domingo, maio 31, 2015

Comentários Eleison: Fim de Semana com Eliot

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXI (411) - (30 de maio de 2015): 

FIM DE SEMANA COM ELIOT


Católicos, que suas mentes não sejam tão limitadas.
Fora do redil de Nosso Senhor há ovelhas que são por Ele lideradas.

O ciclo de palestras de fim de semana que houve aqui em Broadstairs no início de maio sobre poemas e peças do famoso poeta moderno T. S. Eliot (1888-1965), foi um grande sucesso. Eliot é um escritor difícil de entender, porque ele insistiu em dar sentido ao mundo moderno sem sentido; mas as seis palestras do Dr. David White (em 36 horas!) inspiraram em seus mais de duas dúzias de ouvintes católicos um real interesse em Eliot, a quem escolheu como tema de seu evento literário por ter escrito parte de seu mais famoso poema, a Terra Desolada, nas proximidades de Margate. Um ponto alto do evento foi uma excursão ao pavilhão na beira-mar onde Eliot escreveu essa parte, e onde o Dr. White recitou a Terra Desolada para os participantes do evento sob um céu cinza, diante do mar cinza – a atmosfera estava perfeita!

Muitos católicos rejeitam escritores que não são abertamente católicos, por mais famosos que sejam. Mas em meados dos anos vinte, logo depois de escrever a Terra Desolada, Eliot esteve perto de se tornar católico, e desde então, até sua morte, a solução que ele apresentou em seus escritos para os problemas do mundo moderno é centrada em Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso pode não ser óbvio à primeira vista, seja porque ele estava escrevendo para cristãos mornos, ou porque ele mesmo ainda estava a lutar contra a modernidade; mas deixemos que sua verdadeira crença em Cristo seja ilustrada por um poema de seus Quatro Quartetos – selecionado pelo Dr. White para explicação –, a seção IV do quarto quarteto, Little Gidding


1. A pomba mergulhando rasga o espaço
2. Com flama de terror esbraseado
3. Cujas línguas arrojam sem cessar
4. Um jorro apenas de erro e de pecado.
5. Toda esperança, ou mais desesperar,
6. Está na escolha de uma ou de outra pira
7. – Para que o fogo pelo fogo nos redima.
8. Quem, pois, urdia tanto suplício? Amor.
9. Amor é Nome de furtiva chama
10. Sob as mãos que teceram com rancor
11. A intolerável túnica de flama
12. A que poder algum se pode opor.
13. Apenas suspiramos, ainda vivos,
14. Por esse ou outro fogo consumidos.
(N.T.: Tradução de Ivan Junqueira)

            Durante a Segunda Guerra Mundial, Eliot vivia em Londres, e à noite ele agia como um Guardião de Ataques Aéreos, patrulhando as ruas para minimizar o perigo ou os danos dos ataques aéreos alemães. O primeiro dos dois versos do poema é como aquelas figuras duplas de plástico que contêm duas imagens, dependendo de como você inclina o plástico. O segundo verso deduz da figura dupla sua tremenda lição.
           
            Assim 1) a “pomba mergulhando” é tanto o Espírito Santo descendo em Pentecoste como os bombardeiros inimigos avançando sobre Londres. 2) A “flama de terror” é tanto o fogo do Espírito Santo como as bombas incendiárias do inimigo. 3) As “línguas” são tanto aquelas do Espírito Santo que caíram sobre os Apóstolos, como aquelas das bombas incendiárias, enquanto 4) os “jorros” são tanto a Redenção por Cristo como o lançamento de bombas pelos políticos humanos. 5) A primeira parte diz respeito à nossa única esperança; a segunda, à desesperança da guerra. Em qual pira funeral nós escolhemos nos queimar? 7) O fogo da Redenção é para nos salvar do fogo da condenação.

            Segundo verso: 8) é Deus quem designa as Guerras Mundiais para nos salvar do fogo eterno. 9) Ele não é bem conhecido, mas é 10) Seu Amor que está permitindo que os políticos causem 11) os tormentos da guerra, 12) que são redimíveis apenas por Cristo. 13) E para concluir, a vida humana termina apenas 14) no fogo, seja o do Amor divino, ou o da condenação eterna.
              
            A Terceira Guerra Mundial se aproxima. Quando ela chegar, quantos pregadores católicos se atreverão a pregar que é o Amor divino que estará por trás de seus espantosos sofrimentos, que é o mínimo necessário para nos pôr de volta, por desígnio de Deus, no caminho do Céu? O não católico Eliot estava a dizê-lo há 70 anos.


Kyrie eleison.

sábado, maio 23, 2015

Comentários Eleison: Papas Conciliares - I

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDX (410) - (23 de maio de 2015): 

PAPAS CONCILIARES - I

  
Papas maus o mundo sempre produziu,
Jamais, porém, como no mundo atual, corrupto como nunca se viu.

            Quando alguém alega que os Papas conciliares podem estar ao menos parcialmente de boa fé, há normalmente católicos que protestam. Eles dirão que os Papas são homens da Igreja inteligentes e educados, e então é impossível que eles não percebam totalmente o que estão fazendo. A teoria “mentevacantista”, segundo a qual esses Papas têm a mente vacante, a ignorar parcialmente as consequências de suas próprias ações, é absurda para esses críticos. Pode-se entender o protesto, mas deixem-me citar um amigo que compreende o “mentevacantismo” tal como deve ser compreendido:

            A ideia de que os Papas podem estar enganados de boa fé porque sustentam que certos erros não se opõem à Fé, requer atenção, porque as pessoas têm um conceito de papado muito destacado do mundo, enquanto que toda a história dos Papas é uma história de homens de seu tempo sujeitos à compartilhar todos os bons e maus hábitos e vícios daquele período. A diferença reside no poder do erro, que nunca foi tão forte como é atualmente; a humanidade nunca foi, não se deve esquecer, tão degenerada como hoje.

            Pois de fato o liberalismo está agora em todo lugar, e a dominar; não é mais um mero pensamento ou maneira de pensar, mas um verdadeiro modo de ser que permeia todo homem vivo, seja ele um liberal absoluto em si mesmo, ou um agente do liberalismo e de sua subversão, ou meramente uma de suas ferramentas. Tal é o caso dos Papas conciliares. Eles acham que estão a se aproximar do mundo para curá-lo, sem se dar conta de que é o mundo que se aproxima deles para infectá-los e controlá-los.

            Em uma situação como essa, pode-se certamente falar de Papas liberais, mas não de Papas não católicos, já que está faltando o primeiro requisito para tal condenação, a saber, a vontade pessoal deles de ser liberais e não católicos. Ninguém pode fazer outra coisa que reconhecer que nesses Papas há uma vontade pessoal de ser católicos e não liberais anticatólicos, já que para eles não há contradição entre os dois, longe disso. Segundo seu teólogo e pensador, Joseph Ratzinger, o liberalismo é um dos bons produtos derivados do catolicismo, que precisa apenas ser purificado de certas distorções estranhas trazidas para dentro dele. Assim, quanto à destruição da Igreja, torna-se lógico que os Papas, por acreditarem em tal catolicismo comprometido, não podem evitar que uma das consequências de suas ações seja essa destruição.

            Em relação a Dom Lefebvre, dado que ele cresceu em uma Igreja muito diferente da Igreja de hoje, eu posso apenas concluir que para ele era impossível que um católico agisse como instrumento de subversão sem se dar conta do que está fazendo. Menos ainda poderia um Papa não percebê-lo. Por ler nas entrelinhas de certos escritos do Arcebispo, eu acredito que enquanto sua visão do mundo certamente incluía o processo de degeneração chegando ao fim dos tempos, ela não incluía esse processo a envolver de alguma maneira clara também a Igreja.

            Eu posso imaginar leitores objetando a esse tipo de análise: “Oh, Excelência, por favor, pare de defender os Papas conciliares. É preto ou branco. Se eles são pretos, serei um sedevacantista feliz. Se são brancos, serei um liberal feliz. Seus cinzas só estão me confundindo!”.

            Caro leitor, preto é preto, branco é branco, mas raramente na vida real nós encontramos o branco puro, e nunca o preto puro (tudo o que é, por pior que seja, tem a bondade de ser). Se vocês querem entender essa escusa relativa dos Papas conciliares, a chave é compreender que o mundo nunca foi tão profundamente mal como é hoje. A partir dessa degeneração sem precedente, é óbvio que os Papas conciliares são a esse respeito mais escusáveis por deslizar na Fé que qualquer um de seus predecessores.


Kyrie eleison.

segunda-feira, maio 18, 2015

Comentários Eleison: Pecado Vingado

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDIX (409) - (16 de maio de 2015): 

PECADO VINGADO


Quem quer que Deus seja, hoje a Ele culpam.
No entanto, quem, senão os homens, a Ira Divina inflamam?

Imersos que estamos no mundo que nos rodeia, é difícil, especialmente para os jovens, perceber a situação tão anormal na qual ele mergulhou. Nunca, em toda a história humana, Deus foi tão desacreditado, descrido, e, com efeito, descartado da vida dos homens. E ao perderem estes todo o sentido de Deus, perdem também todo o sentido do pecado, uma vez que todo pecado é primeiramente uma ofensa contra Deus. Portanto, eles estão sempre certos, e “Deus”, quem quer que Ele seja, está sempre errado, e por isso, quando as coisas dão errado,“Ele” pode vir a ser sempre ser lembrado, mas apenas por tempo suficiente para que leve a culpa.

Essa atitude tão amplamente difundida torna praticamente impossível a compreensão da aparente severidade de Deus no Antigo Testamento, onde, por exemplo, Ele manda os israelitas exterminar povos inteiros, tal como no livro de Josué. Mas os estudiosos católicos das Escrituras que não se perderam do sentido de Deus imutável e verdadeiro põem as coisas novamente em perspectiva. Aqui, por exemplo, está um resumo do comentário de um beneditino moderno, Dom Jean de Monléon (1890-1981), sobre a matança dos cananeus pelos israelitas sob o comando de Josué:

No que se refere ao próprio Josué, ele agiu não por ódio, racismo, ganância, ambição ou o que fosse, mas sob ordens estritas, precisas e reiteradas do próprio Deus. São João Crisóstomo disse que Josué poderia ter pessoalmente preferido alguma solução menos assassina, mas que Deus certamente tinha Suas próprias razões. Estas nós não podemos saber com segurança, mas podemos fazer suposições razoáveis. Para começar, todos nós seres humanos, por nosso pecado original (“O que é isso?” Grita o homem moderno), temos de pagar a dívida de morte, cujo momento, maneira e lugar são decididos pelo Mestre da Vida e da Morte, que é Deus. Para pecadores como os cananeus, morrer mais cedo pode ter sido um ato misericordioso, especialmente se a maneira de morrer lhes deu tempo para se arrepender e salvar suas almas para a eternidade.

Demais disso, os cananeus eram de fato pecadores imersos na prática de crimes terríveis, e tal como a humanidade antes do Dilúvio, ou como os sodomitas e os gomorreanos, eles fizeram a taça da ira de Deus transbordar: prostituição de todos os tipos, bestialidade, incesto, feitiçaria e, em particular, assassinato ritual de crianças – o que foi comprovado por múltiplas escavações arqueológicas na Palestina, nas quais pequenos esqueletos foram descobertos em circunstâncias que claramente as identifica como vítimas sacrificiais – etc. Além disso, se aos cananeus fosse permitido continuar a viver, eles apresentariam o sério perigo de corromper os israelitas, como a história subsequente mostrou muito claramente.

Em tempos mais recentes, há uns 400 anos (mas ainda antes do advento do liberalismo!), os primeiros missionários no Canadá viram-se obrigados a concluir que a única maneira de lidar com certa tribo era exterminando-a. Uma Santa canonizada disse: “Depois da experiência repetida de sua traição, seja pela paz ou pela Fé, nada mais há que se possa esperar deles”. (Fim do resumo de Dom Monléon.)

Isso, todavia, choca as susceptibilidades modernas; mas não é simplesmente pena capital tribal em oposição à individual? O princípio da pena capital é que por tais crimes antissociais tais como assassinato, traição, falsificação, homossexualismo, etc., os homens são capazes de se comportar de tal modo que os deixa inaptos a continuar vivendo sociedade, e então a autoridade legítima desta tem o direito de tirar suas vidas (alguém pode objetar que nem todos os indivíduos em uma tribo serão igualmente culpados, mas não há dúvida de que Deus Todo-Poderoso pode e fará todas as distinções necessárias).

O problema todo se resume à descrença na grandeza e na bondade de Deus, mas vamos apenas dizer que o Antigo Testamento não é nem cruel nem desatualizado como se faz frequentemente parecer.


Kyrie eleison.

domingo, maio 10, 2015

Comentários Eleison: "Falto de Peso"

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDVIII (408) - (9 de maio de 2015): 

"FALTO DE PESO" (Dn 5, 27)


Resistentes, Deus quer os que têm em Sua vontade o objetivo central.
Buscar nosso conforto cinquentista só nos fará mal.

Não é fácil a tarefa dos católicos que atualmente se esforçam para manter a Fé. Segue abaixo uma descrição, feita por um observador, do presente estado da Fraternidade Sacerdotal São Pio X nos EUA, tal como ele a vê, tanto do lado positivo como do negativo. Vejamos primeiro o negativo, não a fim de ofender a Fraternidade, mas de medir o problema. Como disse o patriota americano Patrick Henry em 1775: “De minha parte, qualquer que seja a angústia de espírito que isso possa custar, estou disposto a ouvir toda a verdade, por pior que seja, e apoiá-la”. 

Até agora os sacerdotes da Fraternidade nos EUA não reagiram à infiltração modernista em sua Fraternidade. A maioria diz qualquer coisa para justificar cada palavra e ação de seu Superior Geral. Como eles podem justificar o compromisso com a doutrina, é um mistério para mim. Um deles disse que basta conversar com Dom Fellay que tudo se esclarecerá. Alguns seminaristas americanos com quem me encontrei estão sendo mal formados, se perdem ao tentar justificar tudo, até mesmo o “bem” encontrado no Vaticano II. Estão a marchar ao som do tambor da obediência cega. As teorias da conspiração se tornaram tabu no Seminário, de modo que como futuros sacerdotes eles serão presas fáceis para o inimigo. Não houve reação à visita do bispo do Novus Ordo Dom Schneider, ou à “assimilação argentina”. A “Resistência” ao modernismo de Dom Fellay não é absolutamente discutida, sendo rejeitada como se fosse outra revolta, tal como a dos “Nove” Sacerdotes em 1983.

No entanto, os priores da FSSPX permitem indiscriminadamente que se assista às Missas da Fraternidade São Pedro, e definem o Modernismo como uma “pilha de pó” que deve ser varrida para o lado. Um sacerdote recentemente ordenado foi enviado para ajudar na instalação de um bispo local do Novus Ordo. Em geral, não há luta contra os erros do Vaticano II nem contra os erros da própria Declaração Doutrinal da Fraternidade de 2012. Pior de tudo é o deslize doutrinário que tomou lugar na Fraternidade desde 2012; apesar dele, muitos sacerdotes da FSSPX estão a dizer que não agirão até que vejam algo concreto.

Tal cegueira só pode ser um castigo de Deus. O que está Ele a punir? Nos anos cinquenta os católicos que buscavam demais seu próprio conforto mundano foram punidos pelo Concílio dos anos sessenta. Para os fieis remanescentes Deus concedeu Dom Lefebvre, o verdadeiro pastor dos anos setenta e oitenta. Certamente Deus tinha o direito de esperar que esses católicos restantes entendessem o problema, e se esquivassem da falsa solução tomada para os anos cinquenta. Mas não. Desde o fim da década de noventa os líderes da FSSPX, e então os sacerdotes e fieis, têm retornado lentamente, mas firmemente, ao “cinquentismo”, ou seja, ao “catolicismo de domingo” dos anos cinquenta, que é uma resposta pobre às múltiplas graças concedidas por Deus à Fraternidade. Parece que Ele já está farto, e então permitiu que uma diocese na Argentina desse um exemplo da Igreja oficial a conceder aprovação oficial à Fraternidade. Isto foi minimizado pelo QG da Fraternidade, que alegou se tratar uma “simples medida administrativa”, mas abriu caminho para uma aprovação completa da Igreja, quer poderá se dar a partir de Roma ou de diocese em diocese. Todos fingirão não notá-la, mas se rejubilarão com ela. Esses romanos são mestres!

Mas Deus Todo-Poderoso continua recrutando resistentes remanescentes a partir dos tradicionalistas que ainda restam. O observador supracitado concluiu: Eu acho que quando o momento decisivo chegar, surgirá um punhado de Nicodemos e Josés de Arimateia entre os sacerdotes e irmãos da Fraternidade, e irmãs também, esperamos. Os fieis “resistentes” pela América do Norte estão firmes, com alguns novos recém-chegados, a maioria do Novus Ordo, ou do nada. A mesma firmeza era evidente na reação de muitos católicos à consagração de Dom Faure. Eis um futuro para as almas. Mas não nos enganemos: Deus Todo-Poderoso não quer mais e mais católicos de domingo. Ele quer potenciais mártires.


Kyrie eleison.

sábado, maio 02, 2015

Comentários Eleison: Bom Senso Sobre a Vacância da Sé - II

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDVII (407) - (2 de MAIO de 2015): 

BOM SENSO SOBRE A VACÂNCIA DA SÉ - II


Um Papa herege é ainda o chefe da Igreja,
Mesmo que, como membro pessoal, ele morto esteja.

            Com respeito à deposição de um Papa herege, os Dominicanos Tradicionais de Avrillé, na França, nos prestaram um grande favor ao publicar não apenas as considerações clássicas de João de Santo Tomás (cf. CE 405), mas também as de outros teólogos proeminentes. Em resumo, as melhores mentes da Igreja ensinam que um argumento simples e hoje em dia popular, a saber, o de que um Papa herege não pode ser membro da Igreja e, portanto, muito menos seu chefe, é exageradamente simples. Ainda resumindo, há mais no Papa do que apenas o indivíduo católico, quem, ao cair em heresia, perde a fé e com ela sua condição de membro da Igreja. Para a Igreja, o Papa é muito mais do que um indivíduo católico. Para clarear, apresentaremos argumentos destes teólogos na forma de perguntas e respostas:
           
            Antes de tudo, é possível que um Papa caia em heresia?

            Se ele emprega todas as quatro condições de seu Magistério Extraordinário, não pode ensinar heresia; mas que ele pode pessoalmente cair em heresia, é a opinião mais provável, ao menos de teólogos antigos.

            Então, se ele cai em heresia, isto não o impede de continuar a ser membro da Igreja?

            Como uma pessoa católica individual, sim; mas como Papa, não necessariamente, porque o Papa é muito mais do que apenas um indivíduo católico. Como disse Santo Agostinho, o sacerdote é católico para ele mesmo, mas é sacerdote para os outros. O Papa é Papa para toda a Igreja.

            Mas suponha que a grande maioria dos católicos possa ver que ele é um herege, por estar óbvio. Sua heresia, nesse caso, não o impossibilitaria de continuar a ser Papa?

            Não, porque ainda que sua heresia seja óbvia, muitos católicos ainda podem negá-la – por exemplo, por “piedade” para com o Papa –, e assim, para evitar que surja confusão em toda a Igreja, uma declaração oficial da heresia do Papa seria necessária para manter os católicos unidos. Tal declaração teria de vir de um Concílio da Igreja, convocado para este propósito.

            Mas se a heresia fosse pública e óbvia, não é certo que seria suficiente para depô-lo?

            Não, porque, em primeiro lugar, todo herege deve ser oficialmente advertido antes de ser deposto, para que possa se retratar de sua heresia. E em segundo lugar, seja na Igreja ou no Estado, todo oficial superior está servindo ao bem comum, e para o bem comum ele deve permanecer no ofício até que seja oficialmente deposto. Então, tal como um bispo permanece no ofício até que seja deposto pelo Papa, assim o Papa permanece no ofício até que a declaração oficial de sua heresia por um Concílio da Igreja faça com que Cristo o deponha (CE 405).

            Mas, se um herege não é um membro da Igreja, como pode ele ser seu chefe, o membro mais importante?

            Porque sua condição particular de membro é uma coisa diferente de sua chefatura oficial. Por sua condição particular de membro ele recebe santificação da Igreja. Por sua chefatura oficial, ele governo oficial à Igreja. Ao cair em heresia, ele deixa de ser um membro vivo da Igreja, é verdade, mas nem por isso ele deixa de ser capaz, mesmo como um membro morto, de governar a Igreja. Sua condição de membro da Igreja pela fé e caridade é incompatível com a heresia, mas seu governo da Igreja por sua jurisdição oficial, que não exige fé nem caridade, é compatível com heresia.

            Mas, por sua heresia, um antigo Papa jogou fora seu Papado!

            Pessoalmente e em privado, isso é verdade, mas não é certo oficialmente e em público, até que um Concílio da Igreja tenha tornado a sua heresia não apenas pública, mas também oficial. Até então o Papa deve ser tratado como Papa, porque para a tranqüilidade e o bem comum da Igreja, Cristo mantém Sua jurisdição.

Kyrie eleison.