quarta-feira, dezembro 28, 2016

Comentários Eleison: Cartão de Isaías

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXCIII (493) - (24 de Dezembro de 2016):


CARTÃO DE ISAÍAS 


A Jesus Cristo todos os homens na terra devem se voltar,
Ou então, aqui ou no futuro, eles deverão queimar.

Se Deus Todo-Poderoso fosse enviar cartões de Natal, o que poderia escrever no Seu sobre a vinda do próprio Filho, que nasceu na terra como um Filho humano de uma Mãe humana? É verdade que Deus escreveu muitas coisas sobre o Messias através dos escritores que Ele inspirou diretamente para compor os livros do Antigo Testamento e, sem dúvida, uma das mais conhecidas dessas citações vem do profeta Isaías, no capítulo 9. No anterior, Isaías profetiza a desolação e a ruína que cairão sobre os judeus por causa de seus pecados. No 9, ele volta-se para a glória da era messiânica: uma grande luz iluminará a Galileia (província natal de Jesus) – versos 1 e 2. Então, a alegria, como no tempo da colheita ou depois de uma vitória militar (verso 3), virá, após a derrota dos assírios, assim como após a derrota dos midianitas para Gideão (verso 4), e os efeitos da guerra desaparecerão (verso 5). Isaías continua com o “cartão de Natal” (glorificado na música O Messias de Handel):

6: “Porquanto um MENINO NASCEU para nós, e um filho nos foi dado, e foi posto o principado sobre o seu ombro: e será chamado Admirável, Conselheiro, Deus Forte, Pai do Século Futuro, Príncipe da Paz. 7: O seu império estender-se-á cada vez mais, e a paz não terá fim; sentar-se-á sobre o trono de Davi e sobre o seu reino; para o firmar e fortalecer pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre; fará isto o zelo do Senhor dos exércitos”.

6: Assim, a razão suprema para a alegria é a vinda do Messias: para nós, para redimir a todos nós, nascerá um menino real e Filho, que levará o peso do mundo sobre Seu ombro (os Padres da Igreja consideram esse peso como o da Cruz); e com uma série de epítetos Isaías diz que o menino será: Admirável, Conselheiro, mais do que capacitado para aconselhar todas as nações sobre a verdadeira felicidade e prosperidade delas até o fim do mundo. O Deus Forte – Os estudiosos das Escrituras Talmúdicas fazem o máximo que podem para evitar admitir que Isaías está dizendo que o Messias será também Deus (como sabem os católicos, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade), mas o artigo definitivo no hebraico e o significado da expressão "Deus Forte" em todos os outros lugares do Antigo Testamento indicam fortemente que Isaías quer dizer exatamente isso. O Pai do Século Futuro – o Messias será um Pai verdadeiro e terno para a era messiânica por todo o sempre (Mt 11, 28).

7: Seu império estender-se-á – a Igreja Católica estender-se-á sobre todo o mundo, e não haverá fim para a paz porque a Igreja do Messias vai gerar paz onde quer que seja respeitada, até o fim do mundo. Ele será descendente real de Davi para sentar-se no trono de Davi, ao qual foi prometido que duraria para sempre (II Sm 7), como Nosso Senhor prometeu à sua Igreja (Mt 16, 18; 28, 20). Mas este reino será um reino do Rei dos Corações (Jo 12, 32), consolidado com juízo e com justiça, e não um reino do Valete de Paus, estabelecido pela força (Mt 26, 52; Jo 18, 36). Todas estas maravilhas virão do zelo do Senhor Deus, de seu ardente desejo de levar almas para o Céu a fim de compartilhar a eterna e ininterrupta felicidade com Ele, pelos séculos dos séculos.

O que torna difícil para nós hoje apreciar a gloriosa visão de Isaías sobre o futuro messiânico é que ela se transformou no passado maçônico. A quinta era da Igreja do Messias, a Era da Apostasia, começou há 500 anos, quando Lutero rompeu a cristandade, de modo que quando depois outros 200 anos ainda não era ainda óbvio para muitos homens que os benefícios da cristandade estavam já em vias de serem minados, os judeus-maçons puderam começar a persuadir os homens de que a Cristandade e Cristo não eram mais necessários. E nem mesmo os horrores de outros 200 anos, os do comunismo anticristão, desencadeados pela Revolução Russa e espalhados pelo mundo inteiro, conseguiram persuadir os homens de que desde Encarnação as únicas alternativas para qualquer civilização são Jesus Cristo e Sua Igreja Católica, ou então o Diabo. Mas esta é a verdade.

Feliz Natal, leitores!


Kyrie eleison.

sábado, dezembro 17, 2016

Comentários Eleison: Distinguir, Discriminar.

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXCII (492) - (17 de Dezembro de 2016): 


DISTINGUIR, DISCRIMINAR


Quando tudo é verdade, não posso selecionar bem e escolher,
Mas quanto às mentiras em meio à verdade, rejeitá-las é um dever.


Se se deve crer na evidência aparentemente séria de milagres eucarísticos ocorrendo dentro do Novus Ordo Missae (NOM) – e se tais milagres podem mesmo acontecer frequentemente, um dos mais recentes parece vir de Legnica, também na Polônia (http://www.garabandal.org/News/Adoration_of_the_Blessed_Sacrament.shtml) no dia de Natal de 2013 – então, de fato, alguns de nós talvez precisemos fazer algumas reconsiderações. Eis como um leitor colocou: “Deus não pode contradizer-se; assim, seus milagres não podem contradizer os ensinamentos de Sua Igreja. Mas o NOM se afasta da doutrina católica essencial sobre a Missa. Portanto, ou os milagres são falsos ou o NOM é de Deus; e neste caso, qual seria a justificativa para os tradicionalistas se apegarem à Tradição? Pois se o NOM no coração da Neoigreja é confirmado por milagres, então a Neoigreja também é confirmada por Deus, e assim também os neopapas, e eu devo obedecê-los. Eu não posso selecionar bem e escolher, posso?”. Sim, você pode, e não somente você pode, mas deve, a fim de cumprir o seu dever absoluto de manter a fé.

Isso é assim porque outro nome para o que você chama de “selecionar bem e escolher” é “distinguir”. Todos nós precisamos distinguir o tempo inteiro. Isso é bom senso, e é isso o que faz Santo Tomás de Aquino do começo ao fim de sua miraculosa Summa Theologiae. Vamos examinar o argumento de nosso amigo.

O objeto que é base da disputa é o NOM. O NOM é um rito de Missa, um livro de centenas, senão de milhares de páginas, contendo muitas coisas. Do ponto de vista católico, o rito como um todo é inquestionavelmente mau, porque altera radicalmente o conceito da Missa: de um sacrifício propiciatório centrado em Deus para uma ceia comunitária centrada no homem. Como tal, uma vez que a maioria dos católicos vivem a sua religião assistindo à Missa, então quando seu conceito muda, sua religião, em efeito, muda. É por isso que o NOM é o principal destruidor da verdadeira Igreja, e o principal motor da Neoigreja. É por isso que o NOM, como um todo, não é apenas mau, mas extremamente mau.

Mas isso não significa que todas as suas partes, como partes, sejam más. Como partes, algumas ainda são católicas, porque, para enganar a massa de sacerdotes quando o NOM foi introduzido em 1969, elas não eram essencialmente diferentes do rito Tridentino da Missa, especialmente na Consagração. Não fosse assim e o tivessem recusado, o NOM não poderia ter feito seu trabalho de destruição da Igreja. Assim o NOM é, quanto às suas partes, parte bom e parte ruim, enquanto que, como um todo, é ambíguo, traiçoeiro, uma distorção.

Entretanto, no que diz respeito ao homem, “Para os puros todas as coisas são puras” (Tt. I, 15), e assim para as almas inocentes ainda não conscientes do seu perigo intrínseco para a Fé, ele pode, pela sua Consagração e partes boas, ainda dar graça e alimento espiritual, especialmente quando são menos sufocadas por um padre que torna as ambiguidades tão católicas quanto possível. E assim, quanto a Deus, Ele “escreve certo por linhas tortas”, diz o provérbio, e então as partes más do NOM precisam não o impedir de realizar milagres com as partes católicas para nutrir os inocentes e advertir os culpados.

Portando, por um lado, o NOM como um todo é muito mau, e os tradicionalistas são absolutamente necessários à Igreja para testemunhar a sua maldade, e para tornar disponível uma verdadeira Missa para quando as almas despertarem para a maldade do NOM, como elas têm feito em diferentes momentos e em diferentes ritmos, para que elas possam manter a Fé e suportar a crise. Por outro lado, o NOM é, em parte, ainda bom o suficiente para nutrir almas inocentes e permitir que Deus realize milagres, também para o alimento das almas ou para sua advertência. Deus não está confirmando o NOM como um todo, nem a Neoigreja como um todo, nem os neopapas como um todo, mas Ele está confiando em mim para usar o cérebro e a Fé que Ele me deu para discernir o bem do mal. Ele não quer robôs dementes em seu glorioso Céu!


Kyrie eleison.

*Traduzido por Cristoph Klug.

sábado, dezembro 10, 2016

Comentários Eleison: A Eleição de Trump

 Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXCI (491) - (10 de dezembro de 2016): 


A ELEIÇÃO DE TRUMP.


Por Trump devemos orar. Ocorreu no mês passado sua eleição,
E do Céu, desde então, ele estará precisando de proteção.

A coisa essencial a dizer sobre a eleição no mês passado de Donald Trump como o próximo presidente dos Estados Unidos é que é uma suspensão temporária dada por Deus depois de anos e anos de governo liberal, mas a menos que o próprio povo americano se volte seriamente para o Deus Todo-Poderoso, então essa suspensão será varrida por um retorno dos liberais que se dará com toda a força para destruir os Estados Unidos de uma vez por todas, tal como Hilary Clinton faria se tivesse sido eleita.

Ora, é verdade que muitas pessoas hoje não pensam na polística a relacionando a Deus Todo-Poderoso, mas esse é exatamente o problema. Excluí-Lo da vida, especialmente da politica, tem sido uma cruzada para maçons e liberais desde o final do século XVIII, que foi deles. O libertar-se de Deus tem sido a cruzada de sua religião substituta, o humanismo secular. Do mesmo modo, no século XX, o comunismo com ou sem este nome triunfou contra a natureza em todo o mundo porque age como uma religião, sendo, como diz Pio XI, o messianismo do materialismo. E o liberalismo e o comunismo são a razão pela qual todo o mundo ocidental se tem inclinado para a esquerda por centenas de anos.

E isso tem se dado sem dúvida porque um grande número de eleitores na eleição americana votou na candidata que perdeu. Ela era conhecida em toda a nação por suas mentiras, imoralidades e traições. Seu registro criminal era notório, incluindo a suspeita de ter sido responsável com seu marido pelo assassinato de mais de cinquenta homens e mulheres que se puseram no caminho de sua ambição e de suas carreiras. Como alguém medianamente decente poderia ter até mesmo pensado em votar nela, e que dizer da metade dos americanos ter votado (ela não venceu no Colégio Eleitoral)? O próprio Paul Craig Roberts, excelente comentarista da cena poltica americana, ficou perplexo com essa questão. A resposta que falta é certamente que aquela mulher encarnou a guerra contra Deus. Para os liberais, a liberdade é a sua religião. Que ela quebrou orgulhosamente todos os mandamentos de Deus foi um argumento não contra ela, mas a favor. Ela é uma santa do liberalismo.

Pois bem, seu conquistador, Donald Trump, não é, aparentemente, um homem especialmente piedoso, e ele ainda é liberal de várias maneiras – quem não é? – mas ele tem dentro de si uma boa dose daquela decência e generosidade antiquadas que costumavam ser típicas dos melhores na América e nos americanos. Portanto, ele está instintivamente contra pessoas ímpias, e depois de anos e anos de liberais presunçosos sob uma série de presidentes liberais a pisotear todos os americanos decentes, ele teve o suficiente, e entrou na política “para devolver a este país um pouco do que ele me deu”. E depois dos mesmos anos e anos do que de fato vinha sendo um sistema unipartidário, porque não havia desde o tempo do governador Wallace “um centavo de diferença entre os republicanos e os democratas”, Trump sacudiu o sistema, deu voz à frustração do povo, e uma multidão de almas decentes elegeu-o para o cargo. Mas o Sistema está furioso.

Portanto, ele deve agora pensar muito bem. Tornou-se presidente eleito com a força de instintos decentes contra a ideologia liberal. Mas isso é um êxito passageiro, porque lutar contra a ideologia com instintos é como combater tanques com uma zarabatana de atirar ervilhas. Para lutar contra uma ideologia falsa é preciso uma ideologia verdadeira e, para lutar contra a guerra a Deus é preciso paz com Deus, que dependerá dos termos de Deus e não dos homens. Ora, Deus é todo-poderoso e infinitamente bom, e pode desfazer o pior que seus inimigos podem tentar fazer contra Ele com o simples toque de Seu dedo mindinho, por assim dizer. Mas Ele não vai conceder a vitória sobre a Sinagoga de Satanás se sabe que as pessoas que está salvando vão voltar direto para Satanás. As pessoas devem afastar-se de Satanás e retornar sinceramente a Deus, que não pode ser enganado.

No mínimo o próprio Donald Trump deve orar – ACTS – com Adoração, Contrição, Ação de Graças (Thanksgiving) e Súplica. Deus tem estado com ele, para conceder essa suspensão. Incluamos todos a ele e ao Presidente Putin em nossas próprias orações, para prolongar a suspensão. De outro modo, logo ela poderá acabar.


Kyrie eleison.

domingo, dezembro 04, 2016

Comentários Eleison: Milagres no NOM?


Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXC (490) - (3 de dezembro de 2016):

MILAGRES NO NOM?


Católicos tradicionalistas devem ter a mente aberta:
Não somente a falta de Fé eles deixaram para trás.


Ano passado, nos Estados Unidos, suscitou-se uma séria controvérsia sobre se Deus pode fazer milagres dentro do âmbito da Missa Novus Ordo. Ora, se Deus realmente faz milagres sobrenaturais, é obviamente para que eles sejam cridos, e para que fortaleçam a fé sobrenatural das pessoas. E se Ele quer que algo fora da ordem natural seja crido, obviamente providenciará suficiente evidência para tal, como Lázaro saindo de sua tumba em frente a uma multidão de espectadores. Neste sentido, a evidência mais convincente é aquela de gênero material e físico, que de nenhum modo pode ser produzida por qualquer mente humana, por mais piedosa que seja, como o espetáculo luminoso do sol no outubro de 1917, em Fátima. Assim, qual é a evidência material e física de um milagre eucarístico que tenha ocorrido em qualquer Missa Novus Ordo?

Alega-se que um milagre desse tipo ocorreu na igreja paroquial de Sokulka, no leste da Polônia. Em 12 de outubro de 2008, um padre ordenado há cinco anos por um bispo polaco consagrado em 1980 deixou cair uma Hóstia Consagrada no degrau do altar, enquanto distribuía a Sagrada Comunhão. Ele parou para recolhê-la e colocá-la num pequeno recipiente com água, próximo ao Tabernáculo. Após a missa, este recipiente foi trancado dentro da sacristia para que a hóstia se dissolvesse na água, de modo que a Presença Real já não estivesse ali e a água pudesse ser descartada de modo seguro. Este procedimento é totalmente normal para tais acidentes na liturgia católica.

Mas no dia 19 de outubro, quando uma irmã da paróquia foi verificar a hóstia dissolvida, viu em seu centro algo de cor intensamente vermelha, como um coágulo de sangue. Ela imediatamente informou ao pároco, que foi com outros padres observar o que parecia ser um pedaço de carne viva. Todos os observadores ficaram profundamente impressionados. Em seguida, seguiu ao local o arcebispo, de Bialystok, com muitos diocesanos oficiais. Todos eles ficaram profundamente comovidos. Por instrução do arcebispo, no dia 30 de outubro a hóstia foi removida da água, transferida para um pequeno corporal e colocada no Tabernáculo para secar. Até o dia de hoje ela conserva a forma de um coágulo de sangue.

No dia 7 de janeiro de 2009, uma mostra da hóstia foi levada para ser examinada por dois patologistas, separadamente, na Universidade Médica de Bialystok, ali perto. O julgamento unânime de ambos, mas independente um do outro, foi que “de todos os tecidos dos organismos vivos, a mostra se assemelha mais a de um tecido miocárdico humano”, do ventrículo esquerdo do coração, típico de uma pessoa viva em estado de agonia. Mais ainda, ambos os patologistas descobriram, presumivelmente em seus microscópios, que as fibras do tecido miocárdico e a estrutura do pão estavam tão estreitamente unidas que qualquer possibilidade de fabricação humana estava descartada. Em 29 de janeiro, esta evidência material e física foi apresentada à Cúria Metropolitana em Bialystok, onde o julgamento oficial da Igreja sobre a origem sobrenatural do ocorrido é pacientemente aguardada. Nesta espera, disse o arcebispo em um sermão de outubro de 2009, que serão decisivos os frutos espirituais entre os católicos. Já houve um significante aumento na piedade e na prática religiosa dos católicos locais, e do exterior houve centenas de peregrinações, com numerosos milagres de cura e de conversão ocorridos.

Se a evidência material é crível, então em Sokulka Deus obrou mais um milagre eucarístico entre tantos ao longo dos séculos, para ajudar almas a acreditar em algo normal e suficientemente difícil de se crer, a saber, que Ele está realmente presente sob as aparências, uma vez consagradas, de pão e de vinho. Mas como isto é possível quando os católicos tradicionais sabem que a Nova Missa é a causa principal da destruição da Igreja pela perda da fé desde o Vaticano II? Uma resposta pode ser que o Sagrado Coração, sabendo que os pastores foram responsáveis pelo ambíguo NOM, recusou-se abandonar suas ovelhas, e continua a alimentá-las com o que é ainda católico em meio à ambiguidade. E em meio a toda essa relativa negligência da Neoigreja em relação à Sagrada Eucaristia, o evento de Sokulka é um assustador lembrete tanto para pastores, quanto para ovelhas: “Lembrai-vos com quem estais lidando – sou Eu, vosso Deus!

Kyrie eleison.

            Traduzido por Leticia Fantim.



segunda-feira, novembro 28, 2016

Comentários Eleison: Cinco "Dubia"

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXIX (489) - (26 de novembro de 2016): 


CINCO "DUBIA"


Obrigam um Papa a dizer, os quatro Cardeais: 
Suas convicções profundas vêm das profundezas infernais.

Em um escândalo de gravidade sem precedentes mesmo no reinado escandaloso do Papa Francisco como Papa Católico desde 2013, quando foi desafiado por quatro honrados Cardeais em sua aparente negação da própria base do ensino da Igreja sobre a moral, ele acaba de dar respostas em público que praticamente afirmam a liberdade do homem em relação à lei moral do Deus Todo-Poderoso. Com essa afirmação papal da religião Conciliar do homem em oposição à religião católica de Deus, um cisma na Igreja Universal é iminente. Durante meio século desde o Vaticano II, os papas conciliares conseguiram manter-se, de certa forma, como chefes de duas religiões opostas, mas essa contradição não poderia durar indefinidamente e logo deveria resultar em uma divisão.

Em 2014 e 2015 Francisco realizou Sínodos em Roma para consultar os bispos do mundo sobre questões relativas à família humana. Em 19 de março deste ano ele publicou sua Exortação Apostólica pós-sinodal sobre “Amor na Família”, cujo oitavo de nove capítulos suscitou controvérsias desde o começo. Em 15 de setembro quatro Cardeais em particular enviaram ao Papa uma carta privada e perfeitamente respeitosa na qual pediram a ele, como Sumo Pontífice, que esclarecesse cinco “dubia” ou pontos duvidosos de doutrina deixados pouco claros na Exortação. Aqui está a essência dos cinco pontos: –

Da Exortação nº 305, uma pessoa casada vivendo como marido e mulher com uma pessoa que não seja seu cônjuge legítimo a partir de agora pode receber a Absolvição e a Comunhão sacramentais enquanto eles continuam a viver em seu estado semimatrimonial?

Da nº 304, alguém precisa acreditar que existam ainda normas morais absolutas que proíbem atos intrinsecamente maus, e que são sem exceção obrigatórias?

Da nº 301, alguém pode, ainda, dizer que uma pessoa vivendo em violação aos mandamentos de Deus, por exemplo, em adultério, está em uma situação objetiva de pecado habitual grave?

Da nº 302, alguém pode, ainda, dizer que as circunstâncias ou intenções em torno de um ato intrinsecamente mau em si mesmo nunca pode mudá-lo para que seja subjetivamente bom, ou aceitável como uma escolha?

5 Da nº 303, ainda, devemos excluir qualquer papel criador da consciência, e então esta consciência nunca poderá autorizar exceções às normas morais absolutas que proíbem atos intrinsecamente maus por seu objeto?

Para estas cinco questões de sim-ou-não a resposta da Igreja Católica de Seu Divino Senhor em diante sempre foi clara e nunca mudou: a Comunhão não pode ser dada aos adúlteros; há normas morais absolutas; tal “pecado habitual grave” existe; as boas intenções não podem tornar atos maus em bons; a consciência não pode fazer com que atos maus sejam legítimos. Em outras palavras, para as cinco perguntas de sim ou não, preto ou branco, a resposta da Igreja sempre foi: 1. Não, 2. Sim, 3. Sim, 4. Sim, 5. Sim.

Em 16 de novembro, há apenas dez dias, os quatro Cardeais escreveram sua carta pública (cf. Mt. XVIII, 15-17). Em 18 de novembro, em uma entrevista concedida ao periódico italiano Avvenire, o Papa Francisco respondeu o exato oposto das questões sim-ou-não: 1. Sim, 2. Não, 3. Não, 4. Não, 5. Não. (Ele afirmou que cada vez que “tais coisas não sejam pretas ou brancas, somos chamados a discernir”, mas estava meramente tentando confundir as questões imutáveis de princípio com questões instáveis de aplicação de princípios que vêm após as questões de princípio).

Todo crédito aos quatro Cardeais por obterem luz e verdade para muitas ovelhas confusas que desejam entrar no Paraíso: Brandmüller, Burke, Caffara e Meisner. Eles podem estar imersos no Novus Ordo, mas obviamente não perderam toda a coragem ou senso de seu dever. Não se pode questionar que eles tenham agido de outra forma que não com o melhor dos motivos para pressionar o Papa a fazer-se a si mesmo mais claro. E onde essa clareza deixa a Igreja? Deve ser à beira do cisma.

Kyrie Eleison.


            Traduzido por Cristoph Klug.

domingo, novembro 20, 2016

Comentários Eleison: Comunicado Excelente?

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXVIII (488) - (19 de novembro de 2016): 


COMUNICADO EXCELENTE?

 

Superiores colocando almofadas sob mentiras,

Fazem com que a não reação dos católicos não seja surpresa.

 

Em 31 de outubro, o Papa Francisco realizou na Suécia um encontro ecumênico com líderes luteranos para se preparar para o 500º aniversário da revolta de Lutero contra a Igreja Católica no próximo ano. Depois da reunião, o Papa assinou com o Presidente da Federação Mundial Luterana uma Declaração conjunta, a qual é outro escândalo absoluto, vindo como o faz do homem que se espera que seja o Vigário de Cristo. Em 2 de novembro, o Superior do Distrito Francês da Fraternidade Sacerdotal São Pio X emitiu em protesto um Comunicado para condenar a escandalosa Declaração. Grande parte do Comunicado é excelente, e deveria ser o que seria necessário por parte dos Superiores da Fraternidade para colocar um sério obstáculo no caminho da Fraternidade do Arcebispo, que vem sendo traída, em direção aos romanos neomodernistas, mas a conclusão é fraca, e assim o Comunicado pode produzir o efeito contrário.

O Pe. Bouchacourt abre seu Comunicado afirmando que o escândalo da Declaração Pró-Luterana do Papa é tal que ele "não pode ficar calado". E toda a passagem onde denuncia Lutero é irrepreensível. Ei-la:

Como podemos estar "profundamente agradecidos pelos dons espirituais e teológicos recebidos através da Reforma" (citação da Declaração conjunta), quando Lutero manifestou um ódio diabólico ao Soberano Pontífice, um desprezo blasfêmo pelo Santo Sacrifício da Missa, bem como uma recusa da Graça salvadora de Nosso Senhor Jesus Cristo? Ele também destruiu a doutrina da Eucaristia ao recusar a Transubstanciação, afastou as almas da Santíssima Virgem Maria e negou a existência do Purgatório. Não, o protestantismo não trouxe nada ao catolicismo! Ele arruinou  a unidade da cristandade, separou países inteiros da Igreja Católica, mergulhou as almas no erro, colocando sua salvação eterna em perigo. Nós, católicos, queremos que os protestantes retornem ao único redil de Cristo, que é a Igreja Católica, e oramos por essa intenção. Nestes dias, quando celebramos Todos os Santos, convocamos São Pio V, São Carlos Borromeu, Santo Inácio e São Pedro Canísio, que lutaram heroicamente contra a heresia protestante e salvaram a Igreja Católica.

           Mas, comparada com a denúncia, a conclusão do Pe. Bouchacourt é relativamente pobre:

         Convidamos os fiéis do Distrito Francês a orar e a fazer penitência pelo Soberano Pontífice, para que Nosso Senhor, de quem ele é Vigário, o preserve do erro e o mantenha na Verdade da qual ele é o guardião. Convido os sacerdotes do Distrito a celebrar uma Missa de reparação e a organizar uma Hora Santa diante do Santíssimo Sacramento para pedir perdão por esses escândalos e rogar a Nosso Senhor que acalme a tempestade que tem sacudido a Igreja há mais de meio século. Nossa Senhora Auxiliadora, salva a Igreja Católica e ora por nós!                         

P. Christian Bouchacourt, Superior do Distrito Francês da FSSPX.

 

Esta conclusão é piedosa e perfeitamente respeitosa para com o Papa Francisco, mas dá alguma ideia da gravidade da desorientação do Papa quando este elogia assim um dos maiores hereges anticristãos em toda a história da Igreja? É difícil imaginar que o P. Bouchacourt não tenha obtido de Dom Fellay permissão prévia para publicar seu Comunicado. Foi Dom Fellay quem não teve nenhum problema com a denúncia contra o Lutero de 500 anos atrás, mas insistiu em atenuar as críticas ao grande destruidor da Igreja aqui e agora? De qualquer modo, o Comunicado serve ao propósito de Dom Fellay de enganar os sacerdotes e leigos tradicionais e de fazê-los adormecer, ao sugerir que a prelatura pessoal supostamente iminente não impedirá que nenhum deles denuncie os escândalos papais, etc.

        Então, será que o Pe. Bouchacourt percebe que, como o seu predecessor, ele pode estar servindo, talvez mesmo contra sua própria vontade, à traição da Fraternidade? Sejamos "simples como as pombas", mas também "prudentes como as serpentes" (Mt X, 16).

 


Kyrie eleison.

terça-feira, novembro 15, 2016

Comentários Eleison: Clérigos Conscientes? - II

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXVII (487) – (12 de novembro de 2016): 


CLÉRIGOS CONSCIENTES? -  II


As palavras de mentes corruptas não se pode aproveitar,
Exceto para mentir, trair, seduzir, enganar.


Na semana passada, estes "Comentários" levantaram a questão de saber se o Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (SG, para abreviar) sabe o que está fazendo quando constantemente faz declarações contraditórias, ora a favor da Tradição Católica, ora em sintonia com os romanos e sua Revolução Conciliar. Na melhor das hipóteses, o SG seria apenas um liberal confuso e que causa confusão, dividido entre o catolicismo e o conciliarismo. Na pior das hipóteses, ele seria um verdadeiro lobo em pele de ovelha, usando palavras apenas como instrumentos políticos para permitir que os romanos absorvam a antiga Fraternidade Católica do Arcebispo Lefebvre na sua neoigreja conciliar. A Fé está em jogo. É importante que muitos sacerdotes e leigos vejam claramente se o SG é pastor ou um lobo, ou algo intermediário. Vejam na última edição da revista bimensal francesa "Sous la Bannière", uma resposta muito clara de um padre francês resistente, o Padre Olivier Rioult.

Ele começa com o comunicado do SG de 29 de junho emitido um pouco depois da reunião dos Superiores da FSSPX realizada perto de Écône, e cita frases que poderiam garantir a alguns católicos que a FSSPX estaria voltando para a via tradicional. Mas, diz o Pe. Rioult, o SG tem dito tantas vezes uma coisa e feito outra, que suas palavras não têm valor algum no que diz respeito à verdade. Elas são, como para inúmeros políticos modernos, apenas instrumentos de política por serem usados ​​ou abusados ​​conforme a ocasião o exija: neste caso, fazer com que a FSSPX se submeta às autoridades da Neoigreja sem que sequer perceba o que está acontecendo. A prova está nas ações do SG. Ações falam sempre mais alto do que palavras. O que o SG realmente quer dizer julga-se melhor por suas ações, que trabalham constantemente em favor da Roma conciliar.

Eis aqui algumas delas: a aceitação do “levantamento” das “excomunhões” em 2009; A aceitação da jurisdição oficial para confissões, e da jurisdição oficial para que a SG emita juízos de primeira instância em casos na FSSPX; A submissão à citação de nomes para ordenandos para o sacerdócio nos EUA e a aceitação da tolerância diocesana para ordenações sacerdotais na Alemanha. Indo no mesmo sentido, dentro da FSSPX está seu declínio progressivo, ou expulsão dos oponentes do SG que discordam de sua política romana, e a promoção de substitutos dóceis, frequentemente jovens relativamente impróprios para as responsabilidades mais pesadas. E o Pe. Rioult salienta que esta série de ações está claramente em sintonia com a declaração conjunta do SG e do número dois de Roma, o cardeal Müller, emitida logo após a reunião de ambos em setembro de 2014, segundo a qual eles "prosseguiriam por etapas... Tomando o tempo necessário para resolver as dificuldades... Com vista a alcançar a reconciliação plena".

Este procedimento passo a passo, diz o Pe. Rioult, tem a grande vantagem para ambas as partes de evitar qualquer momento inequívoco tal como a assinatura conjunta de um documento público que arriscaria alertar os seguidores da Tradição para o que estava acontecendo. Assim como estão, as contradições do SG criam confusão, e se elas são suficientemente "sutis" ou "delicadas", colocam os católicos para dormir, mais especificamente aqueles que não estão observando nem orando. Assim, as palavras do SG são simplesmente formuladas como uma cortina de fumaça para ocultar, especialmente dos sacerdotes SSPX, o que ele realmente está fazendo, porque se muitos deles estivessem acordados e conscientes, seria muito mais difícil para ele persuadir Roma de que poderia trazer Toda a Fraternidade para a Neogreja, que é o que Roma quer para pôr fim ao corpo principal de resistência à sua religião da Nova Ordem Mundial. Já em 2012, o SG teve a amarga experiência de montar tudo, como pensou, para liquidação, só para ver Roma recusar o acordo porque naquele momento seus três companheiros Bispos na FSSPX estavam todos contra ele, como Roma bem sabia. A Neoigreja precisa paralisar a Tradição, de uma vez por todas.

Rezem pelos sacerdotes da FSSPX, para que eles não se deixem enganar pela máfia de Menzingen, bloqueiem-na e, finalmente, se livrem dela.


Kyrie eleison.

domingo, novembro 06, 2016

Comentários Eleison: Clérigos Conscientes? - I

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXVI (486) - (5 de novembro de 2016): 

CLÉRIGOS CONSCIENTES? – I


Estarão conscientes os homens quando destroem o trabalho de Deus?
No início, ao menos, eles viam. Clérigos, tenham cuidado!

            Um leitor destes “Comentários” acaba de levantar uma pergunta que vem sendo feita muitas vezes, agora talvez com menos frequência, mas ainda de interesse: “O Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (SG, para abreviar) está consciente de como ele se contradiz a si mesmo? Em julho deste ano ele deu um chamado para uma nova Cruzada de Rosários “exclusivamente” para obter o Triunfo do Imaculado Coração através da Consagração da Rússia, enquanto mais recentemente ele afirmou que Roma quer que a FSSPX preencha importantes posições na Igreja para ajudá-la a superar o modernismo. A contradição é clara, porque os clérigos que atualmente ocupam posições em Roma são certamente opostos à Consagração tal como foi pedida por Nossa Senhora, e as razões para isso são profundas.

            Escrevam para o Padre Guy Castelain em Le Moulin du Pin, F53290 Beaumont-Pied-de-Boeuf, França, para uma cópia do excelente editorial em seu boletim da FSSPX deste mês, onde ele apresenta dez razões pelas quais o Vaticano II é o obstáculo principal para a Consagração da Rússia à Nossa Senhora. Muito resumidamente, a Consagração representa envolvimento politico contra neutralidade política, o Reinado de Cristo contra Seu destronamento, o catolicismo contra a Liberdade religiosa, o Papa contra a colegialidade, a única verdadeira religião contra o ecumenismo, o Imaculado Coração contra a glorificação da dignidade humana esquecendo a mácula ou pecado original, a única verdadeira Igreja contra a salvação em outras religiões, paz pelo Papa católico contra paz pelo “Espírito de Assis”, e assim por diante. Não é de admirar que o Papa Francisco tenha dito a Vladimir Putin quando este foi vê-lo e expressou um interesse na Consagração: “Nós não falamos sobre Fátima”!

            Agora, políticas humanas e políticos podem resolver por compromisso muitos dos choques humanos entre homem e homem, mas as dez razões do Padre Castelain provam que o choque entre Fátima e os conciliaristas não é outro que o choque entre a “antiga” religião de Roma, tão fresca como a eternidade, e a “nova” religião do Vaticano II, tão murcha como o pecado. Aqui está um desses choques entre Deus e o homem onde o compromisso político está fora de questão. Em 1973 Nossa Senhora não alertou em Akita, no Japão, que “…a Igreja estará cheia de agentes de compromisso…”? A pergunta para o SG então é: estará ele consciente de que ele mesmo é um “agente de compromisso”? Ele vê ou não vê que está promovendo uma contradição irreconciliável? Se ele o vê, então é um mentiroso, seja quando promove Fátima, seja quando protege os conciliaristas, ou quando faz ambos. Se, ao contrário, ele não vê, então ele está cego.

            Muitos católicos já estão convencidos de que seu ultimo chamado para uma Cruzada de Rosários é meramente uma manobra política para enganar seus seguidores mais tradicionais. Certamente em seu primeiro mandato como SG, muitas de suas palavras e ações indicam que ele então via o choque tão claramente como Dom Lefebvre o viu. Mas deve ter havido um ponto de inflexão desde então, quando, em vez de defender os interesses de Deus, ele também desejou servir aos interesses dos homens. Isto não se pode fazer (Gl 1, 10), mas como muitos de nós, ele queria ter seu bolo e comê-lo, e a natureza é especialista em disfarçar-se com graça, diz a Imitação de Cristo. Então deve haver seguido um tempo de transição durante o qual ele estava deliberadamente cego, mas se a cegueira voluntária continua por muito tempo, ela torna-se cegueira habitual, que é um castigo terrível de Deus. Seguramente entre 2006 e 2008 Nossa Senhora obteve para ele graças mais do que suficientes para ver o que ele estava fazendo, mas como os conciliaristas e Macbeth, em vez disso ele “não se retirou de seu mar de sangue” (Ato III, Cena 4) – o da Igreja. Como os conciliaristas em Roma, ele certamente precisa de nossas orações.

            Leitores, se vocês desejam ver claramente, rezem o Rosário, e se em nossos tempos terríveis vocês querem não deixar nunca de ver claramente, rezem todos os 15 Mistérios do Rosário todos os dias. A Mãe de Deus não pode falhar com vocês.


Kyrie eleison. 

sábado, outubro 29, 2016

Comentários Eleison: Desintegração

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXV (485) - (29 de outubro de 2016):

 DESINTEGRAÇÃO


É verdade, nós, homens, estamos hoje abatidos,        
Mas isso pode fazer brilhar para muitos uma coroa celestial.

As coisas desmoronam, o centro não sustenta,
A mera anarquia está solta no mundo.
Está solta a maré turva de sangue, e em toda parte,
Afoga-se o rito da inocência.
Falta aos melhores convicção, enquanto os piores,
Estão plenos de uma força apaixonada.

Estas famosas linhas de O Segundo Advento [The Second Coming], um poema escrito em 1919, no despertar da Primeira Guerra Mundial, pelo poeta anglo-irlandês W. B. Yeats (1865-1939), vêm à mente como uma possível explicação sobre como o movimento da resistência em relação à traição da Fraternidade Sacerdotal São Pio X de Dom Lefebvre pode ser tão forte no que diz respeito à verdade e ainda sim fraco em relação à unidade e números. O ano de 1919 foi há quase um século, e Yeats nem era católico nem estava particularmente preocupado com a condição da Igreja Católica, que parecia estar então florescendo. Mas os poetas podem ser visionários, e Yeats captou nessas linhas uma verdade essencial sobre a Civilização Ocidental tal como ela emergiu daquela guerra, que estava “apagando as luzes em toda a Europa” (Earl Grey): as nações ocidentais estavam desintegrando-se espiritualmente em um processo ininterrupto desde então.

Apesar disso, muitos católicos que hoje desejam que a Fé sobreviva se aborrecem pela aparente fraqueza da “Resistência”, dos próprios sacerdotes de Dom Lefebvre, particularmente pela óbvia traição de seus princípios da parte de seus presentes líderes, e procuram uma explicação. Alguns pensam que os sacerdotes da FSSPX não tomam uma posição pública contra a falsa conciliação da Tradição com o Vaticano II porque têm medo de serem expulsos da Fraternidade e ficarem sem ter onde dormir e o que comer. Mas os sacerdotes têm de saber que existem leigos que ficariam felizes em apoiá-los. Uma explicação mais profunda seria a de que os próprios sacerdotes têm medo de se desligarem da Fraternidade, que é tanto sua família humana quanto o ordenamento por meio do qual eles pertencem à Igreja estrutural. Mas, novamente, com uma fé forte o suficiente eles saberiam que a Providência pode suprir ambas as necessidades.

Por outro lado, se traçamos o cenário de 2012 da venda da Fraternidade no contexto da dupla desintegração das duas Guerras Mundiais, seguido pela, de longe, mais terrível desintegração da Igreja Católica no Vaticano II (1962-1965), então devemos admirar o feito heroico de Dom Lefebvre de recolher fragmentos voadores daquela explosão sem precedentes, mas não podemos nos surpreender se a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, por sua vez, pudesse explodir desde dentro, ou se os refugiados de sua desintegração pudessem ter dificuldade em reintegrar-se fora dela. As coisas têm-se desmantelado e, junto com elas, mentes e corações. Acho que não resta integridade ou integração suficientes nos corações e mentes para que nós possamos pensar em repetir o feito do Arcebispo. Estamos há quase 50 anos descendo ladeira abaixo desde 1970, quando o Arcebispo fundou a FSSPX.

Isso não significa que não haja nada por ser feito, mas que o que deve sê-lo tem de ser trabalhado mais a partir do ponto de vista de Deus e menos a partir do ponto de vista do homem. No fim do mundo, Deus permitirá que a Fé quase desapareça (Lc. XVIII, 8), mas ainda haverá algumas poucas almas crendo, esperando e amando. Em 2016, Ele está-nos dando uma amostra desse desaparecimento, mas as almas devem ser capazes de reconhecer que elas ainda têm considerável liberdade para acreditar, ter esperança e amar. E elas devem poder antever que mesmo o mais poderoso dos estados policiais não terá o poder de impedi-las disto. Além disso, quanto mais as mais duras circunstâncias são feitas para pesar sobre essa liberdade, tanto mais gloriosa no céu será a devoção perseverante de uma alma a Deus, a seu Divino Filho e à Virgem Maria, e tanto maiores serão seus méritos. Acima de tudo, maior será a imparável contribuição para o bem-estar da Igreja. De forma nenhuma está tudo perdido, e nunca poderá estar. A Igreja de Deus não é meramente uma questão humana.

Kyrie eleison.


Traduzido por Leticia Fantim.

segunda-feira, outubro 24, 2016

Comentários Eleison: Rações de Combate

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXIV (484) - (22 de outubro de 2016):   

RAÇÕES DE COMBATE


Quando instituições católicas estão a desmoronar,       
Os sacerdotes devem ajudar os lares aos golpes amparar.

            Em assuntos militares é normal que generais e soldados tenham do mesmo modo em mente mais da última Guerra do que da que eles estão agora lutando. Quem imaginou que haveria uma guerra de trincheiras antes da Primeira Guerra Mundial? E no entanto, na Segunda Guerra Mundial o desenvolvimento de tanques que ocorreu entre as guerras tornou as trincheiras obsoletas. Nos assuntos religiosos dá-se o mesmo. O século XXI não é mais o século XX. Agem decerto imprudentemente os católicos resistentes que desde 2012 estão esperando por algo como o estabelecimento e a expansão da Fraternidade Sacerdotal São Pio X do século passado. Por exemplo, de dois resistentes admiráveis de hoje vêm um lamento de ordem geral e outro de ordem particular, nenhum, talvez, plenamente sábio…

            O lamento de ordem geral é que a “Resistência” está desmoronando ao invés de fazer progressos. Estes “Comentários” frequentemente colocam a palavra “Resistência” entre aspas precisamente para sugerir que a resistência católica à consciliarização da FSSPX não é ainda algum tipo de organização, mas um movimento vago com um objetivo preciso, que é salvar a Fé católica; porém, ainda com pouca estrutura que a ajude a fazê-lo. Contudo, que os resistentes tenham ânimo, porque enquanto o homem propõe, Deus dispõe, de modo que o que pode parecer um fracasso humano pode não ser um fracasso da perspectiva do Deus Todo-Poderoso.

            Assim, na década de setenta Dom Lefebvre propôs reunir uma meia dúzia de bispos católicos a fim de erguer um obstáculo real no caminho dos conciliaristas que então destruíam a Igreja, mas Deus dispôs diferentemente. Nesse seu propósito o Arcebispo fracassaria, mas ao intentá-lo ele teve êxito em construir uma tesouraria mundial para manter seguros os tesouros da doutrina da Igreja, a Missa e o sacerdócio até que venham tempos melhores. De modo semelhante, há agora resistentes propondo construir um substituto para a ameaçada FSSPX, e a aparente fraqueza desta (ao menos até agora) pode sugerir que tal substituição em larga escala não esteja nos planos ou disposições do Deus Todo-Poderoso. Contudo, ao intentá-la, os resistentes estão assegurando (ao menos por hora) a sobrevivência da Fé católica, que é certamente uma disposição da Providência.

            O lamento de ordem particular é que se ao menos a “Resistência” tivesse escolas, muitos pais da FSSPX engrossariam as fileiras da “Resistência”, já que agora não podem fazê-lo porque seus filhos seriam imediatamente expulsos das escolas da FSSPX para as quais não há atualmente alternative decente. Mas, novamente, nós estamos lutando pela Fé no século XXI, não no século XX. De volta à década de oitenta, havia ainda suficientes pais, professores e sacerdotes católicos com ideias afins para formar esse quadro triangular no qual as crianças são quase que obrigadas a crescer no caminho da retidão. Mas, e hoje? Hoje se aprende de uma escola da FSSPX para meninos que têm estado em dificuldades sérias por causa de um surgimento de dentro de seus muros daquele pecado contra a natureza que clama ao Céu por vingança. Mas, que muros podem impedir adolescentes de adquirir conhecimento sobre aquela glorificação do pecado entre a massa de adultos homens de seu país, e de uma palavra nova inventada para condenar a condenação do novo vício – “homofobia”? E, desde quando os adolescentes não imitam seus adultos? De fato, como pode alguém fazer funcionar uma escola para meninos desde a invenção da internet, com acesso de bolso a ela? As instituições católicas ainda são possíveis?

            Na guerra religiosa dos dias de hoje, a ordem do dia é certamente a das rações de combate, que significa o estritamente necessário para a sobrevivência do soldado – aqui, no sentido de manter a Fé. Essa guerra deve ser vencida no lar, ou será perdida. Deus dá aos pais um poder natural para formar seus filhos, poder que ultrapassa, digamos, de cinco para dois o poder de deformá-los de qualquer instituição, mas apenas enquanto os pais o mantenham sob controle. Um pequeno leme pode dirigir um grande barco, mas não se o timoneiro deixá-lo solto. Se os pais soltam seus filhos, não podem depois culpar o mundo por dirigi-los para o Inferno. E se alguns pais vêm querendo que as escolas da FSSPX capacitem seus filhos para o mundo mais que para o Céu, não estaria aí uma das importantes causas do deslize da FSSPX?

Kyrie eleison.

domingo, outubro 16, 2016

Comentários Eleison: Angústia dos Católicos

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXIII (483) - (15 de outubro de 2016):   


ANGÚSTIA DOS CATÓLICOS


O que de mim e de você Nosso Senhor quer?
Que façamos o que podemos, e não o que não podemos fazer.

Um mundo que quer cada vez menos de Deus desgasta constantemente os católicos. Eis aqui outro lamento de um leitor:

            Pergunto-me: como é possível manter a Fé na situação geral em que se encontra a Igreja atualmente, com sua falta absoluta de pastores? Por alguns meses nós estivemos com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, período em que aprendemos sobre o valor da Tradição. Pesquisamos sobre a história do combate de Dom Lefebvre, e vimos também como ele vem sendo traído. Nós seguimos a “Resistência” através do site Non Possumus. Durante alguns meses nós fomos enganados pelo Pe. C., que a chama de “Desistência”. Ficamos desenganados e saímos de seu grupo. Agora nós estamos sem poder ir para a Fraternidade porque ali insistem em nos incluir em certas atividades, encontros de acólitos, e assim por diante. Pedem informações pessoais, e para descobrir coisas mandam-nos casais fortemente comprometidos com a Fraternidade. A maior parte do tempo nós passamos tentando não dizer coisas que poderiam nos impedir de receber a Santa Comunhão, como acontece com algumas pessoas que se posicionam contra o Papa Francisco ou a favor da “Resistência”. Agora estamos indo para a Igreja Católica Maronita, onde ao menos a Consagração é válida. Mas estamos desapontados por observar que eles aceitam o Vaticano II em geral, e por terem pedido minha permissão para que minhas filhas sirvam no altar. Quando eu recuso, eles dizem: “Todos nós somos filhos de Deus” e outras coisas parecidas para prevenir discriminação contra mulheres servindo no altar.

            Eu não tenho ninguém com quem confessar. Tenho uma luta contínua no trabalho, onde eu nunca deixo de falar de Deus e dos eventos atuais apesar de a escola ser laica e laicista; lá todas as pessoas são empregadas do Estado. Seguindo seu conselho de nos retirarmos para as sombras a fim de preparer-nos para a descida nas catacumbas, eu precavenho-me dos contatos sociais, mas é difícil lutar só. Estamos agora em contato com pessoas da TFP (Tradição, Família e Propriedade). Não tenho certeza de qual seja sua doutrina. Mas o que podemos fazer? O combate está pesando fortemente sobre mim. Em uma escola onde trabalho sei de um professor que é maçom. Apesar de ser uma escola do Estado, a orientação geral desta é religiosa, mas de um modo deísta. O que posso fazer? Neste país não resta nada, e não sabemos mais o que fazer.

Eu respondi a ele, entre outras coisas, que quando a Igreja está sendo levada pelo Caminho da Cruz para ser crucificada, tal como está acontecendo hoje, então o único modo de não ter de carregar uma lasca daquela Cruz é não ser um católico. Obviamente esse leitor quer permanecer católico a fim de que ele mesmo e sua família cheguem ao Céu. Então ele não deveria estar surpreso de encontrar a si mesmo sofrendo com lascas da Cruz de Nosso Senhor. Deveria preocupar-se de fato se estivesse se sentindo à vontade neste mundo que o rodeia.

            Quanto ao seu lugar de trabalho não há muito o que ele possa fazer. Os contatos sociais devem ser mantidos com oração, caridade e exemplo, porque nós, seres humanos, somos animais sociais, mas não devemos deixar nossa energia limitada e nossos recursos serem exauridos atirando pérolas aos porcos. Nosso Senhor diz-nos para não condenar se nós não queremos ser condenados, mas ele também nos diz para discernir entre os lobos e os verdadeiros pastores (Mt 7, 15). Então, um católico é obrigado a exercer seu melhor juízo sobre a variedade de sacerdotes e leigos que ele encontra no caos da Igreja de hoje. E, em todo caso, um pai de família deve hoje conduzir sua família nos cinco mistérios do Rosário rezados em família todas as noites (ou, melhor, todas as manhãs). Isto assegurará que Nossa Senhora proteja sua família como só ela pode fazê-lo, através de quaisquer dos acontecimentos graves que já estão diante de nós.

            Kyrie eleison.


segunda-feira, outubro 10, 2016

Comentários Eleison: Novamente, Sedevacantismo – II

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXII (482) - (8 de outubro de 2016):   


NOVAMENTE, SEDEVACANTISMO  –  II


Os sedevacantistas pretendem a Igreja salvar,
O fato é que a limites humanos estão eles a se escravizar.

Para qualquer alma católica que hoje compreende a gravidade da crise na Igreja e se aflige em relação a isto, a simplicidade do sedevacantismo, que rejeita como inválidos a Igreja e os papas do Vaticano II, pode tornar-se uma séria tentação. Pior, a aparente lógica dos argumentos dos eclesiavacantistas e dos sedevacantistas podem tornar esta tentação uma armadilha mental que pode, na pior das hipóteses, levar um católico a perder a sua fé completamente. É por isso que estes “Comentários” retornarão mais detalhadamente ao argumento principal dos muitos argumentos expostos por BpS no artigo de 1991, mencionado aqui semana passada. Eis, novamente, o tal argumento:

Premissa maior: a Igreja Católica é absolutamente infalível (tem a garantia do próprio Deus de que durará até o fim do mundo – cf. Mt. XXVIII,20). Premissa menor: Mas a Igreja Conciliar ou Igreja Novus Ordo, solapada pelo neomodernismo e pelo liberalismo, representa uma absoluta falibilidade. Conclusão: a Igreja Novus Ordo é absolutamente não católica e seus papas são absolutamente não papas. Em outras palavras, a Igreja é absolutamente branca enquanto a Neoigreja é absolutamente preta, de modo que a Igreja e a Neoigreja são absolutamente diferentes. Para mentes que gostam de pensar no preto e no branco sem algo entre eles, este argumento tem muito apelo. Mas para mentes que reconhecem que na vida real as coisas são frequentemente cinzas, ou uma mistura de preto e de branco (sem que o preto deixe de ser preto ou o branco deixe de ser branco), o argumento é muito absoluto para ser verdadeiro. Assim, na premissa maior há um exagero sobre a infalibilidade da Igreja, e na premissa menor há um exagero em relação à falibilidade da Neoigreja. A teoria pode ser absoluta, mas a realidade raramente o é. Vejamos a infalibilidade e a falibilidade conciliar como são na realidade.

Quanto à premissa maior, os sedevacantistas frequentemente exageram a infalibilidade da Igreja, assim como frequentemente exageram a infalibilidade do papa, porque é isto que precisam para suportar seu horror emocional em relação ao que se tornou a Igreja Católica a partir do Concílio. Mas, na realidade, assim como aquela infalibilidade não exclui grandes erros de alguns papas na história da Igreja e somente se aplica quando o papa está seja ordinariamente dizendo o que a Igreja sempre disse, seja extraordinariamente empregando todas as quatro condições da definição de 1870, também a infalibilidade da Igreja não exclui absolutamente algumas grandes falibilidades em certos momentos da história eclesiástica, tais como os triunfos do Islã, do Protestantismo ou do Anticristo (Lc. XVIII,8), senão que exclui absolutamente uma falibilidade total ou uma falha total (Mt. XXVIII, 20). Assim, a infalibilidade não é tão absoluta quanto BpS pretende que seja.  

Quanto à premissa menor, é verdade que a falibilidade do conciliarismo é consideravelmente mais grave do que aquela do Islã ou do Protestantismo, porque ataca a cabeça e o coração da Igreja em Roma, algo que estas últimas não fazem. Não obstante, mesmo meio século de conciliarismo (1965 a 2016) não fez a Igreja falhar totalmente. Por exemplo, Dom Lefebvre – e ele não estava sozinho – manteve a fé de 1970 a 1991, seus sucessores fizeram o mesmo, mais ou menos, de 1991 a 2012, e a combatida “Resistência" mantém-se na linha dele; e antes que a Igreja humanamente entre em colapso, num futuro não tão distante, sua infalibilidade inquestionavelmente será divinamente salva, antes do fim do mundo – Mt. XXIV, 21-22. Assim, o conciliarismo como uma falibilidade da Igreja também não é tão absoluto quanto BpS pretende que seja.

Desse modo, seus silogismos precisam ser reformulados – Premissa maior: a infalibilidade da Igreja não exclui grandes falhas, mas tão somente uma falibilidade total. Premissa menor: o Vaticano II foi uma grande, mas não total, falibilidade da Igreja (mesmo se os católicos conscientes de seu perigo tenham de evitá-la por completo, sob o risco de contaminação). Conclusão: a infalibilidade da Igreja não exclui o Vaticano II. Brevemente, a Igreja do próprio Deus é maior que toda a iniquidade do Demônio ou do homem, mesmo o Vaticano II. A falibilidade conciliar pode bem ser de uma gravidade sem precedente em toda a história da Igreja, mas a infalibilidade da Igreja e a infalibilidade dos papas vêm de Deus e não dos homens. Como liberais, os sedevacantistas estão pensando humanamente, todos humanamente demais.

Kyrie eleison.



Tradução de Leticia Fantin.