de” se torna independente de um propósito bom ou ruim, independente do certo e do errado. Mas a diferença entre o certo e o errado é parte essencial da criação de Deus, concebida do fruto proibido no Jardim do Éden em diante para o homem fazer a sua escolha entre o Céu e o Inferno. Portanto, colocar a falta de constrangimento do homem adiante da lei de Deus é colocar o homem antes de Deus.

Sendo, então, a negação implícita da lei moral de Deus, do certo e do errado, o liberalismo implicitamente faz guerra a Deus, colocando o “direito” humano do homem de escolher acima do direito divino de Deus para comandar. Agora, como o Arcebispo Lefebvre costumava dizer, os liberais vêm em 36 variedades diferentes, nem todas com a intenção de fazer guerra a Deus. Mas a guerra a Deus continua a ser a conclusão lógica dos liberais, que dão valor supremo à liberdade, que é a razão pela qual para muitos deles vale tudo. Deus e suas regras foram postos de lado, e então a adoração da liberdade se torna para os liberais a sua religião substituta, uma religião sem regras, exceto a sua própria vontade. Sendo, além disso, uma substituta da religião, ela deve livrar-se da verdadeira religião, que bloqueia seu caminho, e assim os liberais se tornam naturalmente cruzados contra a ordem de Deus em todos os cantos de sua criação: casamentos livres de gênero, famílias livres das crianças, Estados livres de um líder, a vida livre da moral, e assim por diante. Tal guerra contra a realidade de Deus é algo completamente insano, mas os liberais, aparentemente tão doces para com os seus companheiros a quem eles estão “libertando”, podem de fato ser totalmente cruéis para quem fica no caminho da sua cruzada. É na lógica do substituto da religião que eles não precisam ter nenhuma decência normal em tripudiar sobre os antiliberais, que não merecem compaixão.

Há 20 séculos a Igreja Católica condenou tal insanidade. No entanto, no Concílio Vaticano II a Igreja oficial deu lugar a ela, por exemplo, ao declarar (Dignitatis Humanae) que cada Estado deve proteger mais a liberdade das restrições civis na prática de sua religião que suas “liberdades-para” a prática da verdadeira religião. E agora os líderes de determinada sociedade religiosa querem colocá-la sob a autoridade dos romanos do Vaticano II. Para a religião verdadeira, tal ação é, como a chamou o Arcebispo Lefebvre, uma “Operação Suicida”. Sendo assim, o liberalismo é intrinsecamente suicida.

Kyrie eleison.

 

sábado, janeiro 19, 2013

Comentários Eleison: Duas Viagens

“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –


Número CCLXXXVIII (288) - 19 de janeiro de 2013





DUAS VIAGENS



Viagens desde meados de dezembro, pela América do Norte e pela França, têm-me permitido observar dentro da Fraternidade São Pio X um perigoso estado de indeterminação. Onde o Superior Distrital não está cego, o perigo é contido um pouco momentaneamente, de modo que a resistência é confusa. Onde, no entanto, o Superior Distrital é um servo voluntário da sede da FSSPX, há o movimento de avanço gradual para a neo-Igreja; mas também a Resistência está se formando. O que está em jogo?

Desde a ruptura do protestantismo, o mundo vem deslizando cada vez mais para longe de Deus. Graças ao Concílio de Trento (1545-1563) a Igreja Católica se manteve firme, mas graças ao Concílio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Católica oficial começou a cair. Então, graças principalmente (mas não só!) ao Arcebispo Lefebvre (1905-1991) as relíquias da Igreja de Trento se reuniram para formar, no meio do deserto da modernidade, um oásis católico: a FSSPX. Mas era, com certeza, apenas uma questão de tempo para que a débil FSSPX fosse tentada, por sua vez, a participar da queda em que a Igreja poderosa não tinha sido capaz de resistir.
Entretanto, assim como no Concílio Vaticano II a liderança oficial da Igreja fora obrigada a fingir que não estava rompendo com a Igreja Tridentina (por exemplo, Bento XVI e a “hermenêutica da continuidade”), a liderança oficial da FSSPX agora é obrigada a fingir que não está rompendo com o Arcebispo Lefebvre. Assim, como a maioria dos políticos dos últimos 500 anos, os líderes da FSSPX estão falando para a direita enquanto andam para a esquerda, porque é isso o que um grande número de pessoas quer, ou seja, a aparência do Cristianismo sem a sua substância (veja II Tm. III, 1-5, especialmente o versículo 5). Como Descartes, tais líderes “avançam atrás de uma máscara”, procurando disfarçar o seu movimento para a esquerda por baixo de palavras para a direita, ou palavras ambíguas.
O que aconteceu com a FSSPX na primavera passada é que, como diz o Pe. Chazal, a máscara caiu, porque a liderança da FSSPX deve ter calculado que havia chegado o momento de fazer seu movimento aberto de volta para a Igreja mainstream. Infelizmente para esses líderes, surgiu, entre março e junho, resistência suficiente para bloquear, no Capítulo Geral da FSSPX, em julho, qualquer tentativa imediata para se juntar à neo-Igreja. E assim, a partir desse Capítulo, a máscara foi colocada de volta. Mas os liberais não se convertem, o que seria um milagre da graça, porque o esquerdismo é a sua religião real. É por isso que os líderes da FSSPX estão certamente esperando que o mundo moderno, a carne e o diabo continuem o seu trabalho de puxar o clero e os leigos da FSSPX para a esquerda, para que dentro de alguns anos, no máximo, já não haja nenhuma resistência significativa, como havia no verão passado, para a FSSPX voltar à neo-Igreja.

Isso deixa a FSSPX a meio caminho. No entanto, como o bom senso do Arcebispo Lefebvre observou, os superiores moldam os que lhes estão sujeitos e não o contrário. É por isso que, a menos que os atuais líderes da FSSPX sejam desviados por um milagre, a FSSPX está fadada a ser dissolvida na neo-Igreja. Não se pode dizer que a punição não terá sido merecida. Mas vamos rezar à Mãe de Deus por alguns milagres de misericórdia de seu Divino Filho.

Kyrie eleison.

domingo, janeiro 13, 2013

Comentários Eleison: Retorno do Cinquentismo

“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –

Número CCLXXXVII (287) – 12 de janeiro de 2013



RETORNO DO CINQUENTISMO




Questão escaldante: como poderiam os líderes da Fraternidade São Pio X, que foi fundada pelo Arcebispo Lefebvre para resistir à neo-Igreja, estar agora buscando seus favores, a fim de se reunir a ela? Uma resposta é que eles nunca compreenderam totalmente o Arcebispo. Após o desastre do Concílio Vaticano II na década de 1960, eles viram nele a melhor continuação da Igreja pré-desastre da década de 1950. Na realidade, ele era muito mais do que isso, mas, quando ele morreu, tudo o que eles queriam era voltar ao catolicismo acolhedor da década de 1950. E não eram os únicos a preferir Cristo sem a cruz. É essa uma fórmula muito popular.
O catolicismo da década de 1950 não era como um homem em pé na beira de um penhasco alto e perigoso? Por um lado ele ainda estava de pé a uma grande altura, caso contrário o Concílio Vaticano II não teria sido uma queda tão grande. Por outro lado ele estava perigosamente perto da borda do penhasco, caso contrário, mais uma vez, não poderia ter caído tão abruptamente na década de 1960. De nenhuma maneira era tudo ruim na Igreja da década de 1950, mas era algo muito próximo ao desastre. Por quê?
Porque os católicos em geral estavam, na década de 1950, exteriormente mantendo as aparências da verdadeira religião, mas interiormente muitos estavam flertando com os erros ateus do mundo moderno: o liberalismo (o que mais importa na vida é a liberdade), o subjetivismo (a mente do homem e a vontade são livres de qualquer verdade objetiva ou lei), o indiferentismo (de modo que não importa que religião um homem tem), e assim por diante. Assim, tendo os católicos a fé e não querendo perdê-la, gradualmente se adaptaram a esses erros. Eles iriam assistir à Missa aos domingos, ainda poderiam ir à confissão, mas alimentariam sua mente na mídia vil, e o seu coração seria arranhado em relação a certas leis da Igreja, sobre o matrimônio para os leigos, sobre o celibato para o clero. Assim, eles poderiam manter a fé, mas queriam cada vez menos nadar contra a corrente poderosa do mundo glamoroso e irreligioso ao redor deles. Eles foram chegando cada vez mais perto da borda do penhasco.
 Agora, o Arcebispo teve suas falhas, que se pode pensar se refletem nas dificuldades atuais da Fraternidade. Não vamos idolatrá-lo. No entanto, ele era na década de 1950 um bispo que tinha muito não só das aparências do catolicismo, mas, bem dentro dele, a sua substância, como o provam os ricos frutos de seu ministério apostólico na África. Assim, enquanto o Concílio Vaticano II conseguiu incapacitar ou paralisar quase todos os seus colegas bispos, ele conseguiu recriar, quase sozinho, um seminário e Congregação pré-Vaticano II. A aparição de seu oásis católico no meio do deserto conciliar deslumbrou muitos bons jovens homens. Vocações também foram atraídas pelo carisma pessoal do arcebispo. Mas a partir de 10 a 20 anos após sua morte, em 1991, a substância do seu patrimônio passou a parecer cada vez mais pesada para empurrar contra a corrente cada vez mais forte do mundo moderno.
Então, negando-se a carregar a cruz de serem desprezados pela Igreja mainstream e pelo mundo, os líderes da FSSPX começaram a sonhar com ser mais uma vez reconhecidos oficialmente. E o sonho prevaleceu, porque, afinal de contas, os sonhos são muito mais agradáveis do que a realidade. Devemos orar por esses líderes da FSSPX. A década de 1950 foi-se, foi-se para sempre, e é pura ilusão desejar o seu regresso.
Kyrie eleison.

sábado, janeiro 05, 2013

Comentários Eleison: Sinal Amarelo

“Comentários Eleison”, por Mons. Williamson –

Número CCLXXXVI (286) – 5 de janeiro de 2013

SINAL AMARELO


Nem todos os leitores dos “Comentários Eleison” devem ter lido a admirável carta escrita pelo Pe. Ronald Ringrose há dois meses e dirigida ao Superior do Distrito dos EUA da Fraternidade São Pio X, Pe. Arnauld Rostand. O Pe. Ringrose tem sido por mais de 30 anos o pastor independente da paróquia Tradicional de Santo Atanásio localizada nos arredores de Washington - DC, e por todo esse tempo tem sido um fiel amigo, sem ser um membro, da FSSPX. No entanto, em junho do ano passado, ele recebeu em sua paróquia o primeiro encontro nos EUA do núcleo de sacerdotes que agora formam uma Resistência a essa mudança de direção da Fraternidade, latente há muito tempo, mas que se tornou clara para todos na primavera do ano passado. Como fiel executivo de Dom Fellay, nos EUA, o Pe. Rostand escreveu-lhe propondo uma reunião onde poderia persuadir o Pe. Ringrose de que a mudança não era mudança. Aqui está a resposta do Pe. Ringrose:
“Obrigado por sua carta de 12 de outubro, na qual o senhor propõe uma reunião para discutir a situação dentro da Fraternidade São Pio X. Apesar de ser essa uma oferta muito gentil de sua parte, o que aprecio muito, eu não acho que essa reunião vá servir a qualquer propósito útil, uma vez que os problemas decorrem do topo da liderança da Fraternidade, e o senhor não está em posição de mudar isso.
É verdade que eu tenho sido um forte apoiador da Fraternidade por muitos anos. Este apoio foi baseado no fato de que a minha missão como padre e a missão da Fraternidade eram uma e a mesma: ajudar as almas a se agarrar à fé católica durante esse tempo em que parecem ter sido abandonadas pela Roma pós-Vaticano II.
Agora tenho de ser mais cauteloso e reservado nesse apoio. Fiquei alarmado com os dizeres do Superior Geral de que 95% do Concílio Vaticano II seriam aceitáveis. Deixa-me pasmo a liderança da Fraternidade responder a três bispos da Fraternidade, sugerindo que eles estariam transformando os erros do Concílio Vaticano II em uma “super-heresia”. Estou desapontado com o fato de a resposta da Fraternidade ao Assis III ter sido tão fraca e anêmica. Estou triste pelo castigo injusto aplicado aos sacerdotes da Fraternidade que estão seguindo o exemplo do Arcebispo Lefebvre, e indignado com o tratamento dado ao Bispo Williamson – e não se trata apenas da sua recente expulsão, mas do tratamento injusto que ele tem recebido ao longo dos últimos anos.
Antes deste ano, quando perguntado sobre a Fraternidade por algum paroquiano inquiridor, eu sempre dava à Fraternidade um sinal verde. Dada as recentes ações da Fraternidade, ainda não dei a ela um sinal vermelho, mas dei um sinal amarelo de cautela. O sinal vermelho virá se e quando a Fraternidade se permitir ser absorvida pela Igreja Conciliar, à qual o Arcebispo Lefebvre tão vigorosamente resistiu.
É com grande tristeza que escrevo estas palavras. Há muitos bons, zelosos e fiéis sacerdotes dentro das fileiras da Fraternidade. Muitos deles eu conheço pessoalmente e admiro. Muitas almas dependem deles. É por amor à Fraternidade que temo pelo seu futuro. Tenho medo de que ela esteja em um caminho suicida. A liderança pode pensar que um acordo está fora de questão, mas eu temo que esse não seja o pensamento de Roma.
Rezo para que a Fraternidade retorne à missão dada a ela pelo Arcebispo Lefebvre sem se comprometer ou se restringir. Quando isso acontecer, ela vai ter o meu apoio incondicional.”
E a carta de Pe. Ringrose termina com saudações fraternas. É realmente um modelo de lucidez e firmeza, cortesia e caridade. Vida longa ao Pe. Ringrose, para que mantenha um incomparável bastião do catolicismo bem ao lado da capital dos Estados Unidos!

Kyrie eleison.