sábado, abril 27, 2013

Comentários Eleison: GREC IV


Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCII - (302) 27 de abril de 2013

GREC  IV

Uma mulher tendo lido o primeiro “Comentários Eleison” sobre o GREC (CE, 02 de março) escreveu para reclamar que eu deturpei o GREC, o grupo parisiense de católicos fundado no fim dos anos 90 para unir tradicionalistas e Igreja mainstream a fim de que pudessem pensar e conversar pacificamente uns com os outros para o bem da Madre Igreja. Estou feliz por poder corrigir erros sobre os fatos que ela apontou. Eu não tenho nenhum problema em admitir as falhas pessoais minhas que ela destacou. Entretanto, em um ponto importante eu devo discordar dela.

Sobre os erros relacionados aos fatos, o Sr. Gilbert Pérol era Embaixador francês para o governo italiano, e não para o Vaticano. Também ele não era “colaborador leigo”, mas sim um amigo pessoal do Pe. Michel Lelong, um Padre Branco. Também o GREC não foi lançado “nos salões de Paris”, mas no apartamento da viúva do embaixador, Sra. Huguette Pérol, que, como eu disse, assumiu a total responsabilidade de ter fundado o GREC, puramente para ajudar a Igreja, e com a ajuda de pessoas “competentes e preocupadas em serem fiéis ao Evangelho e à Tradição”.

Sobre as minhas faltas, ela escreveu que eu era “cheio de si” e “ignorante”, que eu carecia de modéstia e diplomacia, que eu mostrei insuficiente respeito pelos mortos, e que eu escrevi com tom sarcástico não condizente nem com uma pessoa educada nem com um sacerdote. Madame, como eu estaria feliz se fossem essas as minhas piores faltas pelas quais eu devo responder perante Deus. Reze pelo meu juízo particular.

Entretanto, sobre o sarcasmo, deixe-me declarar que, se eu zombei da nostalgia dos católicos hoje pelo catolicismo da década de 1950, eu estava pensando não no Embaixador Pérol particularmente, mas nas multidões de católicos dos dias de hoje, que, não percebendo o porquê de Deus ter permitido que o Vaticano II separasse a Igreja mainstream da Tradição Católica em primeiro lugar, desejam retornar àquela fé sentimentalista da década anterior que levou diretamente ao Vaticano II! Madame, o ponto crucial não tem nada a ver com pessoas subjetivas, tem tudo a ver com doutrina objetiva.

É por isso que eu devo discordar da senhora quanto à competência das pessoas que ajudaram o Sr. Pérol a fundar o GREC. Que um diplomata profissional como o Embaixador Pérol tenha recorrido à diplomacia para resolver os principais problemas da doutrina é algo equivocado, mas compreensível. Que um padre Conciliar como Pe. Lelong tenha encorajado tal empreendimento diplomático é algo mais grave, mas ainda assim compreensível, dado que o Vaticano II minou toda a doutrina pela oficialização do subjetivismo dentro da Igreja. O que é muito menos fácil de aceitar é a “competência e a preocupação pelo Evangelho e pela Tradição” da parte dos sacerdotes que foram formados por Monsenhor Lefebvre para compreender o desastre do Vaticano II. Tais sacerdotes não deveriam nunca ter encorajado, muito menos tomado qualquer parte ativa nisso, um esforço essencialmente diplomático para resolver um desastre essencialmente doutrinal, por mais bem intencionado que esse esforço tenha sido.

E ainda assim, mesmo no seu caso o provérbio francês se aplica em certa medida: “Compreender tudo significa perdoar tudo”. O Arcebispo era de uma geração anterior e mais saudável. Eles eram todos filhos do mundo destruído pelas duas Grandes Guerras. Todo o crédito a eles por recorrerem à sua pessoa para a sua formação sacerdotal, e enquanto ele viveu, ele formou todos nós. Mas eles nunca realmente absorveram a sua doutrina, e assim, uma vez que ele estava morto, eles começaram dentro de poucos anos a cair. Mas ele estava certo, e eles, e o GREC – perdoe-me, graciosa senhora – estão errados. Queira Deus que eles se corrijam.

                                                                                                               Kyrie eleison.

sábado, abril 20, 2013

Comentários Eleison: Levante da Resistência



Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCI - (301) 20 de abril de 2013

LEVANTE DA RESISTÊNCIA


Outra jornada de três semanas no lado ocidental do Oceano Atlântico permitiu que eu visse que a resistência ao colapso da Fraternidade Sacerdotal São Pio X no abraço a Roma apóstata está se levantando, mais em qualidade do que em quantidade (mas à qualidade Católica segue a quantidade Católica, e não o contrário). Os Tradicionalistas vêm sendo deliberadamente mantidos no escuro quanto ao que está acontecendo entre a Fraternidade e Roma, mas, ao descobrirem o quanto a verdadeira religião Católica está sendo ameaçada, então uma série de bons homens têm passado a reagir com seriedade e resolução.
A primeira comunidade de todas que visitei foi a do padre Jahir, com uma dúzia de religiosos no norte do Brasil, perto da cidade de Salvador, onde o Pe. Jahir foi pároco por muitos anos. Tendo fugido da Neo-Igreja, ele vê a situação da Neo-Fraternidade muito claramente. Ele fundou sua própria comunidade na Fé verdadeira, e é fácil imaginar vários de seus homens tornando-se dentro de alguns anos valentes sacerdotes que irão guardar essa Fé. Eu dei a um deles a Tonsura e as duas primeiras Ordens Menores, e depois segui para o sul para visitar outro padre brasileiro a tornar-se famoso por sua adesão firme à Tradição, tal como o Arcebispo Lefebvre a compreendia.
O Beneditino Dom Tomás é Prior do Mosteiro nas montanhas perto de Nova Friburgo perto do Rio de Janeiro. Foi fundado em 1980 por Dom Gérard como um desdobramento do Mosteiro Beneditino Tradicional que Dom Gérard também havia fundado na França em 1970, com o incentivo e apoio do Arcebispo Lefebvre. No entanto, quando o Arcebispo consagrou bispos em 1988, Dom Gérard rompeu com ele, levou seu mosteiro para a Neo-Igreja, e cruzou o oceano para fazer o mesmo com o mosteiro brasileiro.
Aqui ele deparou com a resistência de Dom Tomás, que ainda era apenas um jovem monge, mas que antes de se tornar um monge tinha aprendido em profundidade de um famoso leigo católico brasileiro, Gustavo Corção, sobre o erro da Neo-Igreja. Com a ajuda de bons leigos e com o apoio do Arcebispo Lefebvre, Dom Tomás levantou-se contra Dom Gérard e salvou o Mosteiro para a Tradição. Com tal conflito em seu passado, não é surpreendente que Dom Tomás também veja muito claramente a situação tanto da Neo-Igreja quanto da Neo-Fraternidade. Em uma tenda montada do lado de fora da pequena igreja do Mosteiro para os visitantes extras para as cerimônias da Semana Santa, celebramos com alguns sacerdotes, mas com todos os elementos essenciais, a Consagração dos Santos Óleos na Quinta-feira Santa. Estes Mosteiros agora podem prover os sacerdotes por este ano em particular, provisão que pode ser cortada pela Neo-Fraternidade.
Então eu voei para o norte para visitar mais três centros da Resistência sendo lançados nos EUA pelos corajosos padres Joseph Pfeiffer e David Hewko. Perto de Connecticut, em Nova Jersey e em Minnesota eu pude fazer Crismas e conferências para os católicos que desconfiam do que está acontecendo na Neo-Fraternidade. Eles fizeram boas perguntas, merecedoras de respostas verdadeiras.
Boas notícias para os benfeitores na Eurolândia: a Iniciativa St. Marcel tem, até que enfim, uma forma de receber em euros. Preencha um cheque para “Institut Culturel St Benoit” (não se preocupe com o nome), e mande para o Institut Culturel St Benoit, BP 60232, F78002 Versailles Cedex. Ou faça um depósito bancário dentro da França para o seguinte RIB: 20041 01012 6704149J033 09; de fora da França para o seguinte IBAN: FR85 2004 1010 1267 0414 9J03 309. Através da I.C.S.B. as doações vão certamente chegar à Iniciativa St. Marcel, que acaba de ser capaz de dar ajuda, muito necessária, para o Mosteiro de Dom Tomás. Ele agradece a todos os que têm contribuído.

Kyrie eleison.

sábado, abril 13, 2013

Comentários Eleison: Declaração Doutrinal I


Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCC  - (300) 13 de abril de 2013

DECLARAÇÃO DOUTRINAL I

A Declaração Doutrinal de 15 de abril do ano passado, elaborada pelo Superior Geral (SG) da Fraternidade Sacerdotal São Pio X como base para a reintegração da Fraternidade à Igreja mainstream, veio quase um ano depois às vistas do público. Foi projetada pelo SG para agradar tanto aos Católicos Romanos quanto aos Tradicionalistas (“Não pode ser lida com óculos escuros ou cor-de-rosa”, ele disse em público). Ela agradou aos Romanos que declararam que ela representava um “avanço” na direção deles. Não agradou aos Tradicionalistas que viram nela (o que eles conheciam dela) ambiguidade o bastante para representar uma traição à resistência do Arcebispo Lefebvre pela Fé Católica, ao ponto que eles consideraram que os Romanos precisavam apenas ter aceito isso para destruir sua Fraternidade.

De fato quando o SG encontrou com os Romanos em 11 de junho em Roma para receber a decisão deles, ele esperava totalmente que eles a aceitariam. Numerosos observadores especularam que se eles não aceitassem isso, seria apenas porque a interferente publicação de 7 de abril, a Carta dos Três Bispos ao SG, mostrou aos Romanos que ele não seria capaz de trazer toda a Fraternidade com ele para o seio da Roma Conciliar, como ele tinha dado a entender que conseguiria fazer, e como eles queriam que ele fizesse. Eles não queriam e não querem outra divisão que desse início novamente à Tradição.

Seja o que for, prevalece o principal argumento: o de que a proposta da Declaração Doutrinal, se tivesse sido aceito por Roma, teria destruído a FSSPX. O Arcebispo Lefebvre declarou, e provou, que o Vaticano II foi uma quebra ou ruptura com o ensino anterior da Igreja. Nessa premissa se levantou, e permanece, o movimento Católico Tradicional. Então, confrontado pela resistência permanente daquele movimento ao seu amado Vaticano II, Bento XVI proclamou no início do seu pontificado, em 2005, a “hermenêutica da continuidade”, pelo que o Concílio (objetivamente) contradizendo a Tradição era para ser (subjetivamente) interpretado como não a contradissesse. Assim, não haveria quebra ou ruptura entre ele e Tradição Católica.

Agora o sétimo parágrafo (III, 5) da Declaração Doutrinal. Ela declara que as afirmações do Vaticano II que dificultam a reconciliação com todo o ensino anterior da Igreja, (1) “devem ser entendidas à luz da Tradição inteira e ininterrupta, em linha com as verdades ensinadas pelo Magistério precedente da Igreja, (2) não aceitando qualquer interpretação dessas afirmações que possam levar a doutrina católica a ser exposta em oposição ou ruptura com a Tradição e esse Magistério”.

A primeira parte aqui (1) é perfeitamente verdadeira, contanto que signifique que qualquer novidade Conciliar “difícil de reconciliar” deva ser terminantemente rejeitada se contradisser objetivamente o ensino anterior da Igreja. Mas (1) é contradita por (2) quando (2) diz que nenhuma novidade Conciliar possa ser “interpretada” como sendo uma ruptura com a Tradição. É como dizer que todos os times de futebol devem usar camisetas azuis, mas as camisetas de futebol de qualquer outra cor serão todas interpretadas como sendo azuis! Que coisa sem sentido! Mas isso é pura “hermenêutica da continuidade”.

Agora, os soldados que sustentam as últimas fortalezas da Fé que são organizadas por todo o mundo percebem o que o seu Comandante está pensando? Eles percebem que sua solene declaração da doutrina da FSSPX mostra que ele está pensando como o um líder inimigo? Eles estão felizes por estarem sendo levados a pensar como os inimigos da Fé? Todas as ideias devem ser católicas, então ideias não católicas serão “interpretadas” como católicas. Acordem camaradas! O pensamento inimigo está no Quartel General.
                                                                                                           Kyrie eleison.

sábado, abril 06, 2013

Comentários Eleison: GREC III




Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCXCIX  - (299) 06 de abril de 2013 

GREC – III

Querendo colocar a si mesmo no lugar de Deus, o homem moderno procura substituir a ordem de Deus pela sua própria. Mas a ordem de Deus é real, fora e independente da mente do homem. Então o homem moderno desliga sua mente dessa realidade, e seleciona disso apenas as peças de acordo com o que ele deseja construir na sua própria fantasia. Ora, a mais alta ordem da Criação de Deus é mais bem expressa na doutrina da Igreja. Portanto todos os clérigos e leigos de hoje sob influência de tudo o que é “normal” no mundo à volta deles sofrem de uma profunda recusa ou ignorância da natureza e necessidade da doutrina.
Aqui está o problema essencial do GREC, como apresentado em duas edições anteriores dos “Comentários Eleison” (294 e 295). O Grupo de Reflexão Entre Católicos foi fundado em 1997 nos salões de Paris para promover reuniões amigáveis e trocas entre católicos da Tradição e católicos da Igreja mainstream, para criar um clima de confiança e respeito mútuos que facilitaria uma reconciliação entre eles, e um fim ao seu desnecessário afastamento. Tal propósito faz vistas grossas gravemente à importância da doutrina, não necessariamente com malícia premeditada, da qual Deus é juiz, mas, seja lá o que os homens possam pensar, a doutrina não pode mais ser desconsiderada do o que pode a realidade.
No livro do Pe. Lelong sobre o GREC, For the Necessary Reconciliation, ele conta como os padres e o Superior da Fraternidade São Pio X “deram uma contribuição decisiva para o lançamento e continuidade do GREC”. Mesmo antes de ser lançado, Pe. dC deu uma recepção amigável ao Pe. Lelong no seu Priorado da FSSPX, e “nos anos seguintes nunca deixou de apoiar o GREC de um modo discreto e atento”. No lançamento do GREC, Pe. L., então Reitor do Instituto da FSSPX em Paris e exercendo de Paris a decisiva influência a partir de então sobre as publicações da FSSPX, deu boas vindas à ideia de “diálogo entre católicos”, e muito cedo obteve do Superior Geral da FSSPX na Suíça a aprovação para sua participação no GREC. Desde então o Pe. L. desempenhou um papel principal em todas as suas atividades.
Essas atividades começaram em pequena escala e em privado. Em maio de 2000 foi organizado o primeiro encontro público do GREC com o qual contribuiu o Pe. L., com o comparecimento de 150 pessoas.  Reuniões, com participação de padres da FSSPX, se tornaram mais e mais frequentes. Autoridades da Igreja no mais alto nível foram regularmente consultadas e mantidas informadas. Pe. L., de sua parte, tornou possível “um contato para aprofundar a confiança” e trocas amigáveis com o Superior Geral da FSSPX. A partir de 2004 as reuniões do GREC foram mais abertas ainda ao público, e em setembro desse ano um “grupo de trabalho teológico” foi montado com a participação do Pe. L., e outro padre da FSSPX e um teólogo de Roma, ambos estariam mais tarde tomando parte nas Discussões Doutrinais entre Roma e a FSSPX de 2009 a 2011. O GREC pode ter visto nessas Discussões a realização das suas mais caras esperanças – ao menos os teólogos estavam se encontrando num clima que o GREC fez tanto para criar “para a necessária reconciliação”. 
Graças sejam dadas a Deus, as Discussões devolveram à doutrina sua primazia adequada. Elas demonstraram que entre católicos e a doutrina Conciliar existe um abismo intransponível. Mas foi o modo de pensar do GREC então bloqueado junto à FSSPX? Longe disso! O Quartel General da FSSPX mudou da noite para o dia de “Nós não buscamos nenhum acordo prático sem um acordo doutrinário” para “Não pode haver nenhum acordo doutrinário, então nós buscamos um acordo prático”! Ai, a primavera que vinha surgindo do protesto do ano passado junto à FSSPX fora sufocada e confundida novamente no Capítulo Geral de julho, mas a busca continuada de um acordo prático por parte do QG da FSSPX dificilmente teria sido sufocada. “Nosso apoio está no nome do Senhor”, em particular na Consagração da Rússia. Em nenhum outro lugar.

Kyrie eleison.