sábado, dezembro 28, 2013

Comentários Eleison: Billot II

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXVII – (337) – (28 de dezembro de 2013): 

BILLOT II


            Não só apenas com base nos nomes das sete Igrejas da Ásia (cf. “Comentários” 337), mas também no conteúdo das sete Cartas endereçadas a elas (Ap 2-3) que o Cardeal Billot estabelece a conexão entre as Cartas e os sete principais períodos da história da Igreja. Nesse sentido, é de especial interesse a Carta à igreja de Sardes (Ap 3, 1-6) que corresponderia à nossa própria Idade, a quinta, a Idade da Apostasia. Depois de evocar a riqueza, a luxúria e a prosperidade material associadas a Creso, famoso governante de Sardes, Billot escreve:

“Como se poderia esperar, esta igreja parece estar em um estado de declínio espiritual. A apostasia e a decadência estão por todos os lados, mas enquanto a maioria das almas abandona a religião, há umas poucas que permanecem fieis a Cristo. O anjo disse: ‘Tens alguns nomes em Sardes que não contaminaram as tuas vestes’ mas: ‘Tens o nome de vivo, mas estás morto!’. O nome (mas não a realidade) da vida, do conhecimento, da liberdade, da civilização, do progresso; e estás morto, sentado na obscuridade e na sombra da morte, porque a luz da vida, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, foi rejeitada. Por isso, ao bispo de Sardes foi dito: ‘Sê vigilante e consolida as coisas que ainda restam, e que estão para morrer’. E a ele é recomendado antes de tudo que se apegue infalivelmente a todas as tradições dos santos Apóstolos, sem se afastar de modo algum do significado que elas tinham para os Pais da Igreja, com a escusa ou sob a aparência de um entendimento mais profundo: ‘Lembra-te do  que recebeste e ouviste: e observa-o e faz penitência’. E isso é suficiente para a Quinta Idade. O que se segue é um pouco mais animador”.
E o Cardeal passa para a Sexta e para a Sétima Idades.

            Os leitores que nunca leram os primeiros seis versos de Apocalipse III em conexão com nossos próprios tempos deveriam se interessar em fazê-lo. A conexão é notável e não acidental.

            É notável porque “consolida as coisas que ainda restam, e que estão para morrer” corresponde exatamente à Contra-Reforma salvando o Catolicismo do Protestantismo, aos Papas anti-liberais salvando da Revolução Francesa o que remanesceu da Igreja, a Monsenhor Lefebvre (e outros) resgatando a Tradição do Concílio Vaticano II e, agora, à Resistência lutando para salvar o que pode ser salvo do colapso de sua Fraternidade no liberalismo. Os católicos podem seguramente se animar com essa perspectiva: que sua duradoura e aparentemente desesperançada ação de retaguarda vem de um passado distante e se ajusta a um futuro finalmente triunfante. É por isso que nos foi dado o livro do Apocalipse.

            Também, não é a conexão acidental. Nosso Senhor prometeu aos Apóstolos (Jo 16, 12-14) que seu Espírito, o Espírito Santo, estaria com eles e com seus sucessores ao longo das Idades para lhes revelar o que só no momento certo eles precisariam saber. Foi somente quando a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) devastava a Alemanha que ao Venerável Holzhauser foi dado o entendimento das Sete Idades ocultas nas Cartas às sete igrejas da Ásia. De modo similar se deu apenas quando a Revolução Russa estava prestes a estourar, quando nós precisamos que Nossa Senhora nos assegurasse em Fátima que no fim seu Imaculado Coração triunfaria. É verdade que a Igreja está sendo agora eclipsada (vejam na Internet os vídeos com trechos da Missa pública celebrada recentemente no Brasil pelo clérigo de branco), mas continua não havendo necessidade ou justificativa para nos tornarmos liberais.

Kyrie eleison.  

         

sábado, dezembro 21, 2013

Comentários Eleison: Billot I

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXVI – (336) – (21 de dezembro de 2013): 

BILLOT I

            Durante anos eu venho dando uma conferência sobre as Sete Idades da Igreja, baseada no Comentário do livro do Apocalipse do Venerável Bartholomew Holzhauser. Holzhauser, um padre alemão da primeira metade do século XVII, disse que o escreveu sob inspiração. A conferência tem sido popular, especialmente porque ela encaixa a loucura de nossa época em um padrão harmonioso dentro da história da Igreja. O que eu não sabia, no entanto, é que a visão de Holzhauser é compartilhada por um famoso teólogo clássico, o que torna ainda mais difícil rejeitar Holzhauser como um mero visionário ou “aparicionista”.

            Está em um Epílogo do primeiro volume de seu clássico Tratado sobre a Igreja de Cristo, que o Cardeal Louis Billot (1846-1931) expõe em alguns detalhes a correspondência afirmada por Holzhauser entre os sete principais períodos da história da Igreja e as sete Cartas às sete igrejas da Ásia que compõem os capítulos II e III do livro do Apocalipse. Não há qualquer menção a Holzhauser no Epílogo de Billot, mas é difícil imaginar que não haja conexão. Contudo, Billot tem o cuidado de iniciar a correspondência não de qualquer visão ou inspiração, mas dos nomes gregos das sete igrejas. A conformidade desses nomes ao desenvolvimento da história da Igreja ou é uma notável coincidência, ou mais provavelmente um traço da ação da Providência – Deus, o Mestre da História!

            Assim Billot diz que diz que Éfeso (Ap 2, 1-7) significa em grego “partir”, “pôr-se em marcha”, o que é obviamente adequado à Idade Apostólica (33-70 d.C.) na qual a Igreja começou. Esmirna (Ap 2, 8-11) denomina a segunda igreja, e significa “mirra”, correspondendo à paixão e sofrimento da Segunda Idade da Igreja (70-313 d.C.), aquela dos Mártires. Pérgamo (Ap 2, 12-17) foi uma cidade famosa pela literatura, de modo que “pergamum” veio a significar “material no qual se escreve”, correspondendo ao grupo de grandes escritores da Igreja pertencentes à Terceira Idade da Igreja, que é a dos Doutores (313-800). Tiatira denomina a próxima igreja (Ap 2, 18-29), e quer dizer “esplendor do triunfo”, correspondendo aos 1000 anos de triunfo da Igreja Católica, que se entendeu desde Carlos Magno (742-814) até a Revolução Francesa (1789).

            Esses mil anos poderiam também ser contados por volta da conversão de Clóvis (496) até a eclosão do protestantismo (1517). Mas se é marcado o declínio da Cristandade a partir da Reforma ou da Revolução, de qualquer modo Sardis, que denomina a Quinta Igreja (Ap 3, 1-6), foi a cidade de Créso, um homem fabulosamente rico, que evocava dinheiro em abundância, prosperidade material e decadência espiritual, tal como estão caracterizados os tempos modernos. De fato, as advertências à igreja de Sardis correspondem perfeitamente a nossa própria Idade atual, como nós veremos com Billot nos próximos “Comentários”.

            Claramente nos movemos no futuro com a Sexta Igreja, a da Filadélfia (AP 3, 7-13), que significa “amor” (Fil) da “fraternidade” (adelfia). O Cardeal Billot relacionou esse nome ao grande triunfo da Igreja, marcado notavelmente pela conversão dos judeus como profetizado por São Paulo (Rm 11, 12), e por sua reconciliação com os gentios, finalmente irmãos em Cristo (Ef 2, 14-16).

            Mas a igreja da Filadélfia é advertida sobre essa tribulação que está por vir (Ap 3, 10), que corresponde à Sétima e última Idade da Igreja, que é a de Laodiceia (Ap 3, 14-22), denominada pelo juízo (dike) dos povos (laon). Será a Idade da última e mais terrível prova da Igreja, a perseguição do Anticristo, seguida pelo Julgamento Geral de todas as almas que então já terão vivido, ou seja, de todos os povos.


Kyrie eleison

sábado, dezembro 14, 2013

Comentários Eleison: Padre Rioult II

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXV – (335) – (14 de dezembro de 2013): 

PADRE RIOULT II

            Permitam-me citar o Padre Rioult, de sua entrevista de 6 de outubro em Paris (cf. EC 333), uma outra questão muito discutida dentro da Resistência católica atual – a da organização. Perguntaram ao Pe. Rioult se ele achava que seria possível criar uma organização de alcance mundial, ou se a opção seria por algum tipo de associação livre, do modo como se agrupam os sedevacantistas há alguns anos. Aqui está sua resposta, desta vez em suas próprias palavras:

“Nos próximos meses eu posso estar criando um tipo amplo de associação baseada na amizade com outros católicos da Resistência, sejam eles sedevacantistas ou não, já que o sedevacantismo é, para mim, uma opinião. Mas a situação aqui e agora não é ainda propícia para uma tal situação. Em todo caso, tudo o que é católico é nosso. Assim nós trabalharemos com quaisquer católicos que estejam prontos para agir como católicos e resistir ao reino supremo do modernismo dentro da Igreja. Então, sim para um amplo tipo de associação que compartilhe o mesmo bem comum; a fé e devoção da Igreja Católica, a defesa da Fé. Ter-se isso como bem comum viabiliza criar amizade entre todos os nossos grupos.

            Eu acho que quanto mais nos aproximamos do fim dos tempos, mais os católicos terão que ser anarquistas – não no princípio, mas na prática. Quero dizer com isso que eles terão que enfrentar todos os poderes constituídos, pois estes terão sido neutralizados, indeterminados ou subvertidos, operando de modo contrário à ordem natural. Assim, na prática os católicos terão que se levantar contra todos eles, na Igreja ou no Estado... porque eles todos serão deformados sob a influência maçônica... servindo de modo ou de outro ao príncipe deste mundo. Então eu acho que será muito difícil criar alguma estrutura de nível mundial. O padre dominicano francês Pe. Roger Calmel tinha uma visão muito clara das coisas. Já nos anos de 1970 ele dizia que os líderes naturais de um dado lugar terão que fazer brilhar o seu ministério naquele lugar, unidos por laços de amizade aos líderes de outros lugares.

            Nos anos de 1970, no periódico francês “Itineraires” (nº 149), ele escreveu: ‘O combate pela Fé terá que ser travado por pequenos grupos que se recusam a entrar em quaisquer organizações estruturadas ou universais. Dentro desses vários grupos, sejam eles uma pequena escola, um humilde convento, um grupo de oração, uma reunião de famílias cristãs ou uma organização de peregrinação, a autoridade é real e aceita por todos. Tudo o que é necessário é que cada católico vá tão longe quanto a sua graça e a sua autoridade o levem na pequena esfera que certamente lhe compete liderar, e na qual se encarregará de fazê-lo sem que sobre si haja qualquer grande estrutura administrativa’.”

            Se o Pe. Calmel tivesse escrito nos anos de 1970 para as circunstâncias da década de 70, se poderia dizer que ele estava olhando muito à frente, ou que Monsenhor Lefebvre, ao organizar a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, mostrou ser possível que isso se desse ainda naquela década. Mas eu acho que o Pe. Calmel estava certo em relação ao tempo. Alguém poderia ainda dizer, observando o que aconteceu com a Fraternidade no ano passado, que ela não estaria destinada a durar muito. Monsenhor Lefebvre, como o Papa São Pio X, conduziu uma maravilhosa ação de retaguarda, mas deve ser levado em conta o tanto menos que Monsenhor pôde realizar agindo setenta anos depois do Papa, e agora já se passaram quarenta anos desde a ação do Monsenhor. Em um mundo marchando em direção à sua ruína, a realização da profecia do Pe. Calmel não poderia ser indefinidamente retardada.

            Caros leitores, se nós desejamos ficar com Nosso Senhor, nós não temos outra escolha que não nos prepararmos para a luta. Em minha opinião, o Pe. Calmel e o Pe. Rioult estão certos. Mãe de Deus, Auxiliadora dos Cristãos, ajude-nos!


Kyrie eleison.   

sábado, dezembro 07, 2013

Comentários Eleison: Resistência Transatlântica

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXIV– (334) – (7 de dezembro de 2013)

RESISTÊNCIA TRANSATLÂNTICA


            Durante a viagem no fim do último outono, eu estive em centros da Resistência Católica no Canadá, nos Estados Unidos e no México, e observei que, embora a Resistência seja fraca em número, ela é forte na Fé, e isso significa que ela certamente tem um futuro. Mais uma vez a história de fieis remanescentes está a se repetir. Com Deus é a qualidade que conta, e não a quantidade.

            Quebec, outrora a mais católica província do Canadá, foi devastada pelo Vaticano II, mas depois do Concílio a Fraternidade Sacerdotal São Pio X construiu importantes centros tradicionais em Montreal e em Levis, próximos à cidade de Quebec. Em Levis os tradicionalistas estão agora se dividindo, já que almas fortes na fé começaram a perceber a perigosa mudança de curso em direção à Neoigreja por parte da Fraternidade. A cisão entre os tradicionalistas é uma grande lástima, mas a Fé deve vir primeiro, e por isso as almas podem ver que a elas está sendo dada a graça de se unirem à Resistência. Esta tem o futuro que a Neoigreja não tem.

            Algo de grande interesse para o futuro da Resistência nos EUA é a iniciativa do seminário do Padre Joseph Pfeiffer em Kentucky, que tinha seis seminaristas quando eu passei por lá no início de novembro. Admiro o fato de que o Padre Pfeiffer tenha como intento dar um tipo diferente de formação sacerdotal, apropriado para as insanas circunstâncias de hoje. Uma vez que campos de internato têm sido preparados por todo o território dos EUA por alguns “rebeldes” que se oporão seriamente à Nova Ordem Mundial, é sensato que se esteja pensando em fazer com que futuros sacerdotes aprendam de cor um Catecismo e uma história da Bíblia, como se fossem escritos para crianças! Pois não têm os clássicos seminários da Fraternidade produzido muitos sacerdotes fortes o suficiente na Fé para perceber a necessidade da Resistência? Como após o Vaticano II, tantos “bons” padres estão apenas seguindo adiante.   

            No Texas eu discursei em um encontro de patriotas de direita que vêm por muitos anos se reunido em torno do jornalSpotlight, atualmente o American Free Press, a fim de defender seu país de antipatriotas. É certo que nem todos eles são católicos, mas compreendem que há um problema sério na política de sua nação. De todo modo, eles ouviram atentamente o argumento de que a política é simplesmente uma consequência da religião, ou de sua falta, e que a única solução é um retorno ao Catolicismo.

            No norte do México um antigo sacerdote da FSSPX do Chile, Padre René Trincado, está prosperamente construindo capelas da Resistência que eu visitei em Chiuaua e Saltillo, e parece que ainda outro importante centro da Resistência surgirá brevemente em Guadalajara, a grande cidade que foi o centro dos famosos levantes católicos dos Cristeros nos anos de 1920. De fato, a Resistência é um desorganizado e espontâneo levante dos católicos tradicionais em todo o mundo. Seu senso de Fé está reagindo instintivamente à mudança de direção para a Igreja mainstream que vem sendo imposta pela cúpula da Fraternidade. Essa unidade no retorno à Neoigreja é a unidade pelo suicídio da Fé.

            Minha última parada foi na Cidade do México, cenário da famosa conquista do México em 1521 por Hernán Cortés. Ainda mais merecedora de fama é a conquista espiritual da terra, dez anos depois, por Nossa Senhora em suas aparições em Guadalupe, que criou um país católico totalmente novo. Até hoje seu santuário atrai milhões de peregrinos, e é o mesmo instinto de Fé que está permitindo que outro antigo sacerdote da FSSPX, Padre Hugo Ruiz, comece a construir o que virá certamente a ser um importante centro da Resistência na capital daquela nação.

            Resumindo, o mundo pode estar mergulhando no caos, e a FSSPX mainstream pode sucumbir no esforço de resistir a esse mergulho, mas um resto de almas está percebendo o que está acontecendo, e está agindo para preservar a Fé. Ela pode estar a caminho das catacumbas, mas não irá morrer.

Kyrie eleison.