sábado, agosto 31, 2013

Comentários Eleison: Édito de Milão

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXX – (320) – (31 de agosto de 2013):
  
 
 ÉDITO DE MILÃO


 
Em nossos dias, quando a apropriação da Fraternidade Sacerdotal São Pio X pelo liberalismo soa simplesmente como a última em uma longa linha de derrotas da Igreja Católica, é difícil imaginar que houve um tempo quando a Igreja registrava uma vitória atrás da outra. No entanto, esse ano nós celebramos o 1700º aniversário de uma daquelas vitórias, o Édito de Milão, datando de 313 dC.
           
O imperador romano Constantino, conhecido como “Constantino, o Grande”, nasceu em 272 e foi batizado como cristão apenas pouco antes de sua morte em 337, embora ele houvesse sido abertamente simpático à Igreja durante muitos anos. Quando em 312 ele marchou em Roma para lutar contra seu rival, o imperador Maxêncio, Nosso Senhor prometeu-lhe a vitória caso pusesse em seus estandartes militares o “labarum”, o X com o P sobreposto, as primeiras duas letras gregas da palavra Cristo. Constantino fez o que Nosso Senhor disse, e derrotou Maxêncio na batalha da Ponte Mílvia. Tendo assumido o firme controle de Roma, ele emitiu, no ano seguinte, o Édito de Milão.

Durante os 250 anos anteriores, adoradores de Cristo sofreram dez perseguições sanguinárias de imperadores romanos, de Nero (37-68) a Diocleciano (243-316). Os cristãos recusaram a religião pagã do Estado, e então o Estado baniu o cristianismo. Em 325, Constantino endossou a ortodoxia do Concílio dogmático de Nicéia. Em 380, o imperador Teodósio fez do cristianismo a religião oficial de Roma, e em 392 Teodósio proibiu o culto pagão.

Assim, Constantino começou aquela união entre Igreja (Católica) e Estado que foi a fundação da Cristandade, melhor conhecida hoje como “Civilização Ocidental”. Por mais que na prática possa ter havido ao longo das épocas o abuso dessa união, ela é em princípio imensamente frutuosa para a salvação das almas. É necessário apenas pensar em como algum município, mesmo hoje, iria se beneficiar com um padre são e um policial são complementando um ao outro. Por 1600 anos a Igreja Católica sustentou esse princípio de união entre Igreja e Estado, enquanto o liberalismo revolucionário tem constantemente procurado miná-lo pelos últimos 200 anos. Apenas com o Vaticano II a Igreja, por fim, cedeu, e passou a repudiar, em razão de seus ensinamentos sobre liberdade religiosa na Dignitatis Humanae, a doutrina do Estado Católico. Um líder dos neo-modernistas no Concílio, Padre Yves Congar regozijou-se pelo Concílio ter posto um fim à “Igreja constantiniana”.

Agora, é verdade que a ligação do clérigo com as autoridades mundanas irá trazer tentações do mundanismo com ela, mas qualquer Estado é obrigado a fazer cumprir as leis que correspondam a alguma visão religiosa ou anti-religiosa de Deus e do homem. Para ver o quão difícil é levar uma vida católica quando essa visão do Estado concorda com a anti-religião do humanismo secular, apenas olhe à sua volta. Foi a pressão por todos os lados do Estado moderno irreligioso sobre os bispos do Vaticano II que os fez querer mudar a Igreja Católica para se ajustar ao mundo moderno. A mesma pressão está agora sendo feita sobre a liderança da Fraternidade Sacerdotal São Pio X para que siga o caminho da revolução.

Constantino, ao contrário, vem contribuindo ao longo das épocas para a salvação de milhões de almas, um feito pelo qual ele certamente está no Céu. Imperador Constantino, rogai por nós.

Kyrie eleison
 

sábado, agosto 24, 2013

Comentários Eleison: Visão da Resistência

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXIX – (319) – (24 de agosto de 2013):
  
 
VISÃO DA RESISTÊNCIA



            Algumas almas católicas que hoje mantêm a fé católica estão temendo pela direção que vem sendo tomada pela liderança da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, e como elas apreciam o quanto vinham recebendo da Fraternidade nas últimas décadas, elas desesperadamente optaram por uma nova Fraternidade substituta. Elas temem que a diferente visão de uma rede de pequenos grupos de resistência seja o seu futuro, mas podem ser tranquilizadas ao saberem que foi essa a visão de um proeminente profeta e pioneiro do movimento Tradicional, o padre dominicano francês Roger-Thomas Calmel (1914-1975). Aqui está uma página, livremente traduzida e adaptada do francês, de sua “Breve Apologia para a Igreja de todos os Tempos (pp. 48-51): --
“Por mais loucamente que possa se portar a hierarquia católica, padres não podem tomar o lugar dos bispos, e nem podem os leigos tomar o lugar dos padres. Estamos nós então pensando em criar uma liga ou associação mundial de padres e leigos cristãos para entrar no diálogo com a hierarquia e forçá-la a restaurar a ordem católica? É uma grande e tocante ideia, mas ela é irreal. Isso porque nenhum grupo que queira ser um grupo da Igreja, mas sem ser uma diocese, ou uma arquidiocese e nem uma paróquia e nem uma ordem religiosa, se encontrará sob alguma das categorias sobre as quais e pelas quais a autoridade é exercida na Igreja. Irá ser um grupo artificial, um artefato desconhecido para qualquer dos grupos reais da Igreja que são estabelecidos e reconhecidos como tais.
Assim, como com qualquer agrupamento de homens, os problemas de liderança e autoridade irão surgir, e quanto maior o grupo, mais acentuados serão. Infalivelmente irá se cair nisto: por ser uma associação, o grupo deve resolver o problema da autoridade; por ser artificial (não ser nenhum tipo de grupo natural ou sobrenatural), ele não pode resolver o problema da autoridade. Surgirão rapidamente subgrupos rivais, a guerra será inevitável, e não haverá meios canônicos para terminá-la ou travá-la.
Estamos então condenados a não poder fazer nada no meio do caos, um caos frequentemente sacrílego? Eu não penso assim. Em primeiro lugar, a indefectibilidade da Igreja garante que até o fim do mundo haverá pessoal suficiente compondo uma genuína hierarquia a manter os sacramentos, especialmente a Eucaristia e as Sagradas Ordenações, e a pregar a única e imutável doutrina da Salvação. E em segundo lugar, quaisquer que sejam as falhas da real hierarquia, todos nós, padres e leigos, temos nossa pequena parcela de autoridade.
Portanto, que o padre apto a pregar vá aos limites de seu poder de pregar, absolva pecados e celebre a verdadeira Missa. Que a Irmã que educa vá aos limites de sua graça e poder para formar moças na fé, na boa moral, na pureza e na literatura. Que cada padre e leigo, cada pequeno grupo de leigos e padres, que tenha autoridade e poder sobre um pequeno forte da Igreja e da Cristandade, vá aos limites de suas possibilidades e poderes. Que os líderes e ocupantes de tais fortes se conheçam e mantenham contato uns com os outros. Que cada um dos fortes protegidos, defendidos, treinados e dirigidos em suas orações e cantos por uma autoridade real se torne, tanto quanto possível, uma fortaleza de santidade. É isso que irá garantir a continuação da verdadeira Igreja e irá preparar eficazmente sua renovação no bom tempo de Deus.
Então nós não precisamos ter medo, mas orar com toda confiança e exercer sem medo, na esfera que é nossa, de acordo com a Tradição, o poder que nós temos, preparando​ ​assim o feliz tempo em que Roma voltará a ser Roma e os bispos voltarão a ser bispos.”

 Kyrie eleison

 

sábado, agosto 17, 2013

Comentários Eleison: Condição Patológica

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXVIII – (318) – (17 de agosto de 2013):

CONDIÇÃO PATOLÓGICA

            Isabel, a Católica, a grande Rainha da Espanha, segundo um relato, encomendou certa vez uma pintura que mostrava um padre no altar, uma mulher dando à luz e um criminoso sendo enforcado. Em outras palavras, que cada um faça o que tem que fazer, e não outra coisa. Mas esses “Comentários” sugeriram semana passada que hoje as pessoas não estão sendo o que elas são: professores frequentemente não ensinam, médicos frequentemente não curam, policiais frequentemente não protegem, e – o pior de tudo, eu poderia ter acrescentado – padres frequentemente não estão sendo homens de Deus. Uma palavra moderna usada por um amigo italiano para descrever esse desajuste à realidade tão propagado hoje em dia é: “patológico”.  

            Agora, “patológico” é uma palavra pertencente a um jargão de psiquiatras que é propriamente conhecido como “psychobabble”, que se refere a palavras que se disfarçam de novinhas em folha, com muitas sílabas, mas que na verdade representam simplesmente as boas e velhas misérias da natureza humana decaída. Ora, os psiquiatras, eles mesmos irreligiosos, não podem resolver problemas de irreligiosidade, embora ao menos eles estejam, por assim dizer, tentando. Assim, a novidade do “psychobabble” serve pelo menos para sugerir que há algo sem precedentes nas misérias que têm se acumulado nos seres humanos desde os séculos passados até então, culminando na apostasia. Meu amigo escreve:--

            “A patologia pode significar uma doença ocasional ou congênita e, por extensão, um modo de ser anormal ou distorcido que, seja inato ou adquirido, se torna parte de uma constituição de um indivíduo. O mesmo conceito pode ser aplicado por extensão a um grupo de indivíduos ou uma sociedade. Desse modo, pode-se falar da patológica, ou seja, da doente, anormal, condição do mundo moderno. E independente de ser adquirida ou inata, não é vista como ela é pela pessoa ou pessoas relacionadas. Mais ainda, como elas a vêem como normal, a usam como um escudo, e mesmo se gabam dela. A anormalidade se torna normal e vice versa; esse é o drama do mundo moderno e do homem moderno.”

            Então nós devemos encontrar o padre negligenciando o altar, a mulher não dando à luz e os criminosos não sendo enforcados. Mas esse é exatamente o mundo em torno de nós – o “psychobabble” corresponde aos fatos! Assim, aqui está o que o mesmo amigo disse sobre como os católicos devem reagir à essa condição patológica do mundo moderno:

            “Os católicos precisam entender que nós estamos vivendo em uma situação sem precedentes em que todo o senso da realidade objetiva vem sendo continuamente perdido. Isso significa para a Igreja que os pontos de referência ainda válidos há 50 anos não mais se aplicam. Soluções diferentes são buscadas não só para que se tenha em conta a possibilidade de a desordem aumentar ainda mais, mas também para se permanecer elástico o suficiente a fim de se adaptar à situação que constantemente piora. Se então a doutrina é fundamental e decisiva, os católicos e os futuros sacerdotes devem ser ensinados doutrinariamente como esse fim dos tempos é único. Os Evangelhos falam-nos de sua vinda no futuro, mas eles estão conosco aqui e agora, e estão sujeitos a causar somente o pior, até o momento em que Deus disser que é suficiente.”

            Em resumo, séculos de apostasia crescente têm acumulado na raça humana uma recusa da realidade que pode ser chamada de “patológica”, e que está causando desconhecidos níveis de angústia nas pessoas, angústia não aliviada por um nível de prosperidade material igualmente sem precedentes. A Igreja Católica combateu essa apostasia, mas quando no Vaticano II ela desistiu do combate, a fantasia patológica tomou conta do mundo, e deu uma guinada em direção ao Anti-Cristo. O Arcebispo Lefebvre criou uma fortaleza de sanidade dentro da Igreja em ruínas, mas agora a mesma patologia está a caminho de tomar conta de sua Fraternidade.

            Professores, ensinem! Médicos, curem! Mulheres, dêem à luz! Padres, estudem tudo o que o Arcebispo disse e fez. E Rainha Isabel, por favor, rogai por nós.

Kyrie eleison


segunda-feira, agosto 12, 2013

Comentários Eleison - Suplemento: Apologia Pro Nuci


Comentários Eleison - por Dom Williamson
Suplemento: Apologia Pro Nuci - 07 de agosto de 2013

APOLOGIA PRO NUCI


Prefácio do autor --
Pobrezinho de mim! Em espanhol me acabou de aparecer
De um colega, uma lista de inúmeras razões pelas quais
A um louco bispo Inglês deve-se temer
Como um inimigo da Fé. "Oh, caro!", eu digo, e mais.
Pois se eu não responder, então, é ele quem me diz,
Isso prova a minha culpa. E ainda que adiante a tenha anulado ou piorado,
Deixem-me, assim, defender este britânico, mas em versos que fiz,
Versos esticomíticos, de modo pouco sério e despreocupado.
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O SILÊNCIO
A Resistência começou bem antes do ano passado.
É verdade, e quem abriu o caminho é por mim apreciado.
Por anos, você não falou: o mal estava lá.
A gente sempre espera que, o ápice, o mal nunca atingirá.
O Motu Proprio - truque Romano, você elogiou!
É verdade. Para ver o bem, este Bispo tanto se apressou.
Você nada falou quando o grupo de bons colegas foi expelido.
Sua causa, mas não suas pessoas, eu havia defendido
Você falou sobre os Seis Milhões – o que tinha em mente?
O mal de uma religião substituta, obviamente.
Você acha que pode atrair direitistas? Sem esperança!
Na salvação deles há em você desesperança?
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O PASSADO
Você nos diz muito pouco sobre seu passado.
Em pessoas e personalidades você deveria por último estar interessado.
A Winchester College ao mau Império servira.
O seu ensino, em outra parte você mostra que admira.
Um verdadeiro ninho de espiões era a sua universidade.
Que a espionagem teria algum interesse para mim, isso é mera falsidade
Seu guru, Malcolm Muggeridge, era um agente infiltrado.
Ele morreu católico. À verdade ele havia principalmente visado.
Fabianos são lobos disfarçados em peles de cordeiro, imbuídos de maldade.
Ele não era Fabiano, e reconheceu a verdade.
A nova religião foi tudo o que ele conheceu.
Profundamente ele pensou e rezou. Um coração verdadeiro era o seu.
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NA SSPX
Você é um agente da nova religião!
Se o Arcebispo Lefebvre é minha estrela-guia, não.
Schmidberger e você – Duas pinças de um caranguejo, eu diria.
Vá dizer isso a ele! "Tagarela idiota!”, é o que lhe responderia.
Você fala tão duro, mas apenas para o estilo Trad manter.
Bem, a julgar pelos frutos, um tanto estranho isso parece ser.
Sua excentricidade é apenas um modo mascarado de se portar.
Para envenenar os católicos? A eles você precisa perguntar.
Subversão britânica - essa é a chave para que, você, qualquer um possa entender.
Subverter o Diabo é o que pretendo fazer.
Como Reitor do Seminário, bons homens você expulsou.
Poucos eu para sempre afugentei. A maioria por sair optou.
Espionagem e utilização de terror marcaram sua direção.
Seminaristas inteligentes me achavam um bobão.
Você ajudou a expulsar os Nove, homens com bondade e sinceridade.
Mas que à linha do Arcebispo não estavam em conformidade.
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O BRASÃO DE ARMAS
Seu brasão de armas - uma rosa sobre uma cruz!
Estou perdido! Então eu sou membro da Rosacruz?
Não, não! A imagem de Nosso Senhor pela rosa é apagada!
Céus! E o quê são o leão a espada?
De Veneza e de usurários venezianos, são representação.
E o Cardeal Sarto, você acha que nasceu em que região?
De qualquer forma, a rosa do M I 5 está em seu escudo imprimida.
E então para a Inteligência Britânica eu dedico a minha vida?
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O ENSINO
Do papa você nega a infalibilidade.
Para ele trabalhar assim fora da Tradição, não há possibilidade.
Sua "re-incomunhão", você saudou como se legítima fosse.
Com pessoas doces pode ser preciso ser doce.
Você diz que o Papa Bento não sabia o que fazia.
Um mundo inteiro em erro em muito nos influencia.
Você diz que um Papa pode reger duas igrejas. Como isso seria?
Como, ao mesmo tempo, uma maçã e sua podridão uma mão seguraria.
Você gosta do trabalho insano de Maria Valtorta.
Essa acusação é uma de que não me esquivo, o que não me importa.
Todos os tipos de aparições fazem você se entusiasmar.
São Paulo disse: “Peneire, e mantenha o que é bom”. Que novidade há?
Os novos ritos de Ordens Sacras você defende.
Dizer que no limite da invalidade eles estão escritos, é o que se pretende.
Schmidberger e você a mente do Arcebispo quiseram distorcer.
A teologia católica não permite que a cegueira alguém venha a ter.
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A CONCLUSÃO
Você não é amigo dos católicos da América Latina.
Cinco anos eu passei na Argentina.
À Resistência Católica você só causou prejuízo.
Deixe o tempo julgar. Será meu o seu juízo.
A Resistência, para um imenso beco sem saída você está liderando.
Eu não a estou liderando, apesar de muitos por isso estarem pleiteando.
O Apocalipse é um de seus temas constantes.
Deverá nos dar uma pausa esses tempos terrificantes.
Você é britânico! Inglês! O que mais se precisa afirmar?
Mate-me com um tiro quando o meu país eu deixar de amar!
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ENVOI
Seu insulto, querido Padre, eu não levo a mal.
Oro para que nos encontremos na bem-aventurança eternal.
Mas enquanto minha raiva você não tenha provocado,
Deus julga cada palavra -- Tenha cuidado.
RNW, Londres, 7 de agosto de 2013.

sábado, agosto 10, 2013

Comentários Eleison: Canonizações Verdadeiras?

Comentários Eleison  por Dom Williamson
CCCXVII  (317)  (10 de agosto de 2013):

CANONIZAÇÕES VERDADEIRAS?

      “O que o senhor acha da intenção do Papa Francisco” de “canonizar” João Paulo II e João XXIII na próxima primavera? Não é uma forma de “canonizar” o Vaticano II? E isso não levanta a questão da autoridade, uma vez que todos os manuais de teologia antes do Vaticano II ensinam que o Papa é infalível quando ele pronuncia uma canonização?” Essa foi a séria pergunta (ligeiramente modificada) feita a mim recentemente por um jornalista de Rivarol. Eu respondi o seguinte:

       A determinação manifestada pelos chefes da Igreja Conciliar para canonizar os Papas conciliares demonstra a firme vontade dos inimigos (ao menos objetivamente) de Deus para terminar com a religião católica e substituí-la pela nova religião da Nova Ordem Mundial. Assim, a uma Neo-Igreja correspondem neo-santos a serem fabricados por um processo de canonização que tenha sido desmontado e “renovado”. Como sempre acontece com o modernismo, as palavras permanecem as mesmas, mas seu conteúdo é bastante diferente. Portanto, os católicos que têm a verdadeira Fé não precisam se preocupar nem um pouquinho se essas neo-canonizações são infalíveis ou não. Elas são provenientes da Neo-Igreja, que é uma imitação da Igreja Católica. 

      Mas então, o que é essa imitação? Essa é uma pergunta delicada, pois facilmente se é acusado de ser um “sedevacantista”, uma palavra que hoje em dia assusta as pessoas quase tanto como a palavra “antissemita”. Mas o que nós precisamos é nos concentrar na realidade e “julgar conforme a justiça, e não de acordo com a aparência”, como diz o Senhor (Jo VII, 24). Não devemos nos deixar enganar pelas aparências, por emoções ou por palavras. Hoje, por exemplo, as escolas não se tornaram centros de desaprendizagem em vez de aprendizagem, os hospitais lugares de matar em vez de curar, a polícia instrumento de opressão em vez de proteção, e assim por diante? 

      Assim, pelo que a Irmã Lúcia chamou de processo de “desorientação diabólica”, os clérigos têm se tornado agentes da mentira em vez da verdade. Eles permitiram que suas mentes e corações fossem tomados pelas ideias e pelos ideais da Revolução, aquele levante radical e universal do homem moderno contra o seu Deus e Criador. No entanto, esses traidores objetivos (que ainda podem ter a intenção em seus corações de estarem servindo a Deus – Jo. XVI, 2) ainda são religiosos no sentido de que ninguém mais do que eles está “sentado na cadeira de Moisés”, nas palavras de Nosso Senhor (Mt . XXIII, 2). O Papa está sentado lá. 

      Em outras palavras, a Igreja de imitação em questão é a Igreja ocupada não por homens que não são religiosos, mas por clérigos cujos corações e cabeças estão mais ou menos ocupados por uma nova religião, que não é absolutamente Católica. Mas note o “mais ou menos”. Assim como a podridão não toma uma maçã de uma só vez, assim a igreja de imitação, ou a Neo-Igreja, pode estar no processo de eclipsar a Igreja Católica, mas dentro dela ainda há alguns bispos, muitos sacerdotes e uma série de leigos que podem guardar a Fé Católica até agora.

      Então, quando se trata das autoridades da Neo-Igreja, eu trataria a sua autoridade como se faz com um pai de família que ficou temporariamente louco. Não se presta mais atenção à sua loucura do que estar observando o momento em que essa chega ao fim. Mas nesse meio tempo não se deixará de amá-lo ou até mesmo de respeitar a autoridade intrínseca à sua paternidade. Então, que Deus me ajude.

Kyrie eleison.

sábado, agosto 03, 2013

Comentários Eleison: Danos Contínuos II

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXVI - (316) - (03 de agosto de 2013):

DANOS CONTÍNUOS - II

Além de argumentar que a Declaração Doutrinária de meados de abril do ano passado foi recusada por Roma e por isso não tem mais interesse, as pessoas que afirmam que não tem havido mudança significativa na Fraternidade Sacerdotal São Pio X também recorrem à recente Declaração dos três bispos de 27 de junho, que foi obviamente concebida para reassegurar às pessoas que o barco salva-vidas da FSSPX não está danificado e ainda está em perfeitas condições de navegação. No entanto, as almas que não querem se afogar precisam olhar mais atentamente.

Foi o 11 º parágrafo que se tornou notório. Em resumo, os bispos aqui afirmam que eles pretendem no futuro seguir a Providência se Roma logo retornar à Tradição, ou se reconhecer explicitamente o direito e o dever da FSSPX de se opor publicamente aos erros conciliares. Agora, esta cláusula "se" está fora de questão porque nada menos do que uma intervenção divina irá fazer com que os inimigos de Deus, firmemente estabelecidos dentro do Vaticano, abram mão de seu Concílio. Chegamos à cláusula "ou". O que os bispos quiseram dizer com Roma "explicitamente reconhecendo" o "direito e o dever" da FSSPX de se opor ao Concílio?

O significado óbvio é que Roma iria conceder à FSSPX algum status oficial dentro da Igreja mainstream, ou alguma forma de regularização canônica. Algum reconhecimento desse tipo é, obviamente, para o que os líderes da FSSPX têm se esforçado sempre desde que adotaram as ideias do think-tank parisiense, o GREC, há mais de dez anos. Mas quando os líderes em abril do ano passado aceitaram amplamente os termos de Roma para tal reconhecimento, eles criaram tal tempestade de protestos dentro da FSSPX que foram forçados a fingir que eles não querem mais qualquer reconhecimento com base nos termos de meados de abril. Então o que é que a cláusula "ou" de 27 de junho significa?

Poucos dias depois, o Distrito Superior Francês fez exatamente essa pergunta a eles. Foi lhes dito que a cláusula "ou" não implica necessariamente qualquer reconhecimento oficial, mas apenas a eventualidade de um Papa Católico fraco sendo por um lado católico o suficiente para reconhecer "o direito e o dever" da FSSPX, etc., mas por outro lado muito fraco e isolado dentro de Roma para ser capaz de impor aos romanos qualquer reconhecimento oficial, etc. E o Distrito Superior, ao menos parecia estar contente com essa resposta quando ele imediatamente a transmitiu aos sacerdotes de seu distrito.

Bem, surpresa total! Em primeiro lugar, quem, apenas lendo o texto de 27 de junho, poderia jamais ter imaginado que era isso que os bispos tinham em mente? E em segundo lugar, o que no texto de 27 de junho exclui uma série de outras possibilidades que os bispos aceitariam em nome de "seguir a Providência"? Tendo em conta que em 17 de junho de 2012, o Bispo Fellay escreveu a Bento XVI que ele iria continuar a fazer todo o possível para buscar uma reconciliação entre Roma e a FSSPX, o que no texto de 27 de junho impede os ardilosos romanos de eventualmente fazer aos bispos tal proposta de reconciliação que - sempre em nome da "Providência" - eles não poderiam recusar?

Boa sorte para quem aceita a interpretação da cláusula "ou" dada ao Distrito Superior Francês. No entanto, há muitos de nós que continuarão sem se convencer de que a liderança da FSSPX desistiu de seu sonho louco de conciliar o inconciliável. Até clara prova em contrário, vamos presumir que os líderes permanecem, ainda que involuntariamente, com a intenção de transformar o barco salva-vidas da FSSPX em um barco da morte. E quando todo mundo se afogar, eles vão dizer que é tudo culpa do oceano!

Kyrie eleison.