domingo, março 29, 2015

Comentários Eleison: Bispo Novo

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDII (402) - (28 de março de 2015): 

BISPO NOVO


São José, Patrono da Igreja, muito obrigado,
Por ter o número de seus verdadeiros bispos aumentado!


            A sagração do Pe. Jean-Michel a bispo que se deu na semana passada no Mosteiro da Santa Cruz, no Brasil, foi uma ocasião deleitante. O tempo estava quente e seco. O sol brilhava. Os monges e as Irmãs próximos de Dom Tomás de Aquino se destacaram por transformar uma garagem de concreto e metal em um santuário digno da nobre liturgia, que, aliás, eles também prepararam muito bem. Apesar da notícia tardia, um grupo de padres vindo de todos os lugares das Américas se fez presente; e uma congregação de uma centena de almas, também de muitos países diferentes, seguiu atentamente a cerimônia de três horas.

            Desde então têm se regozijado todos os católicos que estavam até então cientes da necessidade de haver ao menos mais um bispo para ajudar a assegurar a sobrevivência de uma “Tradição Resistente”. A preservação da compreensão que tinha Dom Lefebvre sobre a defesa da Fé católica não podia mais depender de um bispo somente. Aquela sua sagração de quatro bispos em 1988 sem a permissão de Roma, pela “Operação Sobrevivência” em oposição à “Operação Suicídio”, tinha de ser estendida no século XXI. Minhas desculpas a todos os católicos que gostariam de ter comparecido se tivessem sido devidamente informados, mas tudo teve de ser feito, e isso incluía uma medida de discrição, para que se tivesse certeza de que a sagração se realizaria.  
           
            Ela tinha adversários poderosos. A Igreja oficial em Roma reagiu declarando que o sagrante foi “automaticamente excomungado”, mas, assim como em 1988, essa declaração é falsa, porque, segundo a Lei da Igreja, quem comete um ato punível não incorre na penalidade normal prevista – por exemplo: excomunhão por sagrar um bispo sem a permissão de Roma – se tiver agido por necessidade. Isso é bom senso, e havia indubitavelmente necessidade no presente caso. Enquanto o mundo se aproxima mais e mais da Terceira Guerra Mundial, que indivíduo na terra pode estar seguro de sua própria sobrevivência?

            Paralelamente, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X oficial em Menzingen, na Suíça, condenou a sagração de Dom Jean-Michel Faure em um comunicado de imprensa emitido no mesmo dia. Digno de nota neste é a admissão de que o sagrante foi excluído da Fraternidade em 2012 por causa de sua “crítica vigorosa” dos contatos da Fraternidade com Roma nos últimos anos. Menzingen alegava até então que o problema era de “desobediência”. Agora, finalmente, admite que estava sendo continuamente acusado de “traição do trabalho de Dom Lefebvre”. Sem dúvida. Traição e destruição.

            A própria Roma confirma a traição. No dia seguinte ao da sagração, Dom Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, logo após declarar a inexistente “excomunhão”, continuou afirmando que Várias reuniões (entre Roma e a FSSPX) foram realizadas, e mais estão planejadas com certos prelados (romanos), para discutir os problemas que ainda precisam ser esclarecidos em uma relação de confiança; problemas doutrinais e internos à Fraternidade.

            Dom Pozzo prosseguiu: O Papa está esperando que a Fraternidade se decida a entrar na Igreja, e nós estamos sempre prontos com um projeto canônico conhecido (uma prelatura pessoal). É necessário um pouco mais de tempo para que as coisas se tornem claras dentro da Fraternidade, e para que Dom Fellay obtenha um amplo e suficiente consenso antes de dar esse passo.

            Do que mais alguém precisa para ver o que está escrito no muro?


Kyrie eleison.

segunda-feira, março 23, 2015

Comentários Eleison: Argumentação Emotiva

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDI (401) - (21 de março de 2015): 

ARGUMENTAÇÃO EMOTIVA

Dizem os sedevacantistas: “Há algum tempo não temos Papa, pois esses últimos, em verdade, não o são”,
Há neles bons instintos, mas um mau uso da razão.   

            Uma comparação feita ao modo antigo tem a vantagem de ser bastante clara: no lombo de uma mula pode ser difícil equilibrar uma carga mais pesada. Se esta se desloca para a esquerda, é preciso empurrar para a direita; se o deslocamento é para a direita, empurra-se para a esquerda. Mas esse duplo empurrão não é contrastante – tem o único propósito de manter o equilíbrio da carga. De modo similar, o que estes “Comentários” têm argumentado repetidas vezes contra o sedevacantismo não é algo como um empurrão em direção ao liberalismo, nem que sugira que o sedevacantismo seja tão mau como o liberalismo; mas simplesmente que dê a reconhecer que as palavras ultrajantes e ações do atual ocupante da Santa Sé estão induzindo muitos bons católicos a renunciar à sua razão e a julgar a realidade por suas emoções. Esta é uma reação muito comum hoje em dia, mas não é católica.

            Por exemplo, os argumentos sedevacantistas, depois de examinados, nunca são tão fortes como parecem. Vamos olhar para dois que chegaram a mim recentemente, ambos de católicos devotos, fortes na Fé. Eis o primeiro: “os Papas conciliares, especialmente Francisco, não têm confirmado seu rebanho na Fé. Mas é da essência de um Papa fazê-lo. Portanto, os Papas conciliares não são essencialmente Papas”. Em resposta, deve-se distinguir um Papa em seu ser, de um Papa em sua ação. Um Papa se torna essencialmente Papa em seu ser por sua eleição em um Conclave de Cardeais, válida em si mesma ou convalidada por sua subsequente aceitação como Papa pela Igreja Universal (que pode ter sido o caso de mais de um Papa conciliar – só Deus sabe). Assim, pelo contrário, ao confirmar seu rebanho na Fé, um Papa é essencialmente Papa em sua ação. As duas coisas são diferentes, e podem ser separadas. Portanto, um Papa pode falhar em sua ação sem necessariamente deixar de ser Papa em seu ser. Esse é certamente o caso de muitos, se não de todos os Papas conciliares.

            E aqui está o segundo argumento: “que o católico individual e falível se posicione como juiz de erro do Magistério infalível da Igreja, é ridículo. Ao enfrentar então o erro óbvio (por exemplo, o conciliarismo) desse Magistério (por exemplo, os Papas conciliares), esse católico pode apenas concluir que eles não são verdadeiros Papas”. Mas, em resposta, o Papa não é necessariamente o Magistério infalível da Igreja. Se ele não emprega as quatro condições estritas do Magistério Extraordinário, nem ensina de acordo com o Magistério Ordinário da Igreja, então ele é falível, e se ele contradiz esse Magistério Ordinário, então ele está certamente em erro, e pode ser julgado como estando em tal condição por qualquer católico (ou não católico!) que esteja a fazer o uso correto da mente que Deus lhe deu. Caso contrário, como poderia Nosso Senhor ter nos avisado para termos cuidado com os falsos profetas e com os lobos em pele de cordeiro (Mt 7, 15-20)?

            De fato, ambos os argumentos podem provir de uma rejeição emocional aos Papas conciliares: “Eles têm maltratado tanto a Igreja que eu simplesmente não posso aceitar que sejam Papas!”. Mas, e se eu tivesse sido um espectador que observava a Via Crucis original? – “Os mau-tratos sofridos por Jesus foram tais que eu simplesmente não posso aceitar mais que Ele seja o Filho de Deus!”. Não deveria a minha rejeição emocional aos maus-tratos ter sido correta, ainda que a minha conclusão tenha sido equivocada? Há um mistério implicado nos Papas conciliares do qual os sedevacantistas não se dão conta.

            Agora, pode ser, quando a Igreja um dia recobrar seus sentidos, que a única autoridade competente venha a declarar que os Papas conciliares não foram Papas de fato; mas, por enquanto, os argumentos apresentados até aqui para provar que a Sé de Roma está vacante não são concludentes como eles pretendem fazer parecer.


Kyrie eleison.

sábado, março 14, 2015

Comentários Eleison: O Retorno do Caos

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CD (400) - (14 de março de 2015): 

O RETORNO DO CAOS
       

Como a Igreja Católica no caos está a mergulhar,  
É um presente de Deus se ainda há alguém a pensar.  

            Já foi citado nestes “Comentários” um fascinante parágrafo do livro Iota Unum, escrito pelo leigo italiano Romano Amerio e muito admirado por Dom Lefebvre. Amerio desmonta magistralmente em sua obra todos os erros doutrinários do Vaticano II. Na terceira parte do capítulo 42 ele escreve: (1) Se a crise atual tende a desnaturar a Igreja, e se (2) essa tendência é interna à Igreja e não provém de um ataque externo, como o foi em outras ocasiões, então (3) nós estamos caminhando para uma escuridão disforme que impossibilitará o diagnóstico e o prognóstico, e (4) mediante a qual não haverá outro refúgio para o homem senão o silêncio (edição espanhola em e-book, pg. 560; edição inglesa, pg. 713; edição francesa, pg. 579; edição italiana, pg. 594).
           
            Ao se refletir sobre ele, vê-se que contém palavras fortes. Amerio está a dizer que nos encontramos à beira do caos, porque fica claro que (1) a atual crise tanto tende a desnaturar a Igreja, bem como (2) é interna à Igreja, quando o próprio Papa faz declarações tais como: “Não há um Deus católico” e “É preciso que os homossexuais sejam reavaliados”; afirmações cuja deliberada ambiguidade abre as portas para a inversão de todos os dogmas e da moral católica. Mas por que (3) o diagnóstico e o prognóstico católicos se tornarão impossíveis, e (4) como pode não haver mais nada por ser dito? Como pode Amerio chegar a uma conclusão tão sombria?

            (3) Porque Nosso Senhor disse: “Eu sou a luz do mundo. Aquele que me segue, não andará nas trevas” (Jo 8, 12), o que sugere fortemente que a massa da população mundial que não O segue já está nas trevas. Ele também diz àqueles que o seguem: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14), o que sugere fortemente que se o número de católicos convictos reduz a cada dia, então as trevas na Igreja e no mundo estão a se intensificar dia após dia. Tudo bem, alguém pode dizer, mas “trevas” é apenas uma metáfora. Por que o diagnóstico e o prognóstico católicos serão impossíveis de ser feitos?

            (3) Porque mais e mais pessoas hoje estão incapacitadas de pensar. Porque desde que Nosso Senhor por meio de Sua Encarnação trouxe a graça sobrenatural para resgatar a natureza ferida e em combate, essa natureza não mais é capaz de se manter em pé sem essa graça. Então, quando os homens viram as costas para Jesus Cristo e para Deus, eles estão a minar a sua própria natureza e a repudiar o senso comum com o qual são dotados pela natureza para pensar, tanto no que diz respeito à relação do conteúdo de seu pensamento com a realidade, quanto no tocante à forma de proceder em conformidade com a lógica. Eles querem se libertar da realidade e da lógica para desafiar Deus, a fim de refazerem o mundo de acordo com suas fantasias.   

            Segue-se a isso que se Jesus Cristo veio para o resgate da humanidade e da natureza humana através do estabelecimento de Sua Igreja Católica, e se pelo Vaticano II os gentios também acabaram por repudiar esta Igreja, então o processo de laceração do homem por si mesmo, de sua natureza e de seu pensamento deu um passo tão grande com o Concílio, que se tornou virtualmente irreversível. Aqui está, tal como Amerio vê, implícito no Vaticano II, uma “escuridão disforme”, da qual o caos beligerante de opiniões que hoje orgulhosamente cambalhotam na Internet serve como um exemplo e uma antecipação.

            Mas, (4) por que não gritar nessa escuridão? Por que “não há outro refúgio para o homem senão o silêncio”? Porque em um estrondo caótico a Verdade simplesmente não pode ser ouvida, exceto, pode-se acrescentar, por umas poucas almas que Deus predestinou para ouvi-la (At 13, 48). Essas almas são eleitas por Deus, não pelos homens, e podem vir dos ambientes mais surpreendentes. Elas não gostam da “escuridão disforme”, e Nosso Senhor as leva para o Pai (Jo 14, 6). Serão um importante auxílio para a Igreja e uma esperança para o mundo.

Kyrie eleison.



sábado, março 07, 2015

Comentários Eleison: Enfermidade Inimaginável

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CCCIC (399) - (7 de março de 2015): 

ENFERMIDADE INIMAGINÁVEL

Nos Papas modernos, uma tal enfermidade nós podemos perceber,
E nenhuma mente saudável a ela pode conceber.

            No verão de 1976, um tanto “quente” para a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, depois de Paulo VI ter “suspendido” Dom Lefebvre por ordenar 14 sacerdotes para a Tradição, o conflito entre o Papa e a Tradição Católica estava tão acentuado, que em agosto se deu um dos dois momentos em que o Arcebispo chegou a considerar mais seriamente se a Sé de Roma estaria vacante. É o que se pode ouvir na gravação de suas palavras, quando então disse que estava a agonizar em razão do conflito: como é possível que um verdadeiro Vigário de Cristo esteja destruindo a Igreja? O Arcebispo nunca chegou a adotar a solução sedevacantista, mas vamos ver o quão claramente ele abordou o problema, e então oferecer uma linha a mais de solução, que possivelmente teria sido pensada por ele caso não estivesse a viver um período tão conturbado. Aqui está um resumo de suas palavras proferidas em agosto de 1976: 

            As pessoas me perguntam o que eu penso do Papa Paulo VI. É um incrível mistério. O verdadeiro Papa é a unidade da Igreja, inspirado pelo Espírito Santo e protegido pela promessa de Nosso Senhor para defender a Fé. Mas graças ao Vaticano II, Paulo VI está sistematicamente destruindo a Igreja. Nada é poupado: catecismo, universidades, Congregações, seminários, escolas. Tudo o que é católico está sendo destruído. É preciso que se encontre uma solução.
           
            Uma série de falsas explicações devem ser deixadas de lado, como, por exemplo, a de que Paulo VI é um prisioneiro, drogado, vítima de seus subordinados, etc. Pois, quando ele abençoou os carismáticos, ou beijou o pé do Patriarca Ortodoxo, ele tinha por acaso um revólver em sua cabeça? Eu o tenho observado em audiências públicas, falando com a habilidade, presença de espírito, pertinência e inteligência de um homem em plena posse de suas faculdades. O Cardeal Benelli me disse que foi o próprio Papa quem me escreveu essas cartas (que reprimem a Tradição), que ele está completamente informado, que sabe exatamente o que está fazendo, que é de sua vontade, que as decisões são suas. O Cardeal disse que sempre se reporta ao Papa, e o fará novamente logo após a nossa conversa.   
           
            Assim, poderia Paulo VI não ser um verdadeiro Papa? Esta é uma hipótese possível. Os teólogos têm estudado o problema. Eu não sei. Não digam que eu disse o que eu não disse. Mas o problema parece teologicamente insolúvel.

            Dom Lefebvre falava de Paulo VI, mas o problema é essencialmente o mesmo com todos os seis Papas conciliares (exceto, talvez, João Paulo I). Dividamos o problema em dois: como pode o verdadeiro Deus permitir tal destruição de Sua Igreja? Como podem ser Seus verdadeiros Vigários os principais destruidores?

            Quanto ao Deus Todo-Poderoso, em primeiro lugar, a destruição será ainda pior no fim do mundo (Lc 18, 8). Em segundo lugar, pode bem ser que Deus esteja a purificar Sua Igreja para preparar o Triunfo do Imaculado Coração de Sua Mãe. Em terceiro lugar, Deus protegeu Paulo VI de destruir completamente a Igreja, quando, por exemplo, ele tomou providências para que Paulo VI descobrisse, “por acaso”, um plano para dissolver o Papado por meio do texto da Lumem Gentium, e assim o Papa pôde bloquear o plano ao acrescentar a Nota Praevia.

            Quanto aos Vigários, Dom Lefebvre nunca pareceu ter considerado a solução seguinte, e isso pode ser a razão pela qual naquele mesmo agosto ele parecia estar prestes a ser espetado pelos chifres do dilema sedevacantista-liberal. Mas se a cada ano o liberalismo se aproxima mais e mais para confundir a mente de cada homem na terra, como poderiam os Papas escapar da enfermidade universal de estar “sinceramente” equivocados? Por serem homens instruídos? Mas o liberalismo reina especialmente nas escolas e universidades. Assim, se os Papas conciliares mal instruídos estão “sinceramente” convencidos de que a “verdade” evolui, eles não estarão, por seus erros graves, nem mesmo negando com pertinácia o que sabem ser definido como Verdade Católica, pois mesmo a Verdade definida, por ser “verdade”, evolui na direção deles.

Kyrie eleison.